- Mais um dia... - pensou um cansado James, enquanto checava as cartas que haviam chegado para ele. Era estranho que as cartas dele chegassem no hotel onde ele estava e não em sua casa, mas os Jogadores Profissionais tem suas regalias.
- Conta, conta, catálogo, Casta, carta...
Era difícil James receber cartas, ainda mais do remetente em questão. Mas, como ainda não havia tomado café da manhã, ele decidiu abrir a carta só depois, enquanto dava as outras cartas um destino cruel: a lata de lixo. Enquanto olhava pela janela do quarto e admirava os flocos de neve caindo lentamente numa imensidão de branco que forrava o chão, ele pensava no nome que lera no envelope. Não era comum ele encontrar pensamentos felizes em sua cabeça cansada e cheia, mas se havia algo que ele poderia lembrar com muito carinho era dos momentos que havia passado com ela.
- É, acho que eu só vou abrir essa carta a noite...
Ele tinha falado em voz alta apenas para confirmar aquilo para ele mesmo, Ele não tinha idéia do que poderia estar escrito naquela carta, mas ele sabia que não poderia ser nada de bom. Há muito tempo ele deixou de ser uma pessoa com valores familiares ou com um simples laço afetivo que fosse: ele era um Jogador, afinal de contas. Uma vez Jogador, sempre... amaldiçoado. O manto negro que cobria um Jogador era sua sentença praticamente para a vida inteira, Raríssimos foram os Jogadores que conseguiram reverter essa condição, e todos os que ele já ouvira falar já estavam mortos há muito tempo. A vida de Jogador era de riquezas e conquistas, mas também era uma vida de renúncia a única coisa que lhe faria falta: afetividade.
Não a toa Jogadores só poderiam ser filhos de outros Jogadores, Apenas estes poderiam proteger a criança até que ela tivesse idade suficiente para entender sua posição e aprender a fugir de qualquer ameça que pudesse aparecer. Isso acontecia lá pelos doze anos, Mas para James não foi assim. James viu seu pai morrer em sua frente quando tinha apenas sete anos, e para não ser morto também, conseguiu utilizar seus poderes a força, o que lhe causou um impacto muito grande mas também, muito tempo depois, lhe rendeu o título de \"Maior Jogador da Casta de Ouros de Todos os Tempos\", título que lhe foi relembrado naquela manhã mesmo por Patrick,
Mas o tempo passou, e com ele muitas coisas mudaram, Porém, para James infelizmente uma coisa não mudou: ele continuava sozinho, e assim deveria permanecer até o fim de tudo,
- Ah, que saco...
Mais um barulho no saco plástico da lixeira do quarto. Ele acabara de jogar fora a carta de Meg. Não poderia fazer mais aquilo. Não poderia suportar mais uma morte a suas costas, lhe batendo no ombro ou lhe visitando em seus pensamentos sombrios, ainda mais se fosse Meg... Ele não aguentaria.
Lá fora, o vento parecia ter ficado mais forte, pois os flocos começavam a passar na horizontal, mais rápidos e com mais força, como que reprovando a atitude de James. Ele simplesmente respondeu:
- Não a Meg. Não.
Ele respondeu em voz alta novamente, apenas para de novo confirmar para ele que era necessária sua atitude. Ele não perderia mais ninguém, por essa razão que estava morto para todos os seus amigos. Mas ele não conseguiu deixar Meg para trás. E isso estava consumindo-o por dentro, pouco a pouco tirando o pouco de sanidade que lhe restava.
- Café da manhã! - disse Desmond todo animado, enquanto entrava no quarto. James sentiu aquela pontada de nervosismo e monotonia que sempre sentia ao perceber que precisaria voltar a ensinar, mas deu graças a Deus que ele entrara no quarto, pois seus pensamentos já lhe doíam.
- Muito bom. Agora vejamos o que você trouxe...
James já estava com a cabeça em outro lugar, pensando no que tinha feito para ter um aprendiz que não aprendia nada...
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O Jogador
Science FictionVocê já ouviu falar de pessoas que nunca foram roubadas? Que nunca foram atingidas pela queda de alguma coisa do céu ou derrubaram um copo de refrigerante em toda a sua vida? Cuidado, talvez elas possam controlar o tempo…