›» Capítulo 8 «‹

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Foi assim que começou o meu dia: de mãos dadas com a Bailey. Depois de ter uma conversa totalmente estranha com meu pai, percebi que eu tinha perdido a batalha. Não, não perdi, apenas cedi. Uma semana será duro aguentar a Bailey, mas se a suportei até agora, por que não posso fazer um esforço? Só quero que ela coloque naquela cabeça que isso tudo é contra a minha vontade e nem um pouco verdadeiro. Do jeito que é, deve estar achando que estamos indo ao altar e não a sala de aula.

Quando caminhamos pelo corredor imenso, atraímos olhares das pessoas que cochichavam entre si, mas também, com a Bailey jogando aquele cabelo pra lá e pra cá, eu quero o que? Isso me irrita tanto. Ela me irrita. Essa garota acha que tem algum comando sobre mim, sendo que eu sou de ninguém.

"Ah, amorzinho, vai pegar suco para mim".

"Amor, você pode ir lá em casa hoje?"

"Lindo, você viu aquela menina nos olhando? Isso é inveja".

Inveja tenho eu dessas pessoas que não tem que ficar aguentando pai resolvendo o que o filho deve fazer como se ainda fosse uma criança. Porra, eu tô indo para os 18 e ele vem com aquele discurso de "você mora no meu teto" e o caralho a quatro!

Só quero que a manhã passe rapidamente, mas os passos que damos para o destino que queremos ir parece não acabar.

Andamos em direção ao mesmo pátio de sempre e vamos até onde os caras estão sentados. O primeiro que nos vê é o Gary, que logo cutuca os outros que nos olham maliciosamente, menos o David. Ele está com o foco em outro lugar, e talvez esteja vendo uma garota para pegar. Não, não está mesmo. Ele mais para um perdido na vida.

— Aê, Lewis — Gary diz vindo me cumprimentar quando a Bailey sai do meu enlaço. — Me diga o que você fez para conseguir a Bailey.

— Se eu falar você vai querer tentar — digo tirando sarro como se eu fosse o maior fodedor. Se tudo já está ruim, então vamos piorar de vez.

— Está vendo, David? Um dia vai ser eu — Gary fala apontando para ele. Percebo que o David não retruca, apenas fica calado. Ele solta um riso frouxo e olha para a mesa de madeira onde estamos sentados. Sei que o David sempre quis ficar com a Bailey, mas nunca pensei ser algo sério como ele está demonstrando agora. O David não é aquele tipo de cara que guarda para si próprio, ao contrário, ele é sincero até demais. Esse negócio de guardar sou só eu quem faço, uma besteira. Agora, sendo sincero, alguma coisa tem nessa quietude do David, e eu vou descobrir, mas não hoje.

Quando o sinal bate, todos nos levantamos e vamos para as nossas respectivas salas. Eu e o David, desde que nos conhecemos, frequentamos as mesmas aulas, e hoje não foi diferente. Todos vão para o outro lado do colégio enquanto isso nós vamos para a aula de história. O silêncio toma conta do ambiente, e eu juro que não sei o que está acontecendo.

— Fala alguma coisa, cara — digo antes de chegarmos a sala. Silêncio. Ele não me responde, apenas entra e me deixa pra lá. Que se dane.

Eu entro na sala também, aliás, não posso ficar parado lá o dia todo. Sento na esquerda do David, mas o ignoro completamente. Se ele quer fazer esse jogo, problema é dele.

O professor entra na sala e começa a passar algo na lousa e falar sobre guerras, mas não consigo prestar atenção já que meus pensamentos estão em outro lugar, talvez em uma pessoa com cabelos longos e enrolados, de uma pele lisa e perfeita além dos olhos vibrantes. A minha vontade de conhecê-la mais é tão grande...

Caralho, por que estou pensando nela?

— Você é um bosta, Benjamin — escuto alguém sussurrar. Olho para o lado e vejo David me encarando com o rosto vermelho, como se fosse raiva misturado de vingança. — Vive fazendo merda e sai impune.

Além do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora