A MORTE DE ANDREANNI
No dia quinze de dezembro, levantamos para ir à fábrica e a empresa. Andreanni estava bonito demais essa manhã, com uma camisa nova que eu havia dado no natal.
Quando chegamos à porta da fábrica, eu o beijei e disse que estava com muitos ciúmes do jeito que ele estava vestido.
Ele riu, beijou-me profundamente, e disse que a única mulher que existia para ele era eu.
Naquele instante senti uma batida tão forte no meu coração que quase fiquei sem respirar. Ele ainda brincou que ainda me fazia ficar sem respiração então estava bom.
Saí do carro e caminhei para a entrada e ainda abanei a mão para ele. Foi a última vez que o vi com vida.
No cruzamento da ponte que leva ao centro onde fica a empresa, um caminhão descendo desgovernado, empurrou o carro e o e todo o peso que carregava, caiu sobre o carro, esmagando tudo. Foi morte instantânea, de acordo com o laudo da Polícia e do Corpo de Bombeiros.
No momento que aconteceu o acidente, tive uma dor profunda no peito e desmaiei. Os funcionários colocaram-me no sofá e custaram para me fazer voltar à vida.
Quando acordei estavam a minha volta com uma garrafa de álcool me fazendo aspirar e passando nos meus pulsos.
Atordoada, eu dizia: O meu marido, aconteceu alguma coisa com ele!!! E repetia como um mantra, mas as pessoas não entendiam o que estava acontecendo.
Pedi que ligassem para empresa e o chamassem. Mas quem atendeu disse que ele não havia chegado.
Então compreendi que ele estava morto.
Passado uma meia hora, um policial chegou com a notícia na empresa e entrei em total desespero.
Pedi para ser levada para casa porque queria ficar com meus pequenos. Lá chegando liguei para o advogado da família, dr Quental, para que tomasse as providências necessárias.
Quando abracei os bebês, chorei muito. Eles me abraçavam e beijavam meu rosto com seus beijos molhados. Tão quietinhos que pareciam saber que eu estava sofrendo.
Somente mais tarde perguntaram pelo pai e a princípio fiquei sem ação. Depois me perguntaram se ele estava doente e disse que sim, com o coração partido.
Eles dormiram e tomei coragem e liguei para a babá de Andreas e me consultei com ela. Consuelo é uma senhora boníssima e mesmo aos prantos me disse que eu deveria contar a eles o que aconteceu e se ofereceu para fazer companhia para eles no dia seguinte.
Agradeci e aceitei, pois não tenho mais ninguém, além de Amélia para me ajudar.
As duas mulheres chegaram quase que imediatamente na minha casa. Aí desabei de vez.
Eram vinte e três horas quando consegui tomar um banho e tomar um café, pois não conseguia engolir mais nada.
Meia hora depois chegou o dr. Quental com a notícia de que o corpo seria liberado nas primeiras horas da manhã e seguiria para o cemitério, onde o sepultamente seria às 10 da manhã.
Ele havia dado a notícia para os pais, e os mesmos iriam diretamente para lá, na hora acordada.
Perguntando se eu precisava de algum favor e diante da minha negativa ele despediu-se, dizendo que viria me buscar quando tudo estivesse arrumado na capela mortuária.
Deitei abraçada aos meus bebês e tentei cochilar, mas sobressaltada, acordava toda hora e assim vi o dia clarear.
Eram 7 horas e os bebês acordaram. Eu os banhei, alimentei e mudei as roupinhas.
Angelina me abraçou e me perguntou pelo pai.
Sentei-me no sofá com os dois e contei a estória sobre o gatinho deles que sumiu e eles nunca mais viram. E disse que assim é a morte, não vemos nunca mais a pessoa.
Partiu-me o coração ver seus olhinhos rasos d'água, mas eu nada podia fazer. Não poderia nunca mentir para os meus filhos contando uma estória mentirosa.
