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A noite anterior foi tomada por angústia. Coline não falara muito com Ralph, nem o beijara quando voltou do trabalho. Falou que estava enjoada e queria dormir. Ambos foram para a cama, mas apenas Ralph dormiu.

A foto do garoto encontrado não saía dos pensamentos de Coline. Até mesmo quando ela finalmente caiu no sono, a imagem causava tormento em seus sonhos. Tormentos bem piores. Coline passou a ver o rosto de Marvel naquele pequeno corpo dilacerado.

Ela não iria esperar até que aquilo deixasse de ser um pesadelo. Durante a manhã teve a certeza que deveria agir rápido.

As notícias daquele dia divulgavam um bilhete encontrado na perícia. Algo que ninguém tinha notado. O garoto, que se chamava Robert, tinha em sua mão um pequeno papel com um endereço, era provável, colocado pelo sequestrador. Entretanto as palavras naquele bilhete não eram escritas com uma tinta qualquer, mas com o próprio sangue do garoto.

Os investigadores foram até o lugar indicado. Era a casa dos pais de Robert, fizeram uma busca minuciosa, mas nada parecia fora do normal. Consideraram aquilo como uma anedota. O jornal dizia: O ASSASSINO TEM SENSO DE HUMOR.

Coline não conseguia acreditar que eles fossem desconsiderar a única pista. Mas foi o que aconteceu. Então, ela decidiu, iria no lugar mencionado. Contudo, já entardecia quando a decisão foi tomada. Ralph já voltava para casa. Mas ela não poderia esperar mais... ou passaria mais uma noite sufocante.

Coline esperou até que Ralph dormisse e saiu com cuidado.

Caminhou até o bairro descrito no jornal, procurando a casa que aparecia nas fotos. Era quase meia noite e fazia muito frio. Ela não entraria na casa, mas queria observar o local. Porém, para sua decepção, antes que pudesse chegar à porta, foi surpreendida por uma sequência de sons estridentes que logo reconheceu como tiros. O som vinha de dentro da casa. Coline rapidamente escondeu-se atrás de uma árvore, seu coração estava acelerado, não conseguia ver muito dali, mas poucos minutos depois notou a silhueta de um homem saindo da casa. O sujeito pegou uma motocicleta que estava do outro lado da rua e sumiu rua à dentro.

Coline ficou escondida até que seus batimentos cardíacos voltassem ao normal. Agora não se ouvia ruído algum. Olhando mais uma vez para a casa, conteve-se para não entrar. Precisava ligar para a polícia, mas ninguém poderia saber que ela estivera ali. Silenciosamente, voltou para sua casa e fez uma denúncia anônima, falou apenas que ouvira um barulho naquela região. Por fim foi para a cama, esperando que o sol subisse logo e a imprensa acordasse com mais um furo de reportagem. Em algumas horas, ela sabia, toda a mídia estamparia detalhes sobre o assassinato dos pais do garoto morto.

Horas depois Ralph acordou, o dia amanhecia.

Antes Que Seja TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora