"Oh Flor, se tu cantas essa canção
Todo o meu medo se vai pro vão
Pra longe, longe que eu não quero ir
Mas deixe seu rastro pólen, flor pra eu poder te seguir."
- Versos de "Bela flor", Maria Gadú.Há 33 músicas antes...
Essa história não começa exatamente aqui. Ela é fruto de mais textos e contextos.
Em primeiro momento, perderia seu tempo acompanhando um processo inútil que nos levaria ao ponto "X" do enredo, onde o que importa se inicia. Em segundo, nada que seja relevante deixará de ser dito, tudo em seu tempo apropriado.
Segredos é um possível sinônimo que se aplicaria a Pétala. Uma mulher de atitude e de mistério. Atitude, pois possui um característico dom de se mostrar mais em ação do quem em palavras. Mistério, pois sempre guarda alguma coisa para si. Não deixando transparecer que guarda, se guarda, por que ou mesmo sobre o que. Uma pessoa que concebe e defende utopias, planos irrealizáveis.
Conhecemo-nos pelo impacto de nossas convergências, porém talvez tenha se progredido pelo arfar de nossas divergências. Conviver com pessoas que a todo o momento concordava com minha opinião, por hora, deixava as coisas sem gosto e sabor. Não continha graça. Quando a "não harmonização" do ambiente acontecia em decorrência de nossas discordâncias, por mais incrível que possa parecer, acabávamos nos entendendo de um modo mais verdadeiro.
Nesse ínterim, a desavença que concebeu essa pequena aventura ocorreu em uma noite qualquer, quando nada de muito inédito se esperava para acontecer.
***
- Cravo, me diga uma coisa. O que acha de viajar conosco para o Amazonas? - Disse Pétala enquanto desenhava em um caderno que usava para elaborar suas roupas. Vez ou outra ela fazia perguntas desconexas do contexto e de nossa vida cotidiana um tanto monótona, que consistia em qualquer atividade que fosse possível se realizar dentro de nossa velha e conhecida cidade.
Pétala e eu conversávamos com frequência, sempre abertos para dialogar desde assuntos mais íntimos a assuntos sociais. Não obstante, isso não significava que mantínhamos um e outro informado de todos os assuntos relevantes. Algumas coisas ditas assim acabavam por fazermos tentar ver onde e que deixamos passar despercebido. Bee e Pétala se conheceram pela internet e se tornaram amigas logo assim que ela veio morar no Rio. Até por onde eu sabia, eram boas amigas, mas o relacionamento de Bee com Benjamim as fez afastar um pouco. A mudança estava em ter deixado de lado o jeito de garotas adolescentes, para mulheres adultas e maduras. O que não deixava todo o seu espírito aventureiro de lado.
- "Conosco". - Não era uma pergunta, muito menos estava surpreso. Obviamente, eu era o último a saber de algo novamente.
- Bee irá fazer uma viagem com Benjamim de um mês. - Respondeu como se estivesse logo ali, na esquina de casa.
- Amazonas!?
Pensar em fazer uma viagem por tanto tempo era, para mim, uma utopia. 1) Eu tinha meu emprego e todas as complicações que ele exigia, estava em meio o período letivo, sendo totalmente inviável viajar tendo todo um trabalho em andamento; 2) eu não tinha nenhum aparato financeiro para sustentar a ideia de ficar por lá durante um mês inteiro; 3) eu não estava preparado psicologicamente para essa jornada que nem tinha um propósito convincente. Pétala resolveria o item dois com poucas palavras: "O convite foi feito pelos pais de Bee, eles propuseram pagar as passagens e ficaremos na casa de sua família." Infelizmente, ou felizmente - não se sabe com clareza -, a família de Bee era muito rica, e eles tinham uma casa na qual era usada durante as viagens de visita ao Amazonas. O item três foi considerado desprezível. Logo, restava o primeiro.
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A voz da floresta
FantasiaPor Cravo, Fantástico... Essa é uma palavra impassível de entrar no meu vocabulário. Uma palavra, por vezes, intrigante. O dicionário Aurélio traz três significados para ela: 1) Só existe na imaginação; 2) Extraordinário; e 3) Falso. Contudo, dois d...