05 - Cookie

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Após todos os cumprimentos diários que sou obrigada a suportar me encaminho para o colégio onde pretendo ser menos um saco de pancada do que fui na escola anterior. 

Então me dirijo até o ponto de ônibus para esperar que um deles passe por cima de mim, o que infelizmente não ocorre, pois, os motoristas são certinhos demais para cometer tal ato.

Ver todas estas pessoas no coletivo indo para locais diferentes, tentar ser alguém diferente, ainda que estejam presos no mesmo mundinho não é legal, então tiro uma embalagem da mochila, onde há vários docinhos enfileirados em formato de quadradinhos e coloco um na boca cuidadosamente, coloco os fones de ouvido, uma música melancólica e me fecho novamente no meu próprio universo.

Às vezes o seu próprio mundo cria tantas camadas dentro dele mesmo, cheio de escadas e portas levando a tantas direções que fica difícil saber onde encontrar a saída. Tornando-se um labirinto quase infinito de possibilidades, chegando a ser assustador notar que um passo em falso pode te deixar preso para sempre.

Só me livro pois o ônibus para bruscamente, fazendo todos os passageiros baterem uns nos outros ou nos apoios e trazendo minha mente a realidade novamente. Todos gritam com o motorista, mas não percebem que ele evitou o atropelamento de um sujeito bêbado caminhando pela rua, que sequer liga para o que está acontecendo à sua volta.

Queria ser assim também, mas sem precisar do álcool.

Ao descer do ônibus próximo a escola nova noto que não sai ilesa da freada brusca. Meu braço está com um enorme roxo, efeito da pancada contra o ferro do coletivo. Não é visível se eu esconder com a blusa e não vejo razão de sair mostrando para todos e resolvo deixar escondido para não criarem impressões erradas logo de cara sobre mim.

"A menina que chegou espancada no primeiro dia de aula", admito que não é um título muito bom para alguém ser conhecida na escola pelos outros. Aqui é um local perigoso caso você não saiba quais as regras e quem deve saber evitar e bajular. Nunca fui muito de puxar o saco dos outros então prefiro ficar na minha e não ser notada, melhor estratégia até hoje. Hora de entrar na escola e conhecer seu mundo.

Os corredores estão cheios, como de qualquer escola você nota todos os tipos e subtipos de gente aqui: meninas, meninos, quem quer ser o oposto, quem quer ser reconhecido, quem quer passar desapercebido etc.

Os diferentes se encontram com os normais e formam classes, criando nichos e novos ambientes. Sinto-me em uma selva, cheia de habitats e preciso saber bem em qual território devo pisar, senão serei vista como uma ameaça.

"Oi. Está procurando a secretaria? "

Ao virar-me para ver quem me dirige a pergunta, noto dois pequenos seres, parados a minha frente olhando fixos para minha face. "Gêmeos" penso ao olhar seus rostos finos, olhos e cabelos castanhos, pele clara e baixa estatura o que os deixa com um aspecto tão engraçado, pois parecem ter saído de uma loja de brinquedos.

Um lindo casal de gêmeos que eu sequer iria pensar dar tanta importância e que seriam tão fundamentais na minha decisão de pular para a morte.

Os Doces Pensamentos de uma Amarga SuicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora