Andrew corria pela avenida enquanto o elfo negro chegava cada vez mais perto. Cruzaram pelo veículo estacionado onde estavam os agentes de campo como uma manada em fuga. A pista estaria deserta, não fosse a caminhonete enferrujada que vinha logo atrás. O motorista ultrapassou os dois normalmente e Andrew aproveitou para saltar na caçamba. Quando finalmente pensara que conseguira um plano de fuga perfeito e sem consequências, Andrew sentiu como se uma faca bem afiada penetrasse suas costas. A dor foi instantânea, mas apertou os dentes para não gritar.
O elfo negro queria gargalhar, comemorar sua façanha ao acertar o alvo, mas também desejava presenciar os últimos momentos de vida do jovem. Se comemorasse agora, perderia o ritmo e não conseguiria acompanhar a caminhonete. Preferiu se esforçar para continuar no encalço de sua presa.
Enquanto isso, o comandante tentava detalhar o máximo possível do que via para a central da operação:
─ Eles estão seguindo pela avenida principal, e o nosso alvo está muito perto do homem que ele persegue.
A operação chegou no ponto em que a Master precisava tomar decisões rápidas para que pudessem ser executadas. Era uma situação perigosa, com nenhuma margem para escolhas erradas. Sua experiência no trabalho fez toda a diferença, pois previra os riscos da operação e mapeara as soluções antes da execução. Entre os problemas que poderiam enfrentar estava a possibilidade de encontrarem o caçador antes dele vitimar o seu alvo. Como a tarefa da equipe era agir como um observador, a solução era deixar tudo acontecer como deveria. Pedro Henrique, então, não deixou que a Master esquecesse disso, mas cortou a comunicação com a equipe de solo enquanto falava:
─ Não podemos fazer nada a favor daquele ser. Precisamos deixar que a criatura trace o curso normal de sua missão.
A Master ponderou as palavras de Pedro. De acordo com o mapeamento que fizeram, ele tinha razão, mas ela não queria demonstrar que não era capaz de sacrificar alguém por um bem maior quando levantaram os riscos. Ela sabia que, caso acontecesse, não recorreria ao papel para julgar se interferiria ou não.
─ Quero mais informações da cena. Compartilhe comigo as imagens da câmera de segurança do posto de combustível. Com sorte, conseguiremos ver alguma coisa.
─ Sem problemas! Vou executar agora.
O comandante continuava a narrar a cena:
─ O fugitivo subiu em uma caminhonete que passava pela rua, e o nosso alvo ainda lhe persegue. Parece que ele arremessou algo perfurante no garoto. Preciso de um comando urgente para agir, Master!
Dentro da cabine da caminhonete que carregava Andrew, o motorista tomava o último gole de uma latinha de cerveja. Estava embriagado demais para dar atenção ao que acontecia atrás de seu veículo e nem mesmo percebeu os indivíduos quando os ultrapassou. Além da percepção comprometida pelos efeitos alcoólicos, ouvia o rádio do veículo tão alto que o som produzia mais ruído do que sonoridade.
─ Vai novinha... Vai novinha... ─ Ele cantava o único trecho que lembrava daquela música de funk.
A criatura levou rapidamente a mão esquerda até a cintura e arremessou um último objeto brilhante que possuía. Andrew abaixou para desviar, e o objeto acertou a cabine principal da caminhonete, fincando no compensado que substituía o vidro traseiro. Os vários objetos arremessados finalmente foram identificados pelo jovem. Eram hira shurikens, um tipo de shuriken de quatro pontas. Presumiu que fosse uma daquelas que estava encravada em suas costas. Ele pôs-se de pé no veículo e equilibrou-se cuidadosamente.
─ Isso tem que acabar. Isso tem que acabar aqui e agora. ─ Andrew sussurrou.
O jovem observou rapidamente o redor. Não havia ninguém além deles cruzando a pista. O fugitivo esperava o momento certo para dar o ponto final na perseguição e percebeu que ele chegara. Era a primeira oportunidade de revidar a surpresa que recebeu ao ser atacado, e não podia recuar. A adrenalina do momento ajudou a tomar a decisão final: era a hora de mostrar o seu melhor.
O comandante da operação de solo não aguentava esperar nem mais um segundo por uma resposta da central e abriu a porta do veículo para observar melhor e se preparar para uma reação rápida. Um manto verde-escuro escondia o seu corpo de um curioso qualquer e seu cabelo tapava suas orelhas e parte do rosto.
─ Vocês dois fiquem de prontidão para caso alguém apareça. ─ Dizia ele para os outros agentes no carro. ─ Não façam nada sem que eu autorize.
Logo que saiu do automóvel, pegou sua arma preferida que estava no banco traseiro, se posicionou por trás da porta do carro, ainda aberta, e tornou a observar seu alvo. Andrew e o elfo negro já estavam distantes para que um humano visse com detalhes o que acontecia, ainda mais por ser noite, mas o comandante enxergava com perfeição.
─ Central, temos mais um problema. O nosso alvo está atacando a sua vítima com shurikens. Ele pode acertar algum ponto vital a qualquer momento. Além disso, acho que existe um líquido viscoso na shuriken, e vocês sabem o que isso significa.
A criatura corria freneticamente, ora distanciando, ora aproximando, mas sempre com certa distância da caminhonete. De repente, o motorista avistou o que para ele era a primeira lombada da noite, e começou a reduzir a velocidade.
─ É o meu momento. ─ Sussurrava Andrew novamente. ─ É preciso fazer, é necessário acabar logo com isso... ─ Entoando como uma oração, ele se encorajava a reagir.
A caminhonete encostou para a direita da pista, ficando próxima à calçada e ao muro de uma casa enquanto reduzia a velocidade para passar pela lombada. O elfo negro viu a sua oportunidade de acabar o que começou e acelerou, pulando na parede da casa e impulsionando-se ainda mais alto na direção do jovem. Enquanto estava no ar, ele sacou sua espada e levantou-a acima da cabeça, segurando-a com as duas mãos para aplicar um golpe fatal.
Na central de operações, a equipe acabara de receber os detalhes da cena através do comandante. Mesmo controlando as câmeras de segurança do posto de gasolina, Andrew e a criatura já estavam distantes demais para que fossem filmados dali. A Master só podia contar com a narrativa do comandante, e cada nova frase vinha com um tom mais desesperador.
─ A caminhonete está reduzindo! A criatura vai atacar! Se for para agir, precisa ser agora!
A equipe da central precisava responder imediatamente. Os líderes de equipe aguardavam uma decisão da Master, que por sua vez lutava contra si mesmo para responder o que achava ser o certo a fazer. Pelo lado profissional, precisava garantir a integridade da missão independente do que acontecesse, e, pelo lado pessoal, não podia permitir que uma pessoa morresse para que seu objetivo fosse cumprido. Além disso, um fato vivido dias atrás pesava ainda mais na sua decisão por ouvir o lado pessoal. Ela não queria ter de carregar o fardo de mais uma morte pela possibilidade do seu plano dar certo.
─ Master, não podemos atrapalhar o andamento da missão. ─ Alertou Pedro Henrique. Ele não sentia nenhuma compaixão.
O comandante não ouvia nenhuma resposta da central de operações. Pensou que talvez a conexão houvesse caído, mas não tinha tempo para conferir. Tomou a decisão por conta própria. "Que se dane a merda da resposta!" ─ Pensou ele. Ajeitou um projétil em sua arma, mirou e disparou.
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A Extinção
FantasyEm um mundo aparentemente como o nosso, poderosas raças habitam na penumbra da vida humana. Vivem na escuridão da noite, punidas de caminhar à luz do Sol por divindades primevas. Os seres humanos desconhecem a existência de outros seres e os encontr...