Estranho

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Eu suspirei ao soltá-la. Essa sensação de magnitude era tão indescritível que meu peito apertava.

- Noah... - ela sussurrou, tão doce...

- Shhh, mon amour. Eu vou cuidar de você agora. - coloquei seu cabelo de lado, beijando sua têmpora.

O prazer marcado em seus traços era tão intenso que me deixava louco. Tudo relacionado a Louise era assim, uma descarga de emoções.

Pendurei a bolsa de couro preto no ombro, para logo encaixar a cabeleira ruiva num braço, pegando a dobra dos joelhos com o outro. Eu não sabia que poderia sentir tanto prazer em carregar alguém, mas lá estava eu sorrindo​ de orelha a orelha por ter minha prometida em meus braços. Eu poderia chegar naquela espelunca que ela chama de casa em dois minutos, mas preferia ir andando devagar, desfrutando de cada décimo de segundo.

Era hilário a cara das poucas pessoas que passavam por nós dois na rua deserta.

- A senhorita está bem, senhor? - um segurança que fazia patrulha perguntou.

- Ela só exagerou no álcool. - sorri contente.

- E o senhor é algum parente ou amigo? - insistiu.

- Sou o homem dela. - disse assertivo e continuei andando.

Com audaciosa intrepidez ele ainda ousou chegar mais perto, inspecionando cada centímetro do rosto de Louise.

- Se você quiser nos acompanhar até a casa dela, sinta-se a vontade. É bom que você me ajuda com o jantar... - assobiei as palavras com o meu pior sorriso, arrancando do segurança um arquear de sombrancelha em descrença.

Ele saiu caminhando como se nós não fossemos dignos de sua atenção, o que em outro momento teria me feito lhe mostrar que não se deve virar as costas para um demônio jamais.

No entanto, ter provado de Louise foi tão intenso que eu poderia facilmente deixá-la colocar uma coleira em meu pescoço - rosnando como um cão feroz toda vez em que a rédea fosse puxada, e sendo o mais dócil dos animais quando recebesse uma recompensa.

Ao realizar milimetricamente o trajeto que pude ouvir em nosso primeiro confronto na portaria do prédio feito por Louise, me deparei com uma porta de cor marfim bastante desgastada. Algumas lascas de madeira pulavam pra fora da estrutura, e a tinta só existia em pontos esporádicos no rodapé da parede.

Com a visão periférica pude avistar uma ratazana correr para um extenso trecho escuro no chão e se esconder debaixo de uma espécie de balcão apoiado parcamente por um calço.

Lugar deplorável.

Pensei em pescar a chave de dentro da bolsa dela mas parei no meio do caminho ao prestar mais atenção nos sons a minha volta. Eu confiava demais na minha audição para duvidar da melodia animada e inconfundível de desenho animado emanando de detrás da porta.

Mudando os planos, apoiei com cuidado Louise em um braço e bati suavemente com o punho desocupado na madeira velha. Ouvi uma pequena movimentação no interior do apartamento e insisti com as batidas na porta novamente.

Mesmo os pequenos pés cobertos de meia pisando tão suavemente no assoalho não podiam impedir o ranger e estalido grotesco de madeira oca.

- Oi? - usei de um tom doce. - Tem alguém aí?

A criança prendeu o ar e pousou a mão na maçaneta, congelando ao segurar a chave pendurada no trinco.

- Eu tô com a Louise aqui. Acho que ela bebeu demais... A bolsa dela está aqui também, mas tá difícil segurar ela e tentar pegar a chave ao mesmo tempo - soltei uma risada. - Alguém?

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⏰ Última atualização: Apr 04, 2017 ⏰

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