As Memórias de um Necromante

Adeus amigo, Ops...Adeus

Enquanto a música soava firme e serena ao fundo, marcha clássica do povo médio, eu analisava o que tinha feito; eram muitas pessoas diferentes que estavam sentadas e arrumadas para um casamento fictício de uma moça que havia morrido há pouco tempo, se observarmos bem, soa no mínimo sinistro. Mas olhando Lex pude notar sua felicidade. E ela olhando pro altar disse serena:

- É meu querido amigo, parece que nossa aventura está prestes a terminar, quero dizer, minha aventura, porque você com esse seu dom maluco, ainda vai se meter em muita confusão.

- E, você não deveria ter se exposto, se aquelas coisas te levassem embora, eu nunca me sentiria em paz - respondi baixinho enquanto caminhava, referindo aos vultos sinistros.

- Mas você é meu amigo, olha tudo que fez por mim e nas encrencas que se meteu, não poderia deixar você em apuros, mas vai ter que se virar sozinho a partir de agora meu amigo, já que após o SIM, vou embora.

Sorrimos e continuamos a andar.

Charlote tomou seu lugar ao meu lado no altar, como padrinhos especiais dessa cerimônica maluca, e o padre Gilbert seguiu com o sermão, realmente lindo, falando sobre a vida eterna e o amor que atravessa as barreiras da morte, como se preparasse o povo ali sentado para saber da verdade.

Após a cerimônia toda, chegou o momento dos votos e com o tom mais doce que já ouvi um homem falando, a voz de Jeremy se harmonizou à música de fundo

- Eu tinha escrito algo menos fúnebre, mas ... Alexia Gether, te recebo hoje como minha esposa, mesmo que nossas diferenças vão além do campo físico, mesmo que nossa distância seja calculada em tempo e não espaço, mesmo que todos os dias eu não saiba de onde vem a saudade, mas saiba que será sempre verdadeira e única, mesmo que eu não possa agora te abraçar e te beijar, mesmo que não possa te acompanhar nos seus sucessos e mesmo que ninguém aqui acredite, eu tenho certeza de que você está aqui e que está sorrindo com um dos lados da boca, e fechando os olhos tentando controlar o choro, vai olhar pra sua mãe e ter a certeza de que ela está em paz, que todos estamos, porque era assim que você sempre foi e não seria diferente se eles pudessem te sentir como eu posso. Te amo meu amor, com certeza, a vida que viverei de hoje em diante será preparando para viver toda a eternidade com você. Sim, eu aceito você, hoje, sempre e pra sempre, como a única mulher que amei, minha esposa, companheira e meu verdadeiro amor.

A comoção foi total naquele saguão, as cadeiras pareciam ter vida com as pessoas comentando sobre o discurso do jovem que aparentava ter a vida toda pela frente, a mãe de Alexia sorria e olhava como se soubesse que ela estava lá. Lex estava mesmo sorrindo e olhando a mãe, tentando controlar o choro e fez um gesto para que eu cutucasse Charlote, e disse

- Empresta sua namoradinha nova Art?

Sem nenhum tipo de pudor, Charlote respondeu por mim - Sim, será um prazer - como se soubesse p que Lex pensava

- Padre, a Charlote vai ler os votos da Lex, elas eram amigas ninguém vai desconfiar - sussurrei ao padre.

- Pronta Charlote? - disse Lex olhando pra feição doce que Jeremy fitava o ar, como se conseguisse vê-la.

Charlote acenou com a cabeça e começou a repetir as palavras de Lex, com tom ameno e sincero, a medida que as ouvia

- Jeremy,  por mais que hoje nossos corpos não possam se tocar fisicamente, tenho uma certeza que jamais tive enquanto vivi, que o amor dura mais que a separação carnal e que nossas almas são destinadas uma à outra, eu não posso imaginar sua reação ao saber que eu não havia abandonado você, mas consigo descrever a minha felicidade sem limites quando percebi a chance de te ver novamente, estar ao seu lado, ouvir sua voz e agora ser oficialmente sua esposa, sua parceira e companheira. Sei que a mente humana não consegue ter fé suficiente para conceber esse momento, mas entre nós, existe um elo maior que a morte, por isso hoje, eu o ACEITO como meu companheiro, meu parceiro, meu marido, meu único amor, hoje e sempre para todo sempre.