[PSICOPATA]
Agora sentado do lado de fora do galpão, a quilômetros do centro de Sinne, que assumira como casa há quase seis anos, tomado por um de seus momentos de lucidez, começava a se arrepender de ter deixado aquele bilhete na porta de Coline. Ele deveria apenas ter seguido o plano. Mas qual era o plano?
Projetara tudo há tanto tempo. Nem lembra mais por que está fazendo isso tudo. Todo esse trabalho para quê? Poderia abandonar tudo e deixar que eles se virassem, contudo sabia que não podia ser descoberto. Agora, Coline já sabia quem ele era, era questão de tempo até que o encontrassem, precisava agir rápido.
Mas por que Ingrid teve que chegar tão perto? Aquilo não estava no plano, ele teve que matá-la. Foi divertido, mas Coline não iria perdoá-lo. Ele se deixou levar.
"Ruiva dos infernos!", resmungou.
Matar Ingrid era o de menos, embora agora eles estivessem mais perto de encontrá-lo. Mas o pior foi ele deixar aquele bilhete para Coli. Onde ele estava com a cabeça?
Ele tinha um esquema para não ser descoberto, então por que não seguiu o plano? Talvez ele quisesse ser descoberto. Se não, por que toda aquela obsessão por Coline? Sabia que parecia um louco rondando a casa dela. E se alguém o visse ali? Em sua última visita à casa, Coline o vira pela vidraça, ele tinha certeza, mas era impossível que ela o identificasse. Desde a última vez que estiveram juntos ele mudara muito, o cabelo estava grande, na metade das costas, geralmente ele o usava preso em um coque e seus músculos ficaram bem mais definidos com todos os esforços que fazia todos os dias naquele galpão no meio da selva.
A verdade era que não sabia mais o sentido de tudo aquilo. Diferente do que todos estavam pensando ele não era um psicopata. Anos atrás quando planejara tudo, ele apenas queria manter a cidade em equilíbrio.
De dentro do galpão um barulho alcançou os seus ouvidos. Calvin e Joana, os gêmeos de cinco anos, estavam brigando de novo. Ele teria que separá-los ou eles poderiam se matar.
Era incrível o que ele fizera com aquele lugar. Quem via de fora, enxergava apenas um galpão em ruínas, abandonado, mas por dentro era perfeitamente habitável. O espaço era amplo, ocupado apenas pelas oito camas que restaram, um fogão que eles quase não utilizavam, uma estante de livros e um grande armário que parecia conter tudo necessário para sobrevivência, algumas lamparinas estavam espalhadas pelo local.
O mais espantoso foi como todos se adaptaram tão rápido à vida na selva, quase não recorrendo ao galpão.