II

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As duas pararam em frente a um sobrado, bem arquitetado, alicerçado sobre blocos, as paredes avermelhadas de barro. No segundo andar havia duas janelas abertas a ventilação e claridade com pesadas cortinas brancas. Da calçada de onde as garotas observavam o prédio, brotavam três degraus que iam beijar o pé da grande porta quadrada de madeira. Daila, voltando-se para Pricila, pronunciou-se depois de olhar a casa de alto a baixo:

-Por que estamos aqui mesmo?

-Aulas de etiqueta. -Respondeu Pricila sem desviar os olhos da casa.

-Não entendo! Pra quê isso?- Questionou Daila fitando o prédio.

-Mamãe disse que é necessário para que eu possa "frequentar as festividades da cidade" com ela.

-Como se você se importasse com essas coisas. - Daila e Pricila se entreolharam. - E eu vim aqui com você pra ficar de olho nos belos rapazes que são obrigados a fazer isso. Foi isso mesmo que eu disse?

-Com todas as palavras. E então, vamos? -Convidou Pricila apontando a entrada com o queixo.

-Tenho outra opção? Se tiver me diga antes que eu entre. -Daila inclinou a cabeça para o lado fazendo uma carinha triste.

Ambas riram e Pricila tomou a iniciativa de subir os degraus acompanhada pela amiga. Pararam diante da porta, bateram e minutos após ela foi aberta. Em seguida apareceu uma senhora baixa, branca, de olhos miúdos: uma chinesa. Ela usava um vestido verde de cetim, tradicionalmente comprido, com as mangas largas. Estampa chinesa. Os lisos cabelos pretos, presos conforme a cultura oriental. Os olhos pareciam tristonhos, mas nos lábios um sorriso simpático.

A senhora cumprimentou as garotas com um "Boa tarde" e foi respondida com o mesmo. Feita as devidas apresentações, convidou as moças para entrarem. Obedecendo o comando as garotas adentraram a casa e a porta foi fechada.

Horas se passaram e a porta se abriu novamente, rapazes e moças surgiam animados retirando-se do recinto, Seguiam em todas as direções. Alguns rapazes acompanhavam as moças educadamente. Pricila e Daila foram umas das últimas a sair:

-Até que não foi tão ruim assim. -Comentava Daila espairecendo.

-Pra mim foi péssimo. -Discordou Pricila irritada revirando os olhos.

-Não sei por que você diz isso, muitos dos garotos queriam ser seu parceiro de aula. -Após descer os degraus iniciaram o caminho contrário.

-Eles não queriam ser meus parceiros de aula. Escute o que muitos deles falavam: "Olá Patrícia! Hoje veio desacompanhada? Será que posso tentar substituir sua companhia faltosa"? -Pricila pronunciava as palavras com fúria. Seus punhos estavam cerrados, as sombrancelhas franzidas.

-Que estupidez! Achar que você é a Patrícia. -Daila compreendia a raiva da amiga. Desde criança separara muito bem a personalidade delas. Gostava mais de Pricila, por se identificar com ela e nunca conseguiu confundi-las. A amiga era exatamente o oposto da irmã gêmea exceto pela inteligência que pareciam partilhar.

-Sentia tanta raiva que nem desfazia esse engano. -A raiva de Pricila foi se esvairando até restar apenas indignação e depois resignação. -Os dispensava na hora e confesso que fazia isso com muita arrogância.

-Mas a culpa é sua está vendo. Agiu como sua irmã. Só ela seria tão grosseira assim. Se não gosta de ser confundida então não se deixe confundir. Além do mais você quase não sai de casa e é muito discreta ao andar na rua. Vai ver nem sabem que Patrícia tem uma irmã, ainda mais gêmea.

-Odeio quando você tem toda razão.

Enquanto conversavam, um rapaz alto, branco, ruivo de olhos azuis, vestido elegantemente com um terno cinza, se aproximou e interrompeu o conversa:

Lágrimas de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora