Um pequeno objeto brilhante deslizava pelo ar ao encontro da garganta de Andrew. O objeto era rápido e voava com uma precisão incrível. O jovem nem teve tempo de refletir sobre a sombra do outro lado da rua, precisava desviar do golpe fatal. Uma pessoa comum certamente seria atingida e agonizaria até o fim, mesmo que fosse um experiente soldado militar, mas Andrew não se encaixava nesta categoria. Em uma rápida reação instintiva ao leve brilho reluzente do objeto, ele inclinou o seu corpo para o lado esquerdo e o objeto passou a milímetros de seu pescoço.
A forma misteriosa não esperou nenhuma reação de seu alvo para se movimentar. Estava extasiado pelo preceder de um combate. Ela correu na direção do portão e atravessou-o sem nenhuma dificuldade, saltando de seu topo e parando com apenas um impacto. Parou agachada com uma das mãos apoiada no chão e com a cabeça virada para baixo. Suas vestimentas expunham apenas suas orelhas grandes e pontiagudas para fora do capuz, mas o formato do seu corpo não diferia do de um humano. Uma bainha em sua cintura escondia uma lâmina longa de cabo enegrecido. A criatura levantou a cabeça e olhou diretamente nos olhos de Andrew, exibindo seus olhos vermelhos e famintos pelo combate, da cor do puro sangue.
Andrew estava surpreso. Tentava organizar os seus pensamentos nos breves segundos que tinha antes de ser atacado novamente. O que era aquilo? Por que estava atrás dele? O que devia fazer? Eram apenas algumas das dezenas de perguntas sem respostas que se formaram em sua cabeça. Mas o seu cérebro rapidamente lhe direcionou para duas certezas: "Devo sobreviver e devo me esconder da sociedade.".
Seu instinto primitivo de sobrevivência foi o primeiro a reagir. Se fosse necessário lutar, era isso que faria. A segunda reação era diferente. Ela vinha de uma consciência coletiva entre diversos seres que precisavam deixar a humanidade de fora do seu seleto grupo. Eles estavam bem na frente da entrada do condomínio, no meio da rua, e Andrew não podia permitir que ninguém presenciasse aquela cena. Comprometeria toda a sua vida naquele lugar.
Antes que pudesse organizar um plano de ação para eliminar a possibilidade de suas certezas não acontecerem, o atacante agiu novamente. Andrew sabia que estava em total desvantagem. Seus músculos enrijeceram, preparando o corpo para receber qualquer golpe, mas a sua experiência com combates alertou que o melhor caminho seria a evasão, relaxando os músculos logo em seguida. Nem o seu corpo conseguia decidir qual era a melhor reação para a situação.
A criatura esticou os braços para trás e correu célere ao encontro de seu oponente, que a aguardava imóvel. O jovem parecia tenso e assustado, como a criatura desejava que estivesse. O confronto era inevitável. A criatura o alcançou e já estava com a mão direita preparada para o golpe. Andrew desviou do primeiro encontro e tentou se concentrar em defender-se o máximo possível dos golpes fatais.
A criatura era experiente em combate. Seus golpes secundários distraíam a atenção do oponente enquanto seus principais movimentos tentavam acertar ponto chaves do corpo, como o queixo, o pescoço e o coração. Andrew, por sua vez, mostrava ser um oponente da mesma altura, defendendo e desviando das principais artimanhas do adversário e ganhando tempo para pensar em uma estratégia para sair da zona de perigo.
A criatura se afastou e novamente correu em sua direção, do mesmo jeito, puxando sorrateiramente algo da cintura com a mão esquerda. O lutador só percebeu o objeto quando o ser começou a desferir diversos golpes rápidos. Era uma peça japonesa, uma kunai, uma arma de combate em formato de seta. Nem o esforço extremo que Andrew fez para se defender de todos os golpes o livrou de um poderoso soco nas costelas. Ele caiu no chão, e a criatura soltou um urro de orgulho, de vitória.
─ O que você quer comigo? ─ O tom da voz revelava o seu desespero.
A criatura respondeu com uma gargalhada sinistra, como se aquela pergunta fosse a certeza da rendição de sua presa. Ouvira muitas e muitas vezes aquela mesma frase como a última que pronunciavam. Era a hora do golpe final. O ser se afastou novamente para pegar impulso e correu como uma fera atrás de sua próxima refeição.
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A Extinção
FantasyEm um mundo aparentemente como o nosso, poderosas raças habitam na penumbra da vida humana. Vivem na escuridão da noite, punidas de caminhar à luz do Sol por divindades primevas. Os seres humanos desconhecem a existência de outros seres e os encontr...