Êxtase

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- Mas eu não sou imortal? - perguntei confuso.

- Imortal você é. Agora inteligente nem tanto. Presta atenção, garoto - James olhou pra mim com aquele irritante ar de seriedade. - Você não vai morrer no sentido literal. É bem pior que isso.

Continuei sem entender, e meu pai me conhece bem o suficiente pra começar a explicar:

- Se a sua fêmea não corresponder a você, você vira um corpo seco.

Eu ouvia sussurros por aí.

Sussurros de seres condenados à castigos muito piores do que ter que matar inocentes e culpados e vidas e almas pelo resto da humanidade.

Meu pai deu um sorriso estranho, como quem diz viu só? Você é capaz de pensar.

- Exato. - murmurou em concordância. - Isso é só o início, quando a única coisa que te satisfaz é o eflúvio que emana dela. Mas, quando isso deixar de ser capaz de conter sua sede de sangue e vida, e sua parceira não lhe der por livre e espontânea vontade o sangue que corre nas veias, você vai pedir à Deus para que tire de você a dor que irá corroer cada centímetro do seu corpo.

Ele falava com tanta convicção... Eu até poderia ver a dor em seus olhos. Um leve traço, mas estava lá.

- Katrina não aceitou tão rápido, então.

- Não. - James olhou para o lado e um nuance de carranca se fez presente na face impassível.

- Mas eu não posso simplesmente cravar meus dentes nela e sugar até falar chega?

Meu pai ri descrente.

- Não. - cicia com arrogância. - Acredite Noah, se você não fazê-la aceitar o destino que foi programado à ela, ser sua fêmea, seu alimento e a garantia de que nosso sangue puro continuará, você vai definhar a tal ponto que não passará de um inseto rastejante pela eternidade. E eu te garanto, nem o mais profundo fosso do inferno vai ser pior do que a sede que você vai ter. E essa sede nunca vai passar, porque nada será suficiente ou eficaz.

Ele agiu como se tivesse me dado um conselho sobre como pegar garotas depois disso: me deu um sorriso enviesado, dois tapas nas costas e sumiu.

A rua estava deserta e me permiti sentar no meio do asfalto. Nesse horário os motoristas eram rápidos demais, temerosos por possíveis ladrões ou apressados para chegarem no conforto de suas casas.

Como se Lúcifer soubesse que eu precisava de um agrado depois desse infortúnio, ouço o som de pneus deslizarem no asfalto rápidos demais para a velocidade permitida. Uns dois minutos para o impacto, talvez menos.

Aproveito esse casto tempo para pensar sobre a bela jovem de olhar vazio. É, pelo menos feia ela não era. Mas de todo modo, eu já a detestava. É sua a total culpa do meu atual estado degradante.

Levo um leve susto ao sentir o forte impacto da lataria contra meu corpo. Como diabos fiquei tão distraído? Ouço arquejos e gritos histéricos de dentro do carro. Oh, dois homens e uma mulher.

- Caralho. Caralho caralho caralho, caralho. - o papagaio do grupo estava assustado.

- O que você fez, seu estúpido? - oh, a mulher se mostrou bem irritada.

- Ele tava no meio da rua, porra! Vamos dar o fora daqui. - o terceiro, o que julgo ser o motorista pelo teor da conversa, se pronúncia. Detecto medo exalando de seus poros.

- Tá maluco, Martin? Vai ser pior se não prestarmos socorro! - a voz dela falha, mostrando que ela finalmente estava entendendo a gravidade da situação.

Amor MoribundoOnde histórias criam vida. Descubra agora