Capítulo 3 - Vislumbres de um passado

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Alana não sabia o que dizer ou fazer. Mais uma vez um demônio estava ali. Caminhando em sua direção. Decidido acabar com sua não vida. Em arrancar-lhe o couro e servir aos porcos do inferno.

- Alana, alana, Alana. Tão bela moça e com um destino tão cruel. Por que Deus nos abandonou assim?

O demônio havia parado no meio da rua e encarava-lhe. Se não fosse tão bizarra criatura, aquilo poderia ser uma conversa entre amigos pelo tom de voz amigável do demônio azulado.

Alana levantou-se e sentiu dor. Invocou seu poder. A dor começou a diminuir. Assim como sua reserva de sangue. Por sorte, estava bem abastecida. A tranquilidade da criatura era preocupante. Os outros estavam temerosos. Decididos a mata-la, mas com algum receio de enfrenta-la. Já esse monstrengo azul, não. Olhava-a como se fosse uma criança caída no chão ao cair de bicicleta. Como se fosse algo inútil e que estava em seu caminho que logo seria arrancado.

- Por que estão atrás de mim? O que fiz?

- Tem certeza que não sabe garota? – respondeu o demônio

- Se eu soubesse, não estaria tão perplexa em ver vocês no meu encalço toda noite, não concorda?

O Demônio riu. Vapor branco saiu de suas narinas alongadas. Seus olhos eram negros. Mais negros que a noite. Brilhavam de tanta escuridão. A noite parecia um tom cinza comparado a eles. Mesmo medonho, a criatura era fascinante. Será que os humanos ao espiarem pelas janelas, veriam tal criatura?

-  Responda criatura. O que devo a vocês? Assim me deixarão em paz

- Sua alma é nossa. – respondeu o demônio como um professor respondendo uma pergunta feita por um aluno na escola – sua alma nos pertence, mas enquanto seu corpo estiver vivo, não conseguimos usar sua alma para nossos propósitos. Subestimamos vocês. Subestimamos mesmo sabendo de quem você é cria. Não imaginávamos que carregasse tanto dele consigo.

Essas palavras acertaram Alana com mais força do que qualquer golpe ou porrada que já tenha recebido na vida. Sua dor na costela havia sumido. Mas algo em seu intimo ribombou. Estremeceu. Não era possível. Após tantos anos ouvir sobre isso novamente

- O que... o que quer dizer com isso? Você conhece meu criador? – as palavras saíram infantis, mas ouvir sobre isso era tudo que mais queria. Muito estranho ouvir pelas bocas de uma criatura dos infernos. Não era possível. Era um pesadelo que estava vivenciando. Um sonho maluco de algum psicopata. Algum conto de terror escrito a base de muito álcool e drogas. Não conseguia entender e a cada segundo ficava mais confusa.

O demônio riu novamente. Alana sentiu raiva. Queria respostas

- Me responda seu filho da puta! – Gritou alana enquanto pulava em direção ao demônio sentindo vontade de trucida-lo em milhões de pedaços mas a criatura desapareceu como num passe de magica deixando Alana na escuridão da noite. O riso ecoou na rua, parecendo vir de todas as direções. Alana girou no mesmo lugar procurando os olhos negros mas nada encontrava. O riso cessou. Isso era sinal de perigo. O cheiro ainda era fortíssimo. Então a criatura ainda estava por perto. Espreitando. Alana sentia-se uma presa indefesa sem saber pra onde ir. Pra onde correr. Sentiu medo. Como há anos não havia sentido. Começou a ofegar. Estava sem folego. Seu peito subia e descia com o ar entrando e saindo. Seus cabelos dançavam com o vento e o balançar do seu corpo procurando a criatura. O riso voltou a preencher a noite. Será que as pessoas que dormiam nas casas podiam ouvir isso? O que pensaria um pobre cretino a olhar pela janela e ver uma bela ruiva girando no meio da rua sozinha? Mais uma drogada como tantas outras pela cidade. Uma doida que fugiu de algum hospício. Alguém ligaria para a policia? A policia estaria nesse momento virando alguma esquina próxima? O que esse maldito demônio sabia sobre ela? Saberia tanto assim sobre ele ou estaria blefando?

Asas de sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora