Capítulo 2

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       A primeira coisa que penso é: Damian é louco. Tipo, maluco, doidão, com um parafuso a menos na cabeça. Como se deuses gregos existissem de verdade.
É um mito.                                                                                                                                                                                                 Mito é o tipo de coisa sobre a qual você lê na época da escola e que envolve sujeitos matando os pais e casando com as mães — eca, e eu achando que minha vida é nojenta. É o tipo de coisa que vemos Brad e Orlando fazendo na telona, um derrubando o outro — que delícia. Não o tipo de coisa que o homem com quem minha mãe se casou acredita piamente.

Olho para minha mãe para mostrar meu apoio e garantir a ela que estou pronta para voltar para os Estados Unidos e que podemos resolver o divórcio quando chegarmos lá. Mas ela não está desesperada.
Ela está balançando a cabeça.
De um jeito que demonstra que concorda.
E na minha direção.
Como se fosse eu quem tivesse descoberto que meu novo marido é um doido varrido.
E é quando, pela primeira vez, entendo que estou com problemas.  

      Minha mãe éprofissionalmente treinada na arte dos doidos varridos psicopatas. Uma vez ela me disse que nunca se deu muito bem com as fantasias deles — o que só piora tudo —, o que significa que, se minha mãe está calma é porque ela acredita nele. O que significa que ela também acredita
que os deuses gregos existem.

E embora eu possa duvidar do julgamento dela em relação a mudanças drásticas, como casamento e mudança de país, minha mãe costuma ser totalmente sã quando se trata de
discernir a fantasia da realidade.

Como se pudesse sentir meu estado de choque, ela se inclina para a frente e põe uma das mãos sobre o meu joelho.

— Sei que isso é difícil de aceitar...
— Difícil? — grito. — Difícil? Álgebra é difícil. A maratona Ironman é difícil. Isso é
loucura.
— Eu também pensava assim — diz minha mãe. — No início.
— Então você acredita nisso? — O que houve com a minha mãe racional? — Você
acredita nele?
Ela assente.
— Eu vi provas.
— Você viu... — Balanço a cabeça. Isso não
está acontecendo. — Que tipo de provas?
— É complicado explicar — diz ela,
corando. — Ele fez rosas... apareceram do nada.
— Rosas? — Ahá! Agora eu peguei o cara. —
Ele é simplesmente um mágico. Tirou as rosas
da manga.
Minha mãe fica ainda mais corada.
— Ele não tinha mangas de onde tirá-las
naquele momento.
       Aiiiii! Terapia certamente é o meu futuro. Tudo bem, então a abordagem racional, isso-na-verdade-não-é-possível não está funcionando. Mas tenho outras táticas no meu
arsenal. Só preciso de um minuto para me
reorganizar.

 Enquanto procuro entender qual será o próximo passo, percebo que, como não vi rosa alguma desde que desembarcamos na Grécia, minha mãe já sabia disso antes de o nosso avião decolar de Los Angeles. Ainda que minha mãe estivesse representando, ela deveria ter dito alguma coisa.

Ela teve oportunidade de sobra, incluindo
as 14 horas que passamos dentro de dois aviões
apertados no qual eu teria sido mais que uma
ouvinte, uma prisioneira. E sabe-se lá quantas
vezes antes de...
— Espera um pouquinho! — Meu tom de
voz se eleva até um grito acusatório. — Desde
quando você sabe?
Pelo menos ela tem a decência de parecer
envergonhada.

AI, MEUS DEUSES! deTera Lynn Childs (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora