Abi continuava com sua boca aberta, sem nenhuma reação além dessa. Eu não sabia o que fazer para que ela saísse do transe eterno.
Não intendia o porquê de ela estar assim. Foi por que minha recepção foi brevemente ignorada? Não, ela sabe que eu não sou uma pessoa sensível. Era um dos exnamorados de Abigail? Ou ela só ficou extremamente mexida com a tamanha beleza daquele rapaz? Eu não poderia dizer.
Eu a sacudia levemente pelos braços, mas ela estava assustada e olhava atentamente pro nada.
— Eu desisto. – Exclamei enquanto a soltava de uma forma mais exagerada do que o necessário.
— Ele não podia voltar – sussurrou tão baixo que quase não pude escutála.
Voltar? E ele já tinha vindo aqui alguma outra vez? Meu cérebro tenta buscar aquele rosto, sem sucesso. Sem dúvidas eu me lembraria daquele rosto caso o tivesse visto antes. Sem. Dúvidas.
— Quem é ele?
A vi puxar uma grande quantidade de ar, passar a mão pelo seu cabelo avermelhado e olhar para mim. Exatamente nessa ordem e então pensou um pouco demais antes de falar. O que, é claro, está errado de um milhão de formas diferentes.
— Meu ex.
A olhei com descrença, confirmando meu pensamento anterior.
— Ex? De quando? Abigail nós nos conhecemos desde que éramos feto e aquele rapaz nunca esteve em sua vida. – Fiz cara de indignação.
Ela pensou mais um pouco, o que continua errado de outras milhões de formas, antes de me responder.
— Se lembra daquela viagem que eu fiz? Pro Canadá? Então, eu conheci ele lá e a gente ficou. Só que ele não deveria estar aqui.
Eu continuava escutando suas explicações de como conheceu aquele garoto, mas nenhuma delas faz sentido para mim. Por que Abi nunca me contou que ficou com um menino no nosso país vizinho? Ela é minha melhor amiga e já tem quase três anos que ela fez essa viagem.
— Ok não precisa me dar explicações da sua vida amorosa, vou pra sala.
— Eu te acompanho
— E cá entre nós, dizer "ex" é um grande exagero caso vocês só tenham se pegado uma vez.
— Kathi! – ela me deu um tapa meio constrangida e olhou para os lados, apreensiva.
E como papel de amiga eu simplesmente esqueci e resolvi não tocar mais naquele assunto, se fazer de louca algumas vezes é a melhor opção.
Fomos andando uma ao lado da outra, falando sobre roupas, cursos, garotos, até Matteus chegar e cortar a conversa.
Felizmente ou infelizmente (ainda não me decidi), ele faz parte da nossa roda de amigos. — Abi, você... Tá bem?
Abi? Virei o que? Sombra?
— Tô', e você?
— Também, só um pouco nervoso, mas bem. Viu quem chegou hoje?
Vão continuar me ignorando! Não sou uma pessoa muito baixa, não custava nada me incluir na sua lista de "estou preocupado com o humor da minha amiga" querido Matteus. — Pois é... É agora?
— Oi! Eu estou aqui! E não estou entendendo nada também, caso queiram esclarecer. Talvez assim vocês notem que eu estou aqui também .
Sem chances, eles estavam entretidos de mais em falar sobre "aquele que chegou hoje", do que me notar. Então fui pra sala sozinha mesmo.
Meu dia começou com o pé esquerdo, meu Deus.
Minha amiga não me conta as coisas, meu amigo simplesmente me ignora, mas quem eu quero enganar? Não posso cobrar pra ela me contar tudo. Sim, somos melhores amigas, mais tem certas coisas em que é necessário guardarmos para nós mesmos.
E quanto ao Matteus? Ah ele é um babaca mesmo.
— Não olha por onde anda garota? Ou só sai esbarrando em pessoas bonitas?
No meio do corredor tinha projeto de poste parado ali, plantado igual uma árvore.
— Me desc... – Espera. O quê? – Eu hein garoto, tá se achando a ultima bolacha do pacote né.
— Pra sua informação eu não me acho, eu me tenho certeza – disse estufando o peito.
— Ah claro. Vai se "ter certeza" em outro canto então, não tô com paciência pra aturar menino mimado.
Passei por ele e bati no seu braço, de propósito. Maturidade? Conheço não, pode me apresentar?
Só que eu acho que ele não se agradou muito desse meu excesso de maturidade e segurou meu braço, me fazendo olhalo.
— Olha só garota, eu estou pouco me lixando se você é o estilo de garota "sou imbatível", ou não, mais pensa duas vezes antes de esbarrar em mim de novo. Quanto mais distante você ficar longe de mim melhor, ouviu bem?
— Perfeitamente! E se você está se lixando tanto assim, pra que ter o desprazer de me segurar mais um pouco na digníssima presença só pra isso? Agora me solta, coisa chata. Ele largou meu braço como se eu fosse um brinquedo que ele cansou, assim, nesse exato descaso.
O novato se achando o gostosão, depois vem "ameaçar"? Ah, por favor, né. Terceiro esporro do dia, maneiro!
Simplesmente sigo em frente entrando na minha classe – que, aliás, nunca pareceu tão longe – com minhas costas e coração doendo por conta das quedas que tive hoje.
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Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Novela JuvenilQual a solução para alguém que se sente incompleto? Como se parte da sua vida fosse simplesmente apagada por uma borracha e a tinta da sua caneta já não estivesse em perfeitas condições para reescrever sua história. Esquecer pessoas que são necessár...