›» Capítulo 25 «‹

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Espero que alguém ainda leia essa história depois de tanto tempo de demora. Só explico o motivo pelo privado. Beijos e boa leitura <3

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Eu preciso aprender a respirar fundo e ignorar o que mais detesto ouvir, mas o meu consciente sempre me desobedece e a impulsividade toma conta do controle que era para eu ter. Necessito assimilar a minha direção e deixar a minha racionalidade funcionar, e não a emoção. Aliás, caso um dia aconteça, eu não irei querer ser preso por sintomas de um sentimento emocional de não compreensão e paciência com alguém. É isso o que eu tento fazer nos últimos segundos: inspirar e expirar. Talvez eu precise ir relaxar no Havaí ou no Caribe enquanto tomo um gole de um coquetel gostoso de morango e recebo uma massagem de vocês sabem quem. Porém, tudo o que eu vou conseguir no momento é um copo de água enquanto perco fios dos meus cabelos loiros.

É a raiva, fúria, irritação ou qualquer outro sinônimo existente que possa designar o que é ser infernizado em plena manhã de um final de semana, véspera de um feriado prolongado. Meu pai, ao invés de estar com um jaleco exercendo a função dele no hospital, está aqui, enchendo o meu ouvido de batatas à medida que eu me arrumo.

— Onde você vai? Está cedo demais, Benjamin. Na minha idade eu estava estudando — ele diz pela milésima vez a mesma coisa. Se eu ganhasse dinheiro a cada vez que ele fala isso, eu estaria milionário.

— Que bom para você, pai — respondo e o ignoro, pegando a minha jaqueta preta e colocando em meus ombros.

— Para onde você vai? — repete.

— Para a Mongólia, não está vendo a minha mala aqui e meu passaporte? — finalizo e reviro os olhos, ignorando se ele falou alguma coisa ou não. Nesse momento eu poderia estar em qualquer lugar que continuaria ouvindo a voz dele, mas pelos meus pensamentos. Já me senti culpado demais por não exercer ou seguir o que meu pai sempre quis, mas agora eu não ligo. Ou ligo?

Não, eu não ligo.

Bato a porta de casa e entro no meu carro, dirigindo para qualquer direção sem pensar direito. O que há de errado comigo? Queria muito ser o orgulho da família, aquele adolescente que vai ao jogo de futebol com o pai e tira fotos para mostrar para a mãe. Não. Isso é o que o meu pai sempre quis, eu quero mais. E é com esse pensamento que eu chego a casa do Gary. Não me assusto nem um pouco quando vejo a porta já aberta, e nem sei porque diabos eu estou aqui. A verdade é que eu não sei de muitas coisas: não sei porque sou assim ou porque o que quer que seja colocou Andrea no meu caminho; não sei porque vivo um drama todos os dias e nem como cheguei até aqui; não tenho a mínima ideia de quando a vontade de cantar surgiu, só tenho a noção que não irá parar por aqui.

Eu quero mais.

Nem ligo quem quer que esteja nessa casa, só vejo o Christopher e o Charlie e ando em direção onde os instrumentos estão. Pego uma guitarra — que está lá desde aquela festa imbecil —, o microfone e olho para os dois, que estão sem entender.

— Toquem — digo e eles se levantam do sofá, andando em direção onde os aparelhos estão. — Não importa o que, apenas toquem.

Christopher começa com a bateria, um toque baixo e confuso. Ele não sabia como iniciar. Charles introduz o baixo, acompanhando o Chis. Ambos chegam num consenso, formando uma melodia nova de consonância. Enquanto isso, eu fico parado tentando assimilar o que sou ou o que estou fazendo aqui.

"Sou um estrago

De palavras faladas"

Repasso todos os questionamentos. A pergunta é: por que ele não pode sentir orgulho? Ou, talvez, por que eu não posso mostrar isso? Se eu demonstro ser forte para ele, deveria ser íntegro aqui dentro também, mas a minha lucidez não permite que isso aconteça, pois a sociedade impôs que eu devo ser assim. Mas eu não quero isso.

Além do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora