A arma utilizada pelo comandante não era um item de combate moderno, entretanto, era tão letal quanto uma arma de fogo, se utilizado por um ser habilidoso. Sua curvatura era precisamente desenhada e seus projéteis eram peças raras que poucos artesãos de tempos remotos conseguiam reproduzir. Era um arco poderoso, com flechas encantadas para maximizar seus efeitos destrutivos, um item que poderia até não servir para uma guerra humana atual, mas que era extremamente necessário para enfrentar as criaturas que o comandante conhecia. A flecha disparada voava como um projétil de arma de fogo, e não existia um ser que foi alvo deste arco nas mãos do comandante que tenha desviado.
Segundos depois de disparar, a Master respondeu como o comandante deveria proceder, mas o calor do momento fez com que Pedro Henrique esquecesse de reativar a transmissão de áudio da central para o veículo. Para a sorte de ambos, o comandante reagiu como o esperado.
Andrew se curvou em torno das mãos e começou a canalizar algum tipo de energia enquanto o elfo negro realizava suas manobras para atacar. Suas mãos ficaram avermelhadas e uma leve fumaça branca se formou entre seus dedos. A música do automóvel acabou no momento do ataque. A criatura estava no alto, pronta para descer com tudo, e o jovem concentrava-se. Quando chegou o momento de liberar a energia concentrada, Andrew viu o elfo negro em sua frente desprotegido, com o corpo inclinado para trás. Soltando um grito encorajador, empurrou as mãos para a frente, mirando no peito da criatura. De repente surgiu uma poderosa bola de fogo das mãos do jovem que atingiu em cheio o elfo negro. Em meio a seus urros de bravura, emergiu outro, agudo e embolado, de dor e sofrimento, vindo da criatura.
A bola de fogo transformou em cinzas a área de contato com a roupa do elfo negro e deixou sua pele com queimaduras profundas. Ele foi impulsionado para trás com tanta força que bateu violentamente contra o muro que ganhara impulso e capotou várias vezes pela rua até parar de bruços. Algumas partes da sua roupa ainda queimavam. Ele se debatia em total desespero, e gemia alto de dor. Se esqueceu até de preservar a identidade, rasgando a parte de cima do casaco que continha o capuz, pois queimava como em uma fornalha e grudava em sua pele.
O motorista ouviu tudo, e comentou:
─ Caraca! Comprar CD pirata estraga o som mesmo! ─ E batia com o dedo indicador no painel do rádio. ─ Que barulheira pra trocar de música! He he.
A equipe da central estava tensa após as ordens da Master. Todos aguardavam os relatos do comandante sobre o desfecho, mas, ao invés da voz do comandante, ouviram um lamento horripilante, como se um porco adulto desfalecesse bem próximo da equipe de solo.
─ O que está acontecendo, comandante? Você acertou a criatura? ─ A Master logo perguntou.
Pedro Henrique já havia reativado a chamada, e o comandante ouviu as perguntas, respondendo:
─ Não. O alvo foi desviado da minha flecha por uma magia muito poderosa. O corpo dele está todo queimado, mas ainda está vivo.
A Master levou suas mãos a cabeça. Seu olhar parecia perdido. Para piorar ainda mais a situação, Pedro Henrique constatou outro problema:
─ Master, perdemos o sinal do rastreador. Deve ter quebrado com o golpe que o alvo levou.
O condutor da caminhonete acelerou, e Andrew finalmente estava livre da criatura. Ainda saía fumaça de suas mãos e ele as abanava como se estivesse se queimando, mas era somente um reflexo natural do corpo. Seu olhar, assustado com os efeitos que provocara na criatura, revelava que ele não tinha total controle sobre o que fez. Imaginava que, como desejava muito sobreviver ao ataque do elfo negro, a adrenalina somada ao instinto de sobrevivência maximizou o seu golpe. Mas mesmo estando livre da criatura, algo o incomodava. Por que ela queria tanto a sua morte? Entretanto, preferia fugir dali naquele momento do que ter de enfrentar o monstro novamente. Não queria usar suas habilidades de novo tão cedo. Tinha motivos de sobra para ir embora.
Quando Andrew tentou se mover, percebeu que estava zonzo. O veículo estava em uma pista não muito boa, mas seu equilíbrio era melhor do que conseguia fazer. Tentou se apoiar na lateral da caçamba, mas sua mão escapou da beirada e ele desabou. "O que está acontecendo? Será que esgotei as minhas energias com aquele golpe?" ─ Ele refletia. Ele se arrastou para perto da cabine da caminhonete e sentou, apoiando a lateral do corpo para não perturbar a shuriken em suas costas. Quando percebeu o líquido que escorria da outra shuriken cravada na madeira, já não raciocinava direito.
O batimento cardíaco acelerado pelo calor da batalha ajudara a espalhar rapidamente um veneno letal que embebedava a arma branca. Andrew mal conseguia respirar, e, aos poucos, perdeu a consciência.
Enquanto a caminhonete se distanciava, a criatura observava Andrew. A caçada acabou, mas um bom caçador não deixaria sua presa escapar. Andrew podia ter fugido, e ter deixado cicatrizes eternas para o elfo negro, mas ele sabia que ganhou no fim da batalha. Havia vencido minutos atrás quando acertou a shuriken em sua presa. Se sentiu merecedor do destino que teve, pois levou o combate ao extremo sem nenhuma necessidade. Mas, no fim, era só uma questão de tempo para que o veneno fizesse o seu efeito. Ele não perderia esta batalha, nunca havia perdido nenhuma.
O comandante viu o elfo negro se levantar e preparou outra flecha para ser lançada. Novamente, tentou contatar a central para que não tomasse as rédeas da operação:
─ Jéssica, o alvo se levantou. Está se preparando para fugir. ─ Ele não estava contente com o rumo da operação e esquecera inclusive de não chamar a Master pelo nome. ─ O que você quer que eu faça?
─ Comandante, siga o protocolo de comunicação. ─ Pedro Henrique cobrava a atenção dele. ─ Não tive tempo para criptografar a nossa chamada e corremos o risco de terceiros nos ouvirem.
─ Não estou nem aí pro protocolo! Estou vendo o nosso alvo se preparando para fugir, o garoto que arriscamos falhar a nossa missão para salvar sumindo no horizonte e eu não posso sequer tomar uma atitude sem antes contar tudo que estou vendo para vocês, que demoram UM ANO para responder! ─ O comandante perdia o controle quando julgavam suas atitudes no meio da operação. Além disso, se sentia frustrado pelo rumo que sua operação teve. Uma falha não era algo que gostaria de ter em suas lembranças. ─ Onde está a Jéssica?
─ Estou aqui, comandante. Deixe para descontar a sua raiva em outro momento. ─ A Master trouxe todos para o foco na tarefa. ─ Como perdemos o sinal do rastreador, vai ser difícil segui-lo sem que perceba a nossa presença. Vamos utilizar o plano B.
Toda a equipe acatou as ordens da Master e começou a se preparar para a alternativa do plano principal. Caso a operação de seguir a criatura falhasse, a equipe de solo deveria capturar o seu alvo. Isso faria com que algumas papeladas precisassem ser preparadas e emitidas, o que Sandra começou a fazer imediatamente.
─ E o garoto? Como eu comentei antes, ele está envenenado. ─ Disse o comandante.
─ Vá sozinho atrás da criatura e mande seus soldados para o resgate. Traga ele para a central e deixe aos cuidados médicos. Está livre para agir como desejar, comandante.
Pedro Henrique contestaria a decisão da Master, mas lembrou que seria inútil mostrar a sua opinião. Ela não ouviu nada do que ele disse durante toda a noite, e dizer que era uma quebra de protocolo de nível máximo trazer pessoas alheias à companhia não faria diferença. Era melhor deixar que ela tomasse suas próprias atitudes sem nenhuma interferência a partir daquele ponto.
─ Vocês ouviram ela. Ao trabalho! ─ Disse o comandante para a sua equipe.
─ Operador, encerre a transmissão. ─ Ordenou Jéssica.
─ Espera. ─ Disse o comandante. ─ Antes de desligar, quero que você saiba que eu estava certo quando te disse qual criatura estava por trás dos assassinatos. Além do cheiro inconfundível que esses seres repugnantes têm, eu vi o rosto do nosso alvo. Agora você me deve um barril de cerveja dos anões!
─ Operador, por favor, encerre a transmissão. ─ Ordenou ela, sem paciência para aquilo naquele momento.
O comandante sorriu.
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A Extinção
FantasyEm um mundo aparentemente como o nosso, poderosas raças habitam na penumbra da vida humana. Vivem na escuridão da noite, punidas de caminhar à luz do Sol por divindades primevas. Os seres humanos desconhecem a existência de outros seres e os encontr...