As primeiras três aulas passaram voando, mas cada segundo parecia precioso. Tem dias no qual você acorda e a última coisa que quer fazer é levantar da cama. Meu dia está de cabeça para baixo, e isso que ele mal começou.
Ainda me pergunto quem é Adam. Minha mãe sempre disse, desde que eu era pequena, que acasos são coincidência do destino, e me pergunto se realmente são. A vida é uma série de acontecimentos e a minha ainda está na primeira temporada.
— Ei, senhorita? O sinal.
Olhei o professor com uma expressão cansada me observando, deveria estar a muito tempo tentando prender minha atenção.
— Desculpa, já estou saindo. Me dá cinco minutos pra guardar minhas coisas?
— Vou indo, só feche a porta ao sair.
Assenti com a cabeça. Sr. Schu é gente fina, lembro que por algum tempo eu fiquei com síndrome do pânico. Não me lembro do porque, mas segundo minha mãe não teve causa – algo que duvido bastante – e ele me ajudou muito, sou bastante grata a esses gestos!
— Você não muda não é! Continua se atrasando para o intervalo.
Lá estava ele, apoiado no batente da porta, me olhando. Cabelo bagunçado, braços cruzados e sua cara de mala. Não ia me dar ao trabalho de responder, mas as vezes a pessoa pede.
— Como se você me conhecesse o suficiente para falar isso. – revirei os olhos.
— Um ano e meio pra você não foi suficiente?
— Acho que você está me confundindo.
— Não se faça de burra! – ele gritou.
O olhei novamente, estava pronta pra sair dali o mais rápido possível, mas o ato de gritar comigo não ajudou minhas pernas a se moverem. Dava pra ver a angustia em seus olhos, a dor em seu coração, mais eu não sentia nada, absolutamente nada.
— Sinto muito se o tempo me fez esquecer você.
Peguei meus livros que estavam sobre a mesa e saí.
Andei pelos corredores que levavam a cantina e me sentei à mesa, junto com meus amigos. Meus amigos, todos juntos. Isso só acontece em duas ocasiões, ou é tragédia ou fofoca. E não demorou muito para as perguntas começarem.
— Então Kathi, por que demorou tanto?
— Nada de importante, só fiquei guardando minhas coisas.
— Novidade, todo mundo sabe que você sempre se atrasa.
Todo mundo? Pelo jeito, isso inclui o novato.
Desde quando meus atrasos pessoais começaram a se tratar da conta dos outros? Que saco! Ele mal chegou e já está se metendo, fazendo com que meus amigos comecem a notar as coisas que eu realmente faço, é uma mania me atrasar e só depois de ele chegar que eles notam isso?
Mais pelo visto tem outras coisas incomodando a eles, especialmente Abigail.
— Que foi Abi? Aconteceu alguma coisa?
— Não, só acho estranha essa aproximação de vocês agora.
— Vocês quem? – perguntei me fazendo de desentendida. — Você e o A...o novato.
Como? Abi acha que estou "furando o olho" dela? Eu não acredito que depois de tanto tempo ela pode achar que eu seria capaz de fazer isso. Mas o que mais me incomodou foi o silêncio que reinou sobre a nossa mesa, não sei ao certo se era por espanto ao ouvir o que Abi acabará de dizer ou se por que todos que estavam ali concordavam com isso.
Nenhuma das opções era boa.
— Se você pensa assim Abigail sinto muito, mais não posso ficar me escondendo por ai só pra te deixar um pouco mais segura, e se você quer saber, quem me procurou foi ele. Agora com licença, que o ar aqui já ficou pesado de mais.
— Espera Kathi...
— N ão, eu não quero piorar as coisas então só... Só me da um tempo. – levantei tentando organizar meus pensamentos e pegando minhas coisas.
Sou uma pessoa que não tem prazer em ser orgulhosa, a mágoa toma conta de mim e demora pra me acostumar com meu próprio jeito. De tempo ao tempo. Foi isso que sempre me ensinaