Capítulo 7 - Encurralado como um hamster

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Desmond ainda não acreditava no que James acabara de dizer.

- Quer dizer que eu me esforcei tanto, me machuquei, sofri e quase morri para roubar aquele negócio, e no final ele era falso?!!

James olhou ressabiado para Desmond. Nunca tinha visto ele se exaltar daquela maneira.

- Acalme-se, Desmond...

- Me acalmar? Como me acalmar? Você me diz que o artefato que eu roubei é falso, que a investigação que eu fiz não valeu nada e que todo o sofrimento e noites em claro que eu passei não fizeram sentido nenhum e você me diz para ficar calmo?

James apenas olhou por um momento para Desmond, e por um momento teve pena dele. Só por um momento.

- ACALME-SE, DESMOND!

A chamada de atenção de James fez Desmond cair sentado em sua cadeira. Ele estava se exaltando, sim, mas James não precisava ter postado sua voz contra ele. Aquele era um golpe poderoso, afinal de contas.

- Tá bom, James, não precisava me atacar desse jeito, também.

- Que te atacar, eu nem cheguei a cinco por cento da força do meu golpe. Se eu tivesse te atacado mesmo, você estaria desmaiado no chão. – “E eu estaria sem voz...”, pensou James. Postar a voz era um golpe e tanto, mas usá-lo era um veneno contra a própria voz, que poderia sumir pelo uso excessivo do golpe. Por essa razão, James poucas vezes utilizara esse método, e também porque dificilmente você consegue utilizá-lo, já que a pessoa precisa estar a sua frente e bem perto.

- Deixe-me continuar lhe explicando, Desmond, posso? – James perguntou educadamente, mas com uma cara de quem não estava pedindo permissão, mas sim apenas se certificando de que a atenção necessária seria direcionada ao assunto. Desmond, meio assustado, apenas balançou a cabeça afirmativamente.

- Desmond, nada do que você fez foi em vão. O trabalho de investigação, as horas de tocaia, as noites em claro e todos os seus esforços são parte da sua prova final.

- É mesmo? – perguntou um interrogativo Desmond,

- Mas é claro! Porque você acha que eu te fiz pesquisar tudo e trabalhar como se fosse uma investigação séria, mesmo você sendo um aprendiz e não podendo fazer essas coisas, hein? – Um aprendiz só poderia trabalhar em missões ao lado de um Jogador, assim como fazer as investigações e os relatórios necessários. – A surpresa foi você ter resolvido ir sozinho pegar o artefato, e ainda por cima ter conseguido, mesmo com outro Jogador atrás do mesmo artefato, e ainda por cima ser o Valete de Copas. Isso só mostra o quão bem você... – Desmond estufou o peito e se encheu de orgulho pensando “James vai me elogiar!!! Viva!!! Ele nunca me elogiou!!!” - ... foi treinado por mim.

O ego de Desmond caiu por terra, assim como seu orgulho.

- Então, agradeça a Deus que você está vivo, e que conseguiu passar uma boa impressão ao seu professor para se tornar um Jogador Oficial, está bem?

- Sim... – Disse um desanimado Desmond. James já esperava essa reação. Ele percebera quando Desmond estava se enchendo de orgulho quando ele ia elogiá-lo e resolveu mudar a direção da conversa. “Ser orgulhoso demais pode ser um problema para qualquer Jogador”, pensou James. “O Jogador fica orgulhoso demais e confia demais em seus poderes e habilidades, e acaba se dando mal...”. James já tinha visto isso inúmeras vezes. Era perigoso ser muito confiante, em qualquer coisa que se fizesse. Esse era outro dos mantras de James.

- James?

- Humm? – Murmurou um pensativo James.

- O ensopado está pronto.

- Ah, que beleza. Vamos comer! – Disse James.

