A quilômetros de distância da cidade de mesquita, uma mulher caminhava impaciente, de um lado para o outro, em um escritório. "Está tudo certo, nada fugiu do planejado. Está tudo certo...". Era uma bela moça de olhos cor de mel. Tinha cabelos longos, lisos e escuros, com uma delicada franja completando sua beleza. A pele era clara e possuía uma pequena pinta enegrecida perto do olho direito. Vestia um conjunto social de um salto médio, saia justa até o joelho e um blazer de manga curta com uma camisa branca por baixo. O conjunto era azul-marinho. Suas belas curvas se destacavam no uniforme. Do lado esquerdo do blazer, um broxe de ouro, escrito "DHIP" em preto e com a escrita "Master" deixava claro que ela não era uma pessoa qualquer. Ela rodeava preocupada, impaciente para que a noite acabasse logo. Era explícita a perturbação do seu espírito.
O escritório não era comum. Tinha paredes lisas de concreto espesso, uma iluminação azulada, um conjunto de três cadeiras e uma mesa feitos de vidro, dois monitores transparentes e nenhum fio. A sala era retangular e tinha um grande vidro centralizado na mesma parede da porta. O vidro estava enegrecido e os vultos do outro lado mal eram vistos. A porta, alinhada à esquerda, era feita de aço e muito espessa. Seguraria facilmente uma rajada de uma arma de fogo com potência mediana.
"Sete dias de espera para que tudo aconteça em algumas horas..." ─ Tinha medo de que o seu plano desse errado. ─ "Eu preciso deixar as coisas acontecerem naturalmente, sem pressão, pois nada pode dar errado...". Alguém tocou o interruptor de chamada do lado de fora da sala e ela tentou parecer menos preocupada.
─ Porta, destravar! ─ Ordenou a moça, e a estrutura de aço abriu lateralmente.
Marcelo entrou com duas xícaras e alguns biscoitos em um pote. Era um de seus funcionários.
─ Você está bem, Jéssica? Trouxe um café para você.
─ Obrigada. ─ Respondeu ela tentando sorrir. ─ Alguma novidade sobre a operação?
─ Houve um desvio de padrão do alvo. Pode ser que seja necessário alguma medida estratégica, mas nenhuma atitude foi tomada ainda.
─ Excelente. Vou chegar os sistemas agora mesmo. ─ Ela tomou rapidamente o café de sua mão e nem encostou nos biscoitos.
Marcelo fez sinal positivo e deixou o cômodo. Sentiu que sua presença ali não faria diferença para a moça. Ele tinha pele clara, era gordo e possuía uma barba densa. Seus cabelos curtos e já com algumas falhas denunciavam um homem por volta dos 45 anos. Vestia uma camisa social listrada, branca e marrom, calça jeans e sapato. Seu desleixo com sua aparência era fruto de um vasto conhecimento sobre diversos assuntos. Era como se dedicasse cada momento da sua vida para estudar um pouco mais. Sua mente era brilhante e seu papel na equipe daquela Master era crucial.
Marcelo se apoiou na sacada do corredor. Mesmo depois de anos trabalhando naquele lugar, ainda se impressionava ao observar do alto toda a estrutura do seu setor. Era um grande salão aberto dividido em três andares. A disposição dos andares seguia um formato em degraus onde cada andar acima avistava todos os andares abaixo. O design foi inspirado em uma sala de cinema. Existia até um telão na parede à frente que passava diversas notícias incomuns à humanidade. As superfícies de algumas salas abaixo eram transparentes, o que permitia visualizar o que acontecia lá dentro. Além da boa iluminação, faixas fluorescentes indicavam os degraus e corrimãos. Não existiam entradas de luz externa e os dutos de ventilação ficavam expostos na superfície do setor. O lugar existia dentro de uma caverna fabricada por mãos humanas.
Marcelo saiu do último andar e foi para o segundo através da escada ao fim do corredor. Era o pavimento selecionado aos líderes de equipe. Ele prosseguiu por um corredor de muitas portas, com salas privadas de um lado e públicas do outro. Esta divisão era pelo fato das salas privadas estarem posicionadas abaixo do andar superior, enquanto as salas públicas estavam posicionadas à frente com tetos transparentes.
O líder de equipe adentrou uma sala pública ao meio do corredor onde trabalhava com mais duas pessoas: Sandra e Pedro Henrique. Cada um dos três líderes contava com um monitor dividido em áreas de trabalho, como nos monitores que exibem vários circuitos de câmeras de segurança, e podia ser utilizado por toque, gesto ou comandos de voz. Suas mesas também eram dispositivos inteligentes e apresentavam as mesmas informações de seus monitores. Os softwares eram o encaixe final: usufruíam de poderosas tecnologias para exibição, busca e manipulação de dados. Talvez o que menos chamaria a atenção de um novato seria a camada transparente e rígida que substituía a parede à frente da porta e dava ampla visão do andar abaixo, um cômodo público do outro pavimento onde as equipes dos líderes trabalhavam.
─ Conseguiu fazer ela comer alguma coisa? ─ Sandra perguntou assim que Marcelo se ajeitou em sua mesa.
─ Pelo menos bebeu o café. ─ Ele estava visivelmente decepcionado. ─ Pelo jeito que as coisas andam, acho que seria melhor ela fazer o que o diretor propôs.
─ Eu nunca faria isso, não depois do que fizeram com ela. Não deixaria um grupo qualquer acabar com toda a minha carreira. ─ Sandra encarou Marcelo como se ela fosse a própria Master.
Sandra era uma mulata esbelta de cabelos encaracolados até o ombro. Notavelmente praticava musculação para deixar seu corpo maravilhoso como era. Usava um vestido preto com um cinto branco de pedras prateadas. Era o membro mais novo do setor, com um ano de casa.
─ Pessoal, consegui sincronizar o rastreador do veículo com a central. Estou disponibilizando a informação para vocês agora. ─ Pedro Henrique suava mesmo com o ambiente climatizado.
Pedro estava sério e concentrado. Era alto, magro e sua pele era clara e manchada por sardas. O cabelo espetado e os óculos de alto grau não lhe davam qualquer charme. Ele parecia sair direto de algum filme sobre ciências avançadas. Sua roupa era a mais social de todas: terno e gravata preta das lojas mais importantes do país.
─ Está se movendo. ─ Alertou Sandra.
Pedro Henrique conferiu o seu monitor e logo abaixou a cabeça para caçar o teclado virtual:
─ Sim, e bem diferente do ritmo de minutos atrás, além de estar fora da rota que fazia. Precisamos saber o que está acontecendo.
─ Não existem câmeras na região? ─ Sandra perguntou.
─ Não. A mais próxima está em um posto de gasolina perto de onde nossos agentes estão estacionados. Estamos cegos, sem nenhum contato visual.
─ Acho que está na hora de contatar a Master e colocá-la em operação ─ Marcelo propôs o que todos pensavam, mas não tinham coragem para expor. ─ Sei que queremos evitar de deixá-la pior, mas o protocolo não deixa outra opção. Tomar uma atitude sem consultá-la pode piorar a situação.
Mesmo contra a sua vontade, Pedro Henrique acionou um comando de chamada no teclado virtual:
─ Você tem razão. Chegou a hora de deixar que ela conduza a operação.
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A Extinção
FantasyEm um mundo aparentemente como o nosso, poderosas raças habitam na penumbra da vida humana. Vivem na escuridão da noite, punidas de caminhar à luz do Sol por divindades primevas. Os seres humanos desconhecem a existência de outros seres e os encontr...