Quando o dr. Quental chegou, estávamos arrumados e prontos para seguir. Ele informou que as crianças poderiam ver o rosto do pai, que estava visível na urna.
Agradeci e seguimos para o sepultamento.
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CORAÇÃO DE PEDRA
O sepultamente foi duro e silencioso. Não sei o que doeu mais, deixar o corpo de Andreas naquela sepultura fria ou ver as lágrimas nos rostinhos dos nossos bebês,
Eles ficaram ao longe com Amélia e Consuelo que se negou deixá-los, dizendo que nunca mais volta para casa dos Tramontana. Ela fala como se também não fôssemos, mas eu entendo perfeitamente o que ela quer dizer.
Quando saiu da mansão dos patrões, disse que passaria a tomar conta das crianças, pois são o que ficou de Andreas.
Adami e Ângela permaneceram mudos e sem nenhuma lágrima. Mas sei que estão doídos, mas não sabem ou não conseguem expressar.
Ainda assim não ergueram sequer os olhos para o restante da família.
Foram formados dois grandes grupos: as pessoas que eram nossos amigos e os outros amigos da família.
Todos com a mesma carranca, como se eu fosse culpada da morte de quem amo.
São pessoas para quem somente o dinheiro e a posição importam.
São pessoas com o coração duro como pedras. Mas essas têm mais sentimentos que elas.
Os Tramontana ficaram ainda mais sérios quando viram dr Quental ao nosso lado, demonstrando claramente suas intenções de agora em diante.
Durante toda a cerimônia foram tocados música e louvores alternados, como ele sempre gostou. Clássicos e cânticos religiosos. Apesar de não sermos freqüentadores habituais da igreja, mas sempre oramos em família, para sentirmos o conforto em todas as horas.
As palavras finais do pároco foram emocionantes e não esquecerei jamais.
Somente as pessoas mais chegadas aceitaram tomar um café em minha casa.
Saímos com o dr. Quental e rumamos para casa.
Lá chegando, fiquei um pouco em companhia dos outros e depois me despedi e me retirei com os meus bebês para descansar.
Dr. Quental e Consuelo ficaram fazendo sala, conversando e servindo aos amigos.
Antes que me retirasse o advogado comunicou que estaria no dia seguinte, às 9 h para a leitura do testamento e os outros procedimentos legais.
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Dormir era quase impossível, mas repousei um pouco e depois deixei os bebês dormirem mais.
Quando cheguei à sala, encontrei tudo arrumado e Consuelo fazendo crochê e vendo TV, sentada no sofá.
Reparei em algumas malas ao pé da escada e olhando, indaguei silenciosamente.
_Dona Milena, disse a mulher. Tomei a liberdade de trazer as minhas malas e aqui ficarei se a senhora me aceitar. Não posso voltar para a casa daqueles senhores. Sem a possibilidade de ver o meu menino ao menos de vez em quando, nada tenho para fazer lá.
Caso a senhora não me aceite, o dr Quental disse que pode arranjar um novo trabalho para mim.
Sentei-me ao lado dela e a abracei, em lágrimas.
_Minha querida, nossa casa é sua também e pode ficar aqui para sempre conosco.
Os meus bebês a amam, pois não ficam com ninguém além da babá e eu. Vai ser bom demais ter a sua companhia e sei que poderei trabalhar mais sossegada, pois eles estarão protegidos.
No final do corredor, há um quarto perfeito para você, Consuelo. Pode arrumar suas coisas com calma e depois venha para tomarmos um chá e conversarmos como será a nossa vida daqui para frente.
Abraçamo-nos carinhosamente e a senhora foi se acomodar.
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MAIS FORTE QUE O DIAMANTE
RomanceMAIS FORTE QUE O DIAMANTE PRÓLOGO Milena Trentino arrumando-se para a entrevista de trabalho. A primeira depois de quatro anos da morte de Andreanni Tramontana, seu marido e pai dos meus filhos, Angelina e Agnelo, de seis anos. A sua vida mudou com...