Ele estava esperando essa hora para saber se a receita que copiara valeria à pena ou não. Desmond estando ali era outro trunfo melhor ainda, já que James não era muito bom cozinhando. Já Desmond tinha uma mão muito boa para cozinhar, e conseguia seguir receitas habilmente, coisa que James não tinha paciência para fazer.

James pegou seu prato e despejou um pouco do ensopado nele. O suave vapor que subiu entrou pelas narinas de James, que de cara já reconheceu que estava muito próximo do que ele tomara na venda do Senhor Nicea. Ele pegou a colher e estava para pegar uma porção, quando...

- James, você está aí? Abra a porta!

James reconheceu de imediato a voz: Meg. Era lógico que ela saberia onde ele estaria, pois ele sempre ocupava o mesmo quarto quando vinha para a Central. O que ele não imaginava é que ela seria liberada tão cedo pelo Rei e pela Dama. Desmond se levantou e estava indo em direção a porta, quando James jogou a colher em sua cabeça.

- Ai, porque você jogou isso em mim, James?

- Você estava indo abrir a porta? – Sussurrou um paciente James.

- Sim, é clar... ai! – James acabara de dar um tapa na nuca de Desmond.

- Pense bem antes de fazer as coisas Desmond.

- James, abra a porta, sou eu, preciso conversar com você.

- Porque não podemos abrir a porta, James? É a Meg, deve querer conversar depois do tempo que passamos for... ai! – Novamente, James.

- Eu não posso conversar com ela agora, Desmond, você não entendeu? Ela vai perguntar da carta, que eu ainda nem tive a chance de ler...

- James, eu sei que você está aí, dá pra sentir o cheiro de ensopado que Desmond está fazendo.

- Como ela sabe que fui eu? – Perguntou Desmond.

- É porque está cheirando bem. Agora me escuta, vamos fazer o seguinte...

Meg já estava ficando impaciente com a demora para abrir a porta. Estava preparando um feitiço para derrubar a porta quando...

- Oi, Meg! Como você está? – Apareceu na porta escancarada um sorridente Desmond. – Você está procurando o James, ele não... ai!

Desmond acabara de levar um tapa na nuca da própria Meg.

- Você acabou de deixar ele fugir, não é mesmo?

- Não, claro que não, Meg, eu nunca... – Desmond começou a encolher diante do olhar raivoso de Meg. - ...tá bom, mas para minha defesa, fugir foi idéia dele, eu não tive nada a ver com isso, eu queria abrir a porta desde o começ... ai, ai, ai, ai, tá machucando... – Meg estava pendurada na orelha de Desmond, torcendo e puxando para baixo, fazendo ele praticamente se deitar no chão.

- Da próxima vez, você segura ele, entendeu? Porque senão vai ser pior que só a orelha...

- Tá bom, tá bom, tá bom, agora me solta, por favor...

Meg soltou a orelha de Desmond, e virou-se nos calcanhares dizendo:

- Sorte sua que eu tenho uma vaga idéia de pra onde ele vai. Até mais, Desmond, boa sorte amanhã.

- Tchau, Meg... – respondeu um doído Desmond. Como Meg poderia ter percebido que James saiu do quarto enquanto ele abria escancaradamente a porta?

- Acho que a razão foi eu ter escancarado a porta mesmo... acho que eu sou inocente demais nesses planos de James...

Uma sombra atravessava rapidamente o pátio interno da escola da Central. James andava apressado, mesmo no frio que fazia e que ele não agüentava de jeito nenhum.

- Mas é melhor do que enfrentar a Meg. Antes de qualquer coisa eu tenho que arranjar um lugar tranqüilo para ler essa carta...

James chegara agora ao portão lateral da escola. Em um movimento, o portão se abriu e James tomou o caminho da rua, com o portão se fechando a suas costas. Sua cabeça estava a mil, e ele estava tão absorto que não percebeu a sombra mais silenciosa ainda andando em seu encalço. Poderia ser problema...?

O JogadorOnde histórias criam vida. Descubra agora