Capitulo 1 - O gigante em chamas

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Alana correu até chegar a beirada do prédio. A rua e seus infinitos fios emaranhados nos postes estendiam-se pouco abaixo de seus pés, como uma rede infinita e confusa. Um asfalto negro, agora molhado pela recente chuva, como um rio, refletia o brilho das estrelas e separava seu prédio com o outro prédio do outro lado da rua. A coisa estava a uns bons quarteirões de distância, mas mesmo assim Alana podia sentir seu cheiro se aproximando. Que merda era aquela? A média normal para esse tipo de encontro era de 100 ou mais anos de diferença. E só naquele mês já era o terceiro a vir a seu rastro. Por que cargas d'águas aqueles malditos estavam atrás dela? O que havia feito? Por que tanta bagunça? O que ela, vampira, tinha a oferecer a eles? Eram muitas perguntas para uma noite só.

Virou-se e olhou para o terraço do prédio. Qualquer mendigo faria a festa ali. Havia muita tranqueira jogada pelos moradores do prédio. Desde gaiolas velhas a moveis quebrados e inutilizados. Daria uma ótima feira a qualquer um deles. Alana riu consigo mesma ao pensar nisso, mas seu sorriso morreu no instante seguinte. Sentiu o cheiro mais intenso. Aquele cheiro de enxofre. Por que enxofre? De todos os cheiros no mundo, os demônios escolheram logo o enxofre. Narizes aguçados como o dela, podiam sentir esse cheiro a centenas de metros. Os humanos sentiriam também? Já tinha ouvido dizer que não. Que somente a sensação do demônio passar perto de um humano comum, já era suficiente para arrancar-lhe calafrios. Imagine se sentissem esse cheiro infernal. Riu internamente de novo. Literalmente infernal.

Voltou-se novamente para a beirada do prédio e olhou para as estrelas. As mesmas de centenas de anos atrás. As mesmas que iluminavam seus olhos azuis quando criança. Iluminavam agora um rosto perfeito moldado por longos cabelos ruivos e lisos. Nariz pequeno e muito bem encaixado no meio de um rosto delicado e jovem demais para conter toda a experiência que corria por detrás daquele olhar. Seus cabelos vermelhos, contrastavam perfeitamente com sua pele branca. Mais branca que o normal. Qualquer um que prestasse o mínimo de atenção veria que a palidez era mórbida. Mórbida até demais.

Um barulho atrás de si, desviou a atenção do olhar de Alana, fazendo-a virar-se novamente ao terraço do prédio, em direção à porta das escadas de acesso ao lugar. Uma cor rubra cobria as paredes internas da escada e se tornavam mais intensas a cada segundo. Ele havia achado Alana. Que inferno.

Logo após o pensamento, uma coisa de uns 2 metros e meio de altura irrompeu pela porta, quebrando concreto e trazendo a porta consigo, ao passar seus largos ombros pelo portal frágil. A criatura era curvada e dotada de pequenos chifres laterais curvados a frente em sua cabeça, quase entrando novamente em sua pele com suas pontas finas. Sua pele era uma mistura de couro com escamas vermelhas. Braços poderosos desciam ao lado do corpo quase tocando o chão. Seu corpo era sustentado por pequenas, mas grossas pernas. Ao invés de pés, a coisa era dotada patas de bode que estalavam conforme andava pelo terraço na direção de Alana.

- Quando é que irão me dar sossego? Estou ficando entediada! - Disse em tom irônico à criatura que respondeu com uma voz grave e rouca:

- E você não mais irá vangloriar-se de sua vida ridícula. O dia do seu juízo chegou. - Cada passo seu, era acompanhado de um jato de vapor que escapava por suas narinas de búfalo. Seus olhos eram apertados no rosto e emitiam um tom rubro fortíssimo como se as labaredas do inferno fossem vistas por trás de seus globos oculares, de cor negra.

Alana suspirou e mediu a criatura. Não havia como negar. Aquela ali em sua frente poderia até ter botado medo nela, se tivesse sido a primeira a ser enviada atrás dela. Já estava se acostumando com esses encontros. Mas não teve muito mais que pensar, a criatura como num rompante, partiu para cima com os punhos fechados. Alana, eximia lutadora, foi mais rápida. Invocando sua velocidade sobrenatural, pulou por cima da criatura que, desprevenida, passou direto. Caindo em suas costas, desferiu um chute com seu coturno de couro brilhante, bem no meio da coluna cervical da criatura, que se dobrou em dor urrando e xingando.

Asas de sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora