Capítulo 5 - Uma historia vermelha

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Assim que o padre trancou as portas da igreja as vinte horas daquela quarta-feira ainda não podia acreditar no que estava escondendo dentro de suas paredes que considerava tão protegidas pela bondade e pela sua fé. Sabia que em todos os lugares haviam pensamentos negativos rodeando e tentando a qualquer custo penetrar a bolha de luz do bem mas acreditar que um demônio, sim demônio, não havia outra palavra para descreve-la, havia entrado, ou melhor, invadido seu antro sagrado daquela maneira. Haviam perguntas demais rodeando os pensamentos de Padre Ezequiel naquele instante. Sua batina branca roçava o chão por onde andava. O pé calçado em uma bota feita de pano costurada a mão, afundava no tapete marrom que se estendia por entre as fileiras de bancos da igreja. Quando chegou próximo ao altar lembrou exatamente onde havia dado pela primeira vez com os olhos da pequena garota ruiva, que de pequena tinha apenas o porte físico, pois conseguia sentir uma energia fortíssima emanando daquele ser ruivo. Quando tirou os olhos do banco e foi retornar sua ida ao porão, caiu sentado tamanho o susto. A ruiva estava em pé no altar. de braços abertos e de costas para Ezequiel, porem a cena era hipnotizante. Um fino facho de luz entrava pela claraboia do alto do altar, inundando a nave da igreja com uma luz mórbida e fraca. Os longos cabelos cor de sangue, escorriam por suas costas e escondiam seu quadril. Seu sobretudo se fundia com as sombras no chão. Uma espada de aparência mortífera projetava-se para fora de seu casaco. De proporções infantis, seu corpo parecia desejar ser abraçado e cuidado de tão frágil que parecia ser. Mão pequenas e magras. Altura baixa. Ezequiel não enxergava mas sabia que o olhar de Alana estava na imagem de jesus pregado na cruz, que ficava sobre o altar na parede aos fundos da igreja. Ouvia um leve sibilar como se ela cantasse mas não conseguia entender o que era. Quando levantou-se, Alana baixou os braços e virou em sua direção.

- Boa noite Padre. Sua benção - E desceu com um joelho ao chão, deixando seus cabelos caírem por sua frente tampando-lhe o rosto.

Mais uma vez Ezequiel sentiu aquela energia perfurando-o. Aquela voz ribombando por todo o seu peito. Inflando seus pulmões. Fazendo-o entender que era mero brinquedo nas mãos daquele ser, de aparência frágil porem abissal. Tudo que conseguiu reunir no pensamento para dizer foi:

- Como conseguiu sair do porão? - Sem perceber, sua respiração estava descompassada do normal

- Acha mesmo que após tantos anos andando por essas ruas uma simples fechadura iria me segurar? padre, padre. Tão inocente. Vou me considerar benzida já que não disse nada - Levantou-se e veio próximo ao padre e docemente pegou em sua mão e a beijou

Ezequiel não soube como mas deixou que a pequena garota fizesse aquilo e arrependeu-se no instante seguinte. As mãos da ruiva eram pequenas e delicadas mas dotadas de uma força incrível. Soube dizer apenas pelo fato de como ela a segurou. Eram frias mas gentis. Seus lábios avermelhados e carnudos também tinha sua delicadeza mesmo naquela frieza pura. Os olhos. Que criatura fascinante. Podia-se contar centenas de historias apenas no mais simples vislumbre da luz daquele olhar. Eram profundos. Cheios de intrigas e conflitos internos. era decididos e se possível ainda mais frios do que aquela pele.

- Ainda tem medo de mim padre? mesmo eu prometendo não lhe fazer mal? - Disse Alana ainda segurando a mão do padre

- Ainda não sei o que sentir sobre você - Ezequiel puxou de forma suave sua mãos da garota e tornou-se a sentar - Ainda não consigo entender o que uma criatura como você faz aqui em minha igreja. o que significa isso tudo. Apesar de prometer não me ferir, sei que é uma criatura perigosa

- Não fale assim comigo padre. Sou apenas uma garotinha e posso me magoar facilmente. Não iria me querer ver brava. Posso cancelar meu acordo de não te machucar se me insultar. Irei entender que o que sente é medo e não quer assumir. Mas entendo. Ha tantos humanos por ai que se dizem apaixonados por vampiros mas quando aparecemos se cagam de medo. 

Asas de sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora