José conversa com Belinda

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Dona Belinda se levantou muito feliz, mas por mais felicidade que ela sentisse, nada tirava de sua cabeça que eles não podiam ser feliz ao lado de Ana.
Ela se preparou para ir trabalhar, deu um beijo no filho e foi pro trabalho, ela pegava o ônibus na rua de trás, fazia o mesmo caminho todos os dias, na ida e na volta do trabalho.
Todos os dias era a mesma coisa, o mesmo horário, o mesmo ônibus, as mesmas pessoas, todos dentro do ônibus já se conheciam, iam conversando e contando histórias. Mas, nesse dia, tinha algo diferente, bem estranho até, porque além de toda essa normalidade de todos os dias, tinha uma pessoa a mais no caminho e dona Belinda sentia que essa pessoa estava lhe seguindo, enquanto ela caminhava até o ponto do ônibus, um homem seguia logo atrás, meio à distância, com um carro todo escuro e bem devagar, cada rua que ela entrava, pouquíssimo tempo depois lá estava o carro.
Dona Belinda percebendo a perseguição, começou a andar mais rápido até chegar no ponto e juntar-se as pessoas.
-Bom dia Be, o que está acontecendo? Viu fantasma?
-Bom dia, tem alguém me seguindo.
-Quem está te seguindo mulher? Acho que você está vendo coisas.
-Não estou não, aquele carro preto parado ali, esta vendo?
-Estou vendo, mas ele está parado lá na frente Be.
-Quando saí no portão de casa, ele estava parado lá, daí, comecei a caminhar e percebi que ele estava me seguindo, agora parei aqui e ela parou lá.
-Vou chamar a polícia então, nunca teve isso aqui antes.
-Não, não chame, deixa pra ver até onde vai, ele deve ir embora quando o ônibus chegar.
-Be acho melhor ligar, e se ele te cercar na volta? quando você chega costuma está escurecendo já lembra? E se ele quiser cercar o João? Acho melhor ligar.
-Não, se ele quisesse o João, não teria me seguido e se quando eu voltar ele estiver por aqui eu ligo tá? Obrigada pela preocupação.
O ônibus encostou e o povo começou a entrar, dona Belinda sentou na janela como de costume, ela queria olhar se aquele homem ia embora antes que o ônibus saísse. Alguns minutos depois, o motorista ligou o ônibus, arrancou e foi embora, mas o carro ficou parado no mesmo lugar.
Dona Belinda foi embora mais tranquila, talvez poderia ser só coisa da cabeça dela, "quando eu voltar, não vai ter mais ninguém aqui, isso é só coisa da minha cabeça. "
O ônibus rodou quase a cidade toda, até que chegou a hora de dona Belinda descer e, quando ela desceu, olhou pra todos os lados e seguiu o caminho do trabalho, só que ela teve a mesma sensação que estava sendo seguida e pelo mesmo carro, mas dessa vez, sem que ela pudesse apresar os passos, o motorista acelerou e a chamou pelo nome, o que a deixou em pânico.
-Dona Belinda?
Ela tentou a fingir que não escutou, mas ele chamou de novo.
-Dona Belinda, não tenha medo, eu sou empregado do senhor José.
-E você acha que isso te dá o direito de me seguir?
-Só queria falar com a senhora, por favor.
-O que aquele cafajeste quer dessa vez?
-Ele quer te ver, pediu pra marcar um lugar e uma hora.
-Não tenho horário pra ele, pede pra ele esquecer que eu existo.
-Ele pediu pra te falar que se você não falar com ele, ele vai te seguir até conseguir falar com você.
-Diz pra ele que hoje vou sair daqui as três e meia, se ele quiser falar comigo, ele encontra comigo aqui nesse mesmo lugar, não quero falar com ele perto de casa.
-Tudo bem, vou falar pra ele, estaremos aqui as três horas, bom dia.
-Bom dia.
Dona Belinda continuou sua caminhada e quando chegou no trabalho entrou logo e já foi fazendo seu serviço, pra conseguir sair as três e meia.
As horas não espera e três e meia, lá estava dona Belinda voltando pra casa, quando ela chegou no lugar onde marcou com o empregado de José, eles estavam lá parados esperando por ela.
-Belinda? A quanto tempo? Você está bem?
-Estou muito bem, o que você quer comigo?
-Duvido que não saiba, entra aqui, vamos pra outro lugar.
-Se você quer mesmo falar comigo, então fale aqui, porque não vou entrar no seu carro e não converso com você em outro lugar.
-Tudo bem, podemos ao menos atravessar a rua?
-Podemos sim, mas espero que seja bem rápido, não tenho tempo.
-Vai ser bem rápido.
Eles atravessaram enquanto o motorista ficou dentro do carro.
-Fala logo o que você que e porque você está colocando esses homens pra me seguir?
-Fica tranquila, eles não vão te seguir mais, só queria te encontrar sem ter que ir em sua casa.
-O que você quer?
-Quero o João bem longe da Ana.
-Você acha que eu também não quero?
-Você sabe muito bem que eles não podem se casar.
-Eles não vão se casar, fica tranquilo, você também tinha que agir, não é só cobrar de mim não.
-Vou agir, com certeza vou agir, se você não conseguir separar os dois até o dia do casamento, eu vou agir.
-Desde que não machuque meu filho.
-Não é o que pretendo, você acha que eu seria capaz? Você está errada, jamais eu machucaria ele, só não quero esse casamento, você melhor que ninguém sabe que eles não podem casar.
-Eu vou pedir pra ele não se casar sei lá, vou fazer alguma coisa.
-Tudo bem, era só isso que eu queria, você quer uma carona?
-Não, esqueceu o que te falei quando sai da sua casa?
-Esquece isso, podemos ser amigos, o que passou já passou.
-Passou pra você, pra esta bem vivo, não quero uma bala sua.
-Você está sendo orgulhosa, é só uma carona.
-Eu tenho passagem pra pegar o ônibus e mais, tenho muita vergonha na cara, nunca esqueci uma palavra que escutei aquele dia que você me mandou embora grávida e debaixo da chuva, quase morri depois, mas consegui erguer a cabeça e criei meu filho e nunca te pedi uma bala doce.
-Você pode me perdoar?
-Perdoar? Você perdoa as pessoas? Não é você que fala pra cidade inteira que tem nojo de mim?
-Tudo bem, se um dia eu merecer seu perdão, vou morrer sossegado.
-Se depender de mim você nunca terá sossego na vida, apodreça sem o meu perdão.
-Tudo bem, não vou te procurar mais, só tira seu filho do caminho da minha filha.
Dona Belinda deu as costas pra José e foi embora sem olhar pra trás, pegou o ônibus e foi embora, enquanto seu José atravessou a rua entrou no carro e foi embora sem falar uma palavra.

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