Na volta do caminho da fármacia estava tudo tranquilo, a paz reinava nas ruas do bairro, depois da leve chuva da manhã que deixara um rastro de frio e o céu nublado. Poucas pessoas surgiam apressadas, em busca do aconchego de seus lares. Pricila andava pela calçada úmida cabisbaixa e pensativa. A poucos instantes um homem a havia abordado no caminho de ida. Perguntara se "aquele homem esquisito" não a havia machucado muito.
Ela sabia que deveria ter arrancado mais informações. Era certo que ele falava de sua irmã Patrícia, talvez ele lhe revelaria o que acontecera, mas no momento ela só podia pensar em sair do caminho daquele homem que falava coisa com coisa.
Ela seguia distraída, afundada em seus pensamentos, o olhar fixo no chão, a cabeça nas nuvens. Inesperadamente um par de sapatos lhe aparece a frente trazendo-a de volta a realidade. Confusa e receosa ela começou a erguer a cabeça, vendo assim, a calça social preta e mais acima o peito nú do corpo. Uma ousadia e desrespeito da parte daquele homem, mas isso não era uma questão a ser considerada naquele momento.
Temerosa, ela ainda se atreveu a erguer o olhar, e contemplou o rosto mais lindo que jamais vira. Ele era pálido, cabelos pretos, compridos e grossos, discretamente penteados pra trás. Os olhos verdes tomavam um tom vermelho-sangue, a boca arroxeada abria-se lentamente mostrando duas presas pontudas brancas e compridas.
Pricila estremeceu ao ver aqueles dentes, assustada, só conseguia pensar no pálido, bem sinistro e estranho, mas tremendamente lindo. Hipnotizada com aqueles olhos penetrantes ela se encontrava mergulhada num vácuo profundo. O mecher despercebido dos lábios e uma palavra significativa quebraram todo o encanto:
-Olá Patrícia!-Dizia aquele estranho homem. -Vejo que conseguiu se livra do veneno. Mas agora não há saída, ninguém vai poder ajudá-la. Vai se tornar um monstro nojento como eu. Não foi assim que você disse, meu bem? -Ele enfatizou o "meu bem" com desdém.
Antes que ela pudesse argumentar os braços daquele homem a envolveram, apertando-a contra seu peito. Seu coração disparou. Enquanto ela tentava resistir inutilmente, ele levou a mão na sua nuca, e puxando-lhe o pescoço conseguiu fincar suas presas nele. Pricila arregalou os olhos, queria gritar de dor e desespero, mas seus lábios travaram-se. Estava confusa e com medo. Lágrimas começaram a brotar, mas ela não permitiria nenhum choro.
Enquanto ele sugava-lhe a vida, ela começou a se sentir fraca, corpo mole. O pacote de rémedios que ela segurava com as duas mãos entre ela e o peito dele foi se afrouxando entre seus dedos. E já não tendo mais forças para suster o braço, o soltou, deixando o pacote cair no chão.
Ele não parava de drenar-lhe grande quantidade de sangue, roubando o que em hipótese alguma era seu. Uma linha escarlate escapou dentre a ferida e escorreu pelo pescoço, as vistas dela começaram a escurecer, estava perdendo os sentidos. Ainda assim ela pode sentir ele roçando-lhe o sangue escorrido até pouco acima dos seios. Então, beijou-lhe os lábios sujando-os com o próprio sangue dela. O pouco que sobrou-lhe nas veias sendo envenenado; depois desse seu deleite só restava retirar-se. Sem nem um pouco de compaixão ou remorso ele a soltou e foi-se.
Ela sentiu o impacto do seu corpo caindo no chão e o viu partir sem sequer olhar pra trás. Então perdeu os sentidos. Mesmo sem contato com seu corpo físico ela continuava emitindo pensamentos.
††††††††††††††††É assim que as coisas são.... É assim que um animal indefeso se sente nas mãos de um poderoso predador. ...Ele roubou quase toda minha vida sem pedir, sem dizer nada.
Não, na verdade não era eu quem ele queria, e sim a minha irmã, Patrícia. O namorado pálido. Isso explica muita coisa. Daila mais uma vez tinha razão, eu deveria tê-lo conhecido antes. Ele realmente é lindo. Patrícia sempre teve bom gosto, mas por que chamá-lo de monstro nojento? Acho que nunca vou saber...
Queria poder dizer a minha mãe que sinto muito. Ela fez planos e acho que isso não estava neles. Espero que Patrícia se recupere, seria terrível mamãe perder as duas filhas assim.
...Por incrível que pareça eu não queria terminar minha vida com raiva de Patrícia.
Como eu queria poder ter levado flores ao túmulo de meu pai. Por que eu não fiz isso constantemente?...
Nossa! Me bateu um sono, acho que vou dormir...
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Lágrimas de Sangue
Vampir"Cada vez que Pricila ouvia os estrondos esforçava-se para correr mais rápido, como se estivesse fugindo de algo. E de fato fugia, era a fome, sim a fome a perseguia e ela tentava lutar contra. Ela sabia que jamais venceria, mesmo assim tentava. Só...