Capítulo 4 - "Afinal, quantas pessoas você conhece, não é mesmo?"

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A neve caía pesadamente pelas ruas de Almaz. O inverno ali era muito rigoroso, mas a Primavera e o Verão eram melhores. Chegavam a pelo menos zero graus no sol. James nunca gostara dessa piada, e menos ainda de andar pelo meio da neve. Ele sendo alto, com um físico mais rústico e moreno era praticamente uma mancha de café no meio de uma toalha alvíssima. Já Desmond, se não fosse por suas roupas, talvez fosse invisível na neve. Ele era quase albino de tão branco que era, a não ser por seu cabelo que era loiro, mas também chegando muito perto do branco. Era um pouco menor do que James, mas seu físico era tão forte quanto o dele. Na verdade o seu físico ficara igual ao de James simplesmente porque James o treinou, porque senão ele continuaria sendo a vareta de bambu que era quando James o pegou para treinar.

James mal podia ver a hora de sair daquele mar branco pelo qual estavam passando. O pior é que a tempestade estava dando sinais de que ia aumentar, e ele não via um só lugar aberto no qual pudessem parar para esperar. 

Desmond pegou isso no ar (ele já conseguia ler o seu professor muito bem), por isso perguntou a James:

- Está procurando um lugar para esperarmos a tempestade diminuir de novo?

- Não Desmond, estou procurando um bazar para comprar uma lembrancinha para a Dama e... - James parou por aí. Sua memória era uma das piores que ele já tinha visto, pois acabara de se lembrar que Desmond não entendia sarcasmo muito bem.

- Então vamos parar naquela ali, acho que deve ter alguma coisa para comer também. - Desmond ainda não havia comido nada desde o café da manhã frustrado, mas não era isso que incomodava James. Ele olhou para onde Desmond apontava e viu a pequena porta de uma lojinha que ficava em um beco. Não era um grande lugar, mas saía fumaça de sua chaminé, o que já indicava que era quente e que deveria haver uma xícara de Angande fervente - Angande era uma bebida típica da cidade, que consistia de um chá muito doce e fraco, mas numa temperatura elevadíssima - diziam que se não fosse tomado em alta temperatura, poderia trazer má sorte a quem tomou. "Hum, Desmond sempre tomou esse negócio depois de esfriar e sua sorte nunca mudou... mais um ditado besta, só isso". Mas, ainda sim, James preferia o chá da maneira tradicional, pois o sabor era muito melhor (entenda-se "mais doce"), e também porque ele lhe lembrava sua terra natal, onde havia uma bebida parecida com aquela, de nome Kokande, mas que ao invés de ser fraca era forte, sendo todo o resto igual. "Sendo quente já vai estar de bom tamanho", pensou James, enquanto abaixava a cabeça para passar pela porta e entrar no bazar.

Era um bazar humilde até, para a riqueza da cidade. Era um pouco pequeno, mas aconchegante. O calor que vinha da lareira acesa banhava todo o local, e de todos os cantos parecia vir calor também. Com certeza, era uma das criações dos Plamers, famosos em cidades frias como Almaz, que construíam elaborados labirintos de canos que poderiam irrigar de calor um local inteiro uniformemente. A Central possuía um gigantesco labirinto destes, que alimentava todo o prédio, e que contava com ajustes em todos os cômodos, para a permissão de entrada de mais ou menos calor. James apenas os deixava no máximo e pronto, e ainda sim sentia um pouco de frio dentro da Central. Aliás, eles precisavem mesmo ir para lá, resolver de uma vez por todas a situação de Desmond, que aliás estava encantado com o bazar.

- Uau, olha que coisas interessantes! Com certeza você vai achar o que você quer aqui, James.

James apenas olhou para ele. Ia dizer alguma coisa que seria um alívio para ele, mas que seria basicamente uma ofensa muito pesada para Desmond, mas não teve tempo, já que Desmond tinha muita sorte. Neste exato momento, o dono da vendinha entrou, e perguntou em um tom calmo e alegre:

- Bom dia senhores, o que desejam?

Desmond olhou para James, que se viu sem saída, já que ficara no centro das atenções depois disso. Meio sem saber o que dizer, James começou a inventar qualquer coisa.

O JogadorOnde histórias criam vida. Descubra agora