Consolou-me a palavra maternal, reorganizando-me as energias
interiores. Minha mãe comentava o serviço como se fora uma bênção às
dores e dificuldades, levando-as a crédito de alegrias e lições sublimes.
Inesperado e inexprimível contentamento banhava-me o espírito. Aqueles
conceitos alimentavam-me de estranho modo. Sentia-me outro, mais alegre,
animado e feliz.
- Oh! minha mãe! - exclamei comovido - deve ser maravilhosa a esfera
da sua habitação! Que sublimes contemplações espirituais, que ventura!.
Ela esboçou um sorriso significativo e obtemperou:
- A esfera elevada, meu filho, requer, sempre, mais trabalho, maior
abnegação. Não suponhas que tua mãe permaneça em visões beatificas, a
distância dos deveres justos. Devo fazer-te sentir, no entanto, que minhas
palavras não representam qualquer nota de tristeza, na situação em que me
encontro. É antes revelação de responsabilidade necessária. Desde que
voltei da Terra, tenho trabalhado intensamente pela nossa renovação
espiritual. Muitas entidades, desencarnando, permanecem agarradas ao lar
terrestre, a pretexto de muito amarem os que demoram no mundo carnal. Ensinaram-me aqui, todavia, que o
verdadeiro amor, para transbordar em benefícios, precisa trabalhar sempre.
Desde minha vinda, então, procuro esforçar-me por conquistar o direito de
ajudar aqueles que tanto amamos.
- E meu pai? - perguntei - onde está? Por que não veio com a
senhora?
Minha mãe estampou singular expressão no rosto e respondeu:
- Ah! teu pai! teu pai!... Há doze anos que está numa zona de trevas
compactas, no Umbral. Na Terra, sempre nos parecera fiel às tradições da
família, arraigado ao cavalheirismo do alto comércio, a cujos quadros
pertenceu até ao fim da existência, e ao fervor do culto externo, em matéria
religiosa; mas, no fundo, era fraco e mantinha ligações clandestinas, fora do
nosso lar. Duas delas estavam mentalmente ligadas a vasta rede de
entidades maléficas, e, tão logo desencarnou o meu pobre Laerte, a
passagem no Umbral lhe foi muito amarga, porque as desventuradas
criaturas, a quem fizera muitas promessas, aguardavam-no ansiosas,
prendendo-o de novo nas teias da ilusão. A princípio, ele quis reagir,
esforçando-se por encontrar-me, mas não pôde compreender que após a
morte do corpo físico a alma se encontra tal qual vive intrinsecamente.
Laerte, portanto, não percebeu minha presença espiritual, nem a assistência
desvelada de outros amigos nossos. Tendo gasto muitos anos a fingir,
viciara a visão espiritual, restringira o padrão vibratório, e o resultado foi
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Nosso Lar
SpiritualO LIVRO É PSICOGRAFADO PELO MÉDIUM CHICO XAVIER. Nosso Lar é o nome da Colônia Espiritual que André Luiz nos apresenta neste primeiro livro de sua lavra. Em narrativa vibrante, o autor nos transmite suas observações e descobertas sobre a vida no Mu...