A Mulher Lagarto

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O Doutor não aparecia naquela casa há um bom tempo, e mesmo Ciel e Sebastian já tinham estado ali. Apenas Rose era uma desconhecida naquele lugar.

Aparentemente, ela era também a única que se assustou quando a porta se abriu e Strax, o mordomo (a quem o Doutor chamava de "batata"), veio lhes atender. Na verdade, batata era uma boa descrição de Strax.

- Veio para se render e ser morto pela honra do império Sontarian?

- Não, Strax. Na verdade eu preciso conversar com Madame Vastra. Ela está?

- Sim, senhor. Venha comigo.

Pelo impacto do susto que levou, Rose foi deixada para trás, de boca aberta, observando Strax. A última coisa que esperava era encontrar um alienígena trabalhando como mordomo em pleno século XIX. Ainda mais o mordomo que estava agora na sua frente, falando com ela:

- Posso levar seu capacete, senhorita?

- Eu.. não estou de capacete..

- Então o que seria essa coisa amarela e longa na sua cabeça?

- Isso é o meu cabelo.

- Cabelo! Humanos e essa mania de ter pelos na cabeça!.. tem certeza de que não é um capacete?

- Sim..

- Humm - resmungou Strax - seria um péssimo capacete.. - e se afastou, dando espaço para que Rose entrasse na casa, onde a conduziu até os aposentos de Vastra, onde estavam o Doutor, Ciel e Sebastian, acompanhados de duas moças: a primeira delas, e certamente a mais jovem, era uma empregada, delicada de postura e aparência, pele pálida e cabelos castanhos, e era bonita. Estava servindo chá em algumas xícaras enquanto sua patroa, uma mulher mais alta, permanecia sentada em uma poltrona, com uma postura muito correta, suas mãos pousadas em seu colo, e o rosto coberto por um veu. Assim que notaram a presença de Rose, começaram a conversa com a tal Vastra, que foi quem quebrou o silêncio:

- Visitas são sempre agradaveis, Doutor. Mas confesso que estou surpresa por ter vindo acompanhado de Lorde Phantomhive e seu mordomo. Suponho que seja uma visita a trabalho?

- Infelizmente sim, Madame - respondeu Ciel - como consultora da Scotland Yard a senhora deve estar a par dos crimes de Jack, o Estripador.

- Obviamente.

- Há poucos dias atrás Vossa Majestade contratou meus serviços para ajudar-lhe com o caso, que, embora eu deteste dizer, ainda é muito obscuro para mim. No entanto, houve mais uma vítima muito recentemente, e o Doutor acha que você pode ajudar.

- E como você acha que eu poderia ajudá-los, Doutor?

O Doutor respirou fundo e foi bem direto em suas palavras:

- Irene Adler está morta.

Mesmo com o rosto coberto, Rose tinha certeza de que o rosto da mulher tinha perdido toda a sua cor. Levantou a cabeça e ficou encarando o Doutor, completamente paralisada, e o silêncio tomou conta mais uma vez da sala de madame Vastra.

- A Mulher? A Mulher está morta? - perguntou Vastra, mais como uma confirmação para si mesma do que uma pergunta, na verdade.

- Ela foi encontrada em minha casa - respondeu Ciel - Mas existem diferenças entre ela e as outras vítimas que me confundiram completamente.

Lentamente se recuperando do choque, Vastra perguntou:

- Que diferenças?

- Ela estava com o sangue completamente drenado, embora houvesse sangue pela cozinha, do qual duvidamos muito que pertença a ela. E além de órgãos, foi roubado seu fêmur. Não soubemos como ela ou o assassino foram parar lá, nem temos um motivo. As vítimas eram prostitutas e Irene era uma senhora muito respeitada pela nossa sociedade. Segundo o Doutor, a senhora a conhecia, até participou de uma investigação contra ela.

- Um membro da realeza me visitou há pouco tempo dizendo que esta mulher tinha fotos que podiam compromete-lo, porém se recusava a negociar com ele. Eu fui contratada para descobrir a localização da fotografia.. mas não saiu tudo conforme o planejado.

- Não - completou o Doutor - Irene percebeu sua armadilha e fugiu com Godfrey, deixando para trás uma foto. Ela te enganou.

- Sim. Obrigada por me lembrar de um fracasso como este, Doutor.

- Por quê você considera isso um fracasso, Vastra? Você cumpriu o que prometeu ao seu cliente, e Irene foi embora. Mas isto é o que te incomoda, não é? Ela feriu seu orgulho..

Foi então que Rose passou a compreender melhor as coisas: eles tinham ido, literalmente, visitar Sherlock Holmes. Aquela mulher, quem quer que fosse, era o verdadeiro detetive consultor, em carne e osso, embora Rose, depois de se deparar com Strax, duvidasse de que ela fosse exatamente um alguém. Qualquer que fosse o caso, ela se sentia obviamente ofendida.

- Calma senhora - disse Rose, finalmente entrando na conversa - ele não quis te ofender, ele é assim mesmo!

- E quem seria você, menina?

- Rose Tyler. Amiga do Doutor - ao esclarecer qual era a relação entre ela e o Doutor, tanto este quanto Rose coraram levemente, coisa que não passou despercebida por Sebastian e Ciel, que sorriram cinicamente.

- Bom, "amiga do Doutor" - estava óbvio até para Vastra - O fato é que Irene está morta. Mais do que vocês imaginam, isso pode ajudar. Não, não me entendam mal: a cada assassinato, o assassino se revela ainda mais, já que fugiu do padrão.

- E o que você supõe que isso revele? - Questionou Ciel.

- Para isso, eu preciso ver a vítima e o local do crime, com a ajuda de vocês.

Rose, distraída, foi até atrás do sofá onde Ciel, Sebastian e o Doutor e começou a fazer carinho no cabelo castanho deste. Ela demorou um pouco para se dar conta de que todos estavam olhando para eles, e quando percebeu, se afastou, constrangida. E quando olhou novamente para Vastra, soube que seus instintos estavam certos: não era exatamente um alguém, era uma mistura de mulher e lagarto, com pele verde e olhos azuis, que tinham um olhar muito vivo. Não se assustaria se descobrisse que a empregada também é alguma espécie de alienígena.

Visitar o corpo de Irene Norton no necrotério não serviu de muita coisa, a não ser para que Vastra confirmasse as informações do Doutor e de Ciel. Terminada esta etapa, voltaram até a mansão Phantomhive onde o Doutor novamente analisava o local com a chave de fenda sônica, Sebastian olhava o local de cima a baixo e respirava fundo, muito concentrado, e Vastra parecia imitá-lo, com a única diferença de que, em um certo ponto, Vastra colocou a língua de lagarto para fora e trouxe de volta para a boca (se Rose iria ver aquilo por mais tempo, então estava necessitanto urgentemente de uma cerveja), e Ciel respondia perguntas, enquanto Rose apenas observava.

De repente, ao mesmo tempo, Vastra e Sebastian olharam um para o outro. Eles tinham descoberto algo.

- Doutor - começou Vastra.

- O que é? - Perguntou ele, interessado.

- Onde você estacionou sua TARDIS?

- A TARDIS?!

- Você não pousou ela aqui, pousou?

- Não, por que eu faria isso?

- Porque nós temos uma teoria muito curiosa de como Jack entrou na mansão...

- E como ele entrou aqui?

- Com uma Tardis.

Um Doutor, um conde e um mordomoOnde histórias criam vida. Descubra agora