A única coisa remotamente interessante no vôo para Atenas — sem contar a mulher que ficou tentando contrabandear um ouriço no avião — foi, na verdade, conseguir embarcar. Corremos pelo aeroporto como se Cérbero estivesse mordendo
nossos calcanhares, conseguimos errar o caminho duas vezes até o portão de embarque — às vezes acho que os franceses tentam ser inúteis — e ainda tivemos que passar pela polícia mais uma vez antes de conseguir embarcar segundos antes
de fecharem a porta.
Penso em nos atrasar de propósito — usando o truque do "tenho que ir ao
banheiro" ou "estou com cólica" —, mas tenho a impressão de que perderei todos os
pontos que consegui com a "cara feia" se usar um truque assim. Além do mais, é melhor superar do que prolongar algo inevitável.
Quando aterrissamos em Atenas — depois de três horas e meia ouvindo as duas mulheres ao meu lado na fileira conversando em grego sem parar, com muito entusiasmo —, estou quase feliz por estar em solo firme. Até que encontramos ele
esperando por nós na área de restituição de bagagem.
Damian Petrolas, meu novo padrasto.
Se ele não tivesse se casado com a minha mãe, se não tivesse nos arrastado por meio mundo e se não tivesse me obrigado a estudar na sua escola idiota, com certeza eu não o acharia tão ruim assim. Ele é charmoso, o tipo de cara que faz você se sentir uma princesa mesmo quando quer odiá-lo — e eu o odeio. Ele é alto, tipo mais de 1,80 m, e, com aquele cabelo grisalho nas têmporas, parece sábio e poderoso. Não são características negativas para o diretor de uma escola particular,
imagino.
Minha mãe, esquecendo todo o senso de decoro e decência em público, larga sua mala de mão substancialmente pesada e corre até onde Damian está, praticamente
se jogando em seus braços. E eu fico para trás para levar a mala de mais de quarenta quilos até a esteira.
Minha mochila não pesa nada comparada à dela.
— Senti tanto a sua falta — diz minha mãe em meio a torrente de beijos que
despeja no rosto dele.
— Eu também senti sua falta — afirma ele.
Então, sem consideração nenhuma pelo meu estômago sensível, ele segura o rosto dela com as mãos e dá um beijo — enorme e de boca aberta — nos seus lábios.
E minha mãe abre a boca em resposta.
Estou olhando ao redor tentando encontrar a lata de lixo para vomitar os pretzels que comi no avião assim que ele vier falar comigo.
— Phoebe — diz ele, com aquele sotaque desgostosamente charmoso —, estou muito feliz por recebê-la em meu país. Em minha casa.
E então, sem nenhum aviso prévio — e não é como se eu estivesse enviando
vibrações pró-aproximação —, ele dá um passo para a frente e coloca os braços ao meu redor. É um abraço.
Ecaaa!
Fico lá parada me sentindo como se estivesse na linha de largada, imobilizada e sem ter certeza do que fazer enquanto ele me aperta e acaricia minhas costas.
Minha mãe encontra meus olhos por cima do ombro de Damian e me lança um olhar suplicante, algo que ignoro. Então ela muda para o olhar zangado-sou-sua-mãe-e-também-terapeuta.
O olhar que há muito tempo aprendi a não ignorar.
Assim, após reunir toda a coragem que consigo desde os dedões do pé, levanto o braço e dou uns tapinhas no ombro de Damian em retribuição ao abraço. Mamãe não está muito satisfeita, mas ele não parece notar que meu abraço é meio artificial.
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AI, MEUS DEUSES! deTera Lynn Childs (Degustação)
FantasiaNome: Ai meus deuses! Autora: Tera Linn Childs A vida de Phoebe Castro vira do avesso quando sua mãe anuncia que irá se casar com um estranho misterioso. Para completar, as duas terão que se mudar para o outro lado do mundo: a Grécia! Phoebe te...