Sinto minhas roupas encharcadas, inclusive minhas roupas íntimas, da mochila também pinga água e do meu rosto está escorrendo a pouca maquiagem que estou usando. Os cabelos molhados estão embaraçados e estou com uma expressão de surpresa, o que é natural em se tratando de alguém que acabou de sofrer o caso mais clássico de pegadinha da turma.
Olho para a turma e vejo que as faces mostram diversas emoções: alguns riem sem parar, outros estão perplexos e tem claro os que querem fazer algo mais estão abalados demais para agir, que é o caso que eu me encaixaria caso estivesse na posição de algum deles e não nesta que me encontro.
- Mais que droga! Pegamos a pessoa errada. Que porcaria! -. Esbraveja um dos alunos que estavam morrendo de rir da minha situação. Ele é alto, com um corpo atlético, cabelo curto e olhos escuros. Sabem aqueles vilões de filmes que você vê pela primeira vez e já tem vontade de espancá-lo, pois sabe que o cara não é flor que se cheire? Este é um deles.
- Desculpe por isso novata, mas pretendíamos pegar o professor Anderson, já que ele é nosso primeiro tempo de hoje -. O que me faz pensar que se eu não tivesse ido passear por toda a escola com os gêmeos em busca da minha sala e chegasse na hora certa, estaria seca neste momento, coisa que me deixa irritada por dentro, mas não vou deixar transparecer.
Meus pensamentos de fazer algo de ruim com este sujeito que aprontou esta comigo são cortados por uma voz grossa, como se um locutor de rádio estivesse atrás de mim, ameaçando a turma como se fosse algo bastante natural: - Quem fez esta palhaçada na sala?
Ao olhar para o dono da voz noto um homem baixo, com cabelos grisalhos, camisa polo marrom com umas canetas no bolso e calça social, segurando uma pasta com vários papéis quase caindo, rosto cheio de marcas e com a cara de que vai gritar a qualquer momento com sua voz imponente.
- Quem ... fez ... isso? -. Ele fala pausadamente esperando intimidar toda a turma, mas só consegue um silêncio mortal, que o deixa mais furioso. Talvez saber que uma ameaça assim não vai surtir efeito ele resolva partir para algo mais individual, justamente sua próxima ação:
- Carol, quem fez essa brincadeira com essa aluna? -, então ele aponta para uma garota com cabelos loiros e que tem jeito de ser a popular da turma.
- Não sei professor. Quando nos demos conta já havia acontecido. Desculpe, mas falo em nome de todos que estão aqui que não sabemos disso. Pode ter sido um aluno que esteja com a alguma pendência pessoal contra o senhor, não é? -. Noto que a expressão dela ao pronunciar estas últimas palavras realmente demonstra um sentimento por trás, e sei que há ainda assuntos inacabados entre eles.
Como uma expert em "fingir que nada ruim está acontecendo mesmo que você esteja com seu corpo queimando em chamas", sei que tem uma grande rixa entre a turma e este professor. Entretanto, o melhor que posso fazer, já que meu plano de passar despercebida até o final no ano não deu certo, é tentar ficar de fora dessa briga.
Alguns minutos de silêncio mortal novamente entre todos e logo vem a sentença: - Todos estão de castigo até segunda ordem, inclusive a senhorita aqui molhada, terão que ficar fazendo atividades na escola depois do horário de aula e ficarão suspensos de qualquer recreação que a escola promover, inclusive, o famoso Evento Beneficente do Aniversário da Escola, que será celebrado dentro de dois meses.
As palavras dele caem como uma bomba na sala, gerando revolta e gritaria por parte da turma.
Eu só queria saber porque tenho que sofrer as mesmas repressões que eles, já que sou a vítima nessa história toda, mas antes que eu possa falar o professor nos manda calar a boca senão receberemos uma punição maior, o que faz todos aquietarem, até o rapaz que, supostamente, preparou essa brincadeira, que eu chamei de "Cara-de-Vilão", o que disse que eu era o alvo errado.
- Algum voluntário para levar a senhorita até a sala dos professores para buscar novas roupas? - pergunta o professor Anderson, pois era óbvio que eu associaria o nome que o Cara-de-Vilão havia mencionado com este sujeito de voz forte.
Ele faz a pergunta e espera algum voluntário, os segundos passam e então um braço se ergue ao fundo e ouço uma voz doce responder: - Eu, professor Anderson. Eu ajudo! -. Uma garota pequena, com cabelo preto amarrado, pele escura e, embora trajando a mesma farda que todas as outras pode-se notar que seu corpo é mais desenvolvido que a maioria das garotas da sala, ergue-se e começa a andar na minha direção.
- Vamos? Eu te acompanho até a sala dos professores, eles têm roupas esquecidas por alunos lá e podemos verificar quais servem em você -. Ao falar posso notar o piercing nos lábios e a maquiagem mais pesada ao redor dos olhos, como se fosse para esconder que estava chorando muito, mas é melhor não comentar nada no momento, afinal, nem conheço essa garota!
O professor resolve começar a aula sem a nossa presença e pede que não demoremos para voltar, pois tem coisas importantes para falar, como se eu molhada passando pelos corredores não fosse algo urgente também. Saímos em direção à sala dos professores e é bom ter uma guia para me mostrar os lugares, pois os meus guias anteriores sequer sabiam onde estavam dentro da escola!
Quando nos afastamos mais e tenho certeza que ninguém vai ouvir minha voz naquele momento, resolvo matar um pouco a curiosidade e pelo menos saber por que levei um balde de água fria na cabeça.
A garota que me acompanha chama-se Nirvana e quando questiono se seus pais são fãs da banda ela dá de ombros e diz: - O que você acha? Eu passei a minha infância inteira escutando as músicas e meus pais dizendo que eu era uma sortuda por ter um nome tão legal, mas quer saber, não é tão legal quando as pessoas tocam Smells Like Teen Spirit pra você quarenta vezes ao dia ou querem saber se eu posso fazê-las chegar ao nirvana e começam a me apertar e me tocar com segundas intenções, isso é nojento!
Olhando por este ângulo realmente deve ser uma coisa complicada ter nomes de coisas famosas, e agradeço por meu nome não ser um desses, apenas de uma garota normal com problemas, apenas isso.
- Estou esperando ter idade suficiente para trocar meu nome. Claro que farei isso sem a permissão dos meus pais, pois eles nunca iriam deixar eu fazer isso, mas eles não entendem que o querer deles é diferente do meu querer e que eu não posso ser alguém que eles querem, tenho que ser quem eu quero e pronto! -. As palavras dela me fazem apenas admirá-la, como faço quando encontro pessoas decididas assim.
Quando questiono sobre o balde, a resposta de Nirvana é tão natural que tenho que parar e pedir para ela repetir, pois não assimilei da primeira vez: - O balde foi uma declaração de guerra. Vamos matar esse professor!
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Os Doces Pensamentos de uma Amarga Suicida
Misterio / Suspenso"Sim! Eu vou morrer daqui a pouco. Você vai notar a vida saindo de meu corpo e meu cadáver perecer logo logo. Triste não é, mas é pior sabendo que você também tem parte da culpa disso acontecer. Exato! Você que está lendo estas linhas, a culpa també...