Existência insignificante

17 1 1
                                    



- O senhor Vic está aqui - um segurança na porta avisa para alguém que está na sala - acompanhado.

- deixe-os entrar - uma voz extremamente grave vem de dentro.

Quando entramos vejo um lugar de luxo, muito dourado, muita prata, muita riqueza e isso parece uma ironia. O caixão de Dona Laura no meio, aquela que viveu os seus últimos tempos em um local totalmente diferente deste, isso me enfurece.

- Extinguiu-se o encanto pelo vermelho Sr. Vic? - está de pé o amedrontador - teria eu o prazer de saber o nome?

O despojado se chama Vic, Ah, esqueci de perguntar. 

- Júlia - resmungo evitando olhá-lo.

- Júlia? - tonaliza com intuito de saber o restante.

- Vaz.

- O que faria uma Vaz por aqui? - interessando ele se vira totalmente em minha direção - pelas minhas informações os negócios de sua família...

- Os negócios, de onde ela é ou quem ela é de nada importa - Vic e suas palavras secas - o que importa é que alguém morreu e sem merecer.

O clima fica tão pesado que nem um caminhão Munck resolveria. Milésimos passam como minutos e ele chega a conclusão de ignorar o que havia escutado. Senta-se em uma das poltronas da sala. Chama um dos guardas e sussurra em seus ouvidos.

- Sentem-se - age como se nada tivesse acontecido uns segundos atrás - onde está a Clarice?

É totalmente perceptível o quanto Vic está desconfortável. Caminho em direção a Dona Laura e quando olho através do vidro que nos separa eu vejo um rosto afetuoso, delicado e totalmente inocente. Não tem menor sentido ela ter tirado a sua própria vida. Relembro o dia em que sentei ao seu lado. "Isso não foi um acidente". Por que alguém desejaria morrer? Cá estou viva e com uma existência insignificante, nunca mudei a vida de ninguém e ela, esta doce senhora que cuidava de crianças que crescem sem pais se foi. A injustiça desse mundo faz com que eu sinta vontade de vomitar. 

- Se não está aqui é porque não quis estar aqui - sua voz tem uma certa ironia - você não percebe o desastre que você fez na vida de todos?

- As pessoas são estúpidas por si próprias.

- Você é degradante - Vic aponta o dedo para ele - eu estou muito feliz que a Clarice viu a pessoa que você realmente é! Hoje ela não te ama, ninguém o ama mais, a única pessoa que te amava você não  protegeu!

- E você acha que isso pode favorecer que tenha alguma chance? Nenhuma, jamais aquela garota irá desejá-lo.

- Chega! Tem uma pessoa inocente aqui nessa sala que se foi em alguns dias e eu acredito que o mínimo que deveríamos ter era respeito! Vocês não a viram morrer, mas eu vi e sinto raiva porque eu poderia tê-la salvado! Mas será que essa seria realmente a melhor solução? Talvez a Dona Laura tenha se suicidado e só penso nessa alternativa agora, qual a mãe aguentaria ter um filho que é um monstro cheio de egoísmo? - falo tão alto que nada mais se ouve na sala, apenas a minha voz - você deveria estar ardendo no inferno, eu desejo que todo esse dinheiro que tem consigo se transforme em energia negativa e lhe mate lentamente!

O filho levanta da poltrona e vem rapidamente, frente a frente olhando em meus olhos eu vejo o quanto está cheio de rancor. 

- E você é o que para o seus pais Senhora Vaz? - a voz mostrava a inércia, os olhos uma sanha - Cadê o seu grandioso pai? Você também não é um monstro egoísta?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 05, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Júlia, quando ninguém amouOnde histórias criam vida. Descubra agora