Alana estava escondida atrás de um carro, vendo o bêbado procurando-a.
- Estou aqui seu idiota! - Levantando a garrafa de bebida para que o moribundo do maltrapilho enxergasse sua mão.
Adorava brincar com os bêbados e roubar-lhes suas bebidas. Assim, podia desfrutar do álcool que tanto repudiava em seu pai. O bêbado deu a volta no carro, enxergando o corpo da garota. Shorts jeans brancos. Uma blusinha, estrategicamente mostrando seu umbigo. Seis apertados e sem proteção, exibiam sua aureola através do tecido que pouco escondia sua curvas. O bêbado deliciou-se no que via. Alana conhecia aquele olhar e sentiu ódio. Arremessou a garrafa, que em cheio, acertou a cabeça do pobre coitado esfomeado. Cacos de vidro voaram para todas as direções enquanto seu corpo tombava molemente no meio fio. Aquele cheiro chegou ao seu nariz. Cheiro de ferrugem. De ferro. Aproximou-se e chutou o corpo do homem que não se mexeu.
- Morra seu maldito e que nunca, nunca mais, olhe para uma mulher dessa forma. Não sou teu brinquedo.
Puxou no bolso de trás das costas um maço de cigarro. Levou o cilindro de fumo à boca e com um isqueiro zippo, tentou acende-lo mas o fluído havia acabado.
- Merda. Por que quando a gente precisa, nunca tem?
- Use este.
Alana não soube de onde aquilo viera. Uma mão masculina estendia-lhe um isqueiro ornamentado com pedras brilhantes e coloridas. Olhou ao redor. A noite parecia engolfa-la mais. Sentia-se segura.Sentia-se sombra. Não conseguia sequer encontrar o corpo do homem caído em algum canto ali.
- Eu insisto. - Insistiu a voz. Alana seguiu das mãos ao peito e do peito ao rosto do homem que lhe estendia o isqueiro. Era lindo. De traços fortes. Magro. Um sorriso de canto adornava-lhe a boca. Algo desprendia de seus olhos como se todas as estrelas estivessem ali reunidas.
- Na minha terra, é falta de educação recusar um ato de cavalheirismo.
Alana inclinou-se e com o polegar, girou e a chama se acendeu, iluminando os olhos azuis da garota que foram percebidos pelos olhos negros do homem.
- Belos olhos. O azul mais intenso que já vi. E já vi muitos azuis, posso garantir.
Só então Alana prestou mais atenção ao homem em sua frente parado. Trajava um terno preto perfeitamente alinhado com suas proporções. Era alto. Robusto e de uma voz sedosa e misteriosa. Sentia vontade de ouvir mais coisas serem ditas por aquela voz. Ele exalava uma calma sem igual. Andando com aquelas roupas, aquela hora da noite e naquela tranquilidade, só poderia ser um traficante da região.
- Agradeço o fogo e o elogio. - Puxou a fumaça com toda sua força, deixando a nicotina atravessar seu pulmão. - Com licença. - Deu as costas e começou a caminhar.
- Toda.
Alana achou que ele iria brigar ou insistir em algo a mais, mas ficou ali, parado no mesmo lugar. Havia algo muito estranho naquele homem. Preferiu ignora-lo. A noite trazia muitos seres estranhos e aquele ali seria apenas mais um. Tragou outra vez seu cigarro mas a sensação de que a noite estava mais escura que o normal, estava começando a incomodar-lhe. Chegou a praça do bairro e arriscou uma ultima virada de pescoço. O homem não estava mais lá. Deveria ter ido embora. Sorriu. Fazia tempo que não sentia medo. Que imbecilidade. Ela com medo. Virou para seguir seu caminho e estacou. O homem estava ali, sentado no banco mais próximo. Com as pernas cruzadas e os braços estendidos pelo encosto do banco de madeira da praça. Sorria. Um sorriso lindo demais. Alana não soube o que fazer.
- Está com medo, Alana?
Alana estremeceu. Sentir aquela voz dizendo seu nome, de forma tão conhecida, sem hesitação, tirou-lhe o rumo.
- Quem é você? - A pergunta saiu de sua boca mais rápido do que foi capaz de pensa-la.
- Digamos que eu sou alguém que você gostaria de conhecer um dia. Perdoe-me minha falta de modéstia mas me conheço e conheço você muito mais do que poderia adivinhar, mas é muito deselegante de minha parte não convida-la a sentar-se e muito deselegante de sua parte, não me oferecer um cigarro.
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Asas de sangue
VampiriA triste historia de uma alma vazia. Um corpo carregado de magoas e cicatrizes do tempo. Seu destino irá tomar um rumo jamais esperado. Céu, terra e inferno. Qual a relação entre esses planos? Alana irá descobrir cada um deles dentro de si mesma no...