Preocupação

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- Você o quê? - Catrina gritou num tom mais agudo que o habitual.

Noah apertou os olhos ao sentir seus tímpanos pulsarem em protesto. Ele não entendia a histeria da mãe, contudo não fazia questão de entender.

- Por que tá gritando? - perguntou simplesmente, sem nenhum tom de deboche ou ironia aparente.

Se arrependeu no mesmo instante, pois a vampira cresceu do outro lado do cômodo, marchando em sua direção com olhos vermelhos e veias enegrecidas saltadas na testa. Eram raras as vezes que sentia medo dela, e essa com certeza era uma delas.

- Você não tem cérebro, seu inútil? Está com vontade de conhecer o verdadeiro inferno? - ela berra de novo, segurando com força o maxilar de Noah o obrigando a encará-la.

- Mas o que eu fiz dem...

- Você só piorou a porra da situação! Foi isso o que você fez! Ou você acha o quê, que depois de aterrorizar a garota ela vai cair de amores por você? - vocifera Catrina ao soltar brutalmente o vampiro, andando irada em direção a janela.

- Mas nos livros a mocinha sempre cai de amores pelo vampiro misterioso. - tenta fazer graça e se retrai quando a vampira dá um urro inumano.

- Você quer mesmo comparar livros, histórias criadas por humanos com a vida real, Noah? Só uma otária carente e sedenta por conhecer a morte em forma de demônio vai querer tentar o desafio! Mas, caso você queira que eu refresque sua memória, os vampiros das histórias tem uma transformação mais amena. Você tem essa transformação amena, garoto?

Quando Noah fica em silêncio, sem uma resposta direta, Catrina ri em escárnio.

- Foi o que eu imaginei.

Noah estava tenso, ainda tentando digerir o surto da mãe. O que não passou despercebido por Catrina que, pensando ter exagerado demais, se sentou ao lado do filho e se pôs a massagear seus ombros. Num tom bem mais calmo, contou:

- Seu pai foi bem mais... Sútil. Primeiro aparecia aqui e ali. No começo não dei muita importância, mas naquela época as moças raramente podiam sair de casa e quando saiam, era pra ir em eventos, igreja e lugares do gênero. De repente seu pai já tinha se enfiado na minha casa e eu me vi em pânico. Quando comecei a realmente repará-lo, fiquei entre a vontade de conhecê-lo e a vontade de sumir de vista. Os olhos dele me davam medo. Seu jeito me dava medo.

Noah olhou admirado para a mãe enquanto a mesma tinha o olhar perdido em algum ponto na parede do quarto. Ela nunca falava muito sobre seu relacionamento com James e enquanto contava, os vestígios da vampira enfurecida de instantes atrás davam lugar para uma expressão nostálgica e neutra.

Ela parecia até uma humana, Noah pode reparar fascinado. Foram muito breves e escassos os momentos em que ela deixava de ser um ser raivoso para dar lugar a uma calmaria absoluta.

- Ele se tornou obsessivo. Não o culpo. - soltou uma risada estranha. - E pelo que sei, você também vai. E é por isso que tenho medo querido. Os livros dizem uma coisa, a vida real diz outra.

Ela deslizou a mão pelos cabelos dele e Noah como um gato gostando do afago deitou a cabeça em seu colo ronronando.

- As garotas de hoje em dia podem até idealizar isso mas, depois que conhecem a verdadeira criatura, vêem que os romances dos livros é bem melhor. Não nego que achei seu pai atraente, não. Mas é da natureza dos vampiros usarem e abusarem do seu poder envolvente. - ela foi abaixando o tom de voz, como que pensando em voz alta. - Alguns humanos conseguem ver além, conseguem farejar o perigo que estão se metendo. E comigo não foi diferente: seu pai me dava calafrios.

Amor MoribundoOnde histórias criam vida. Descubra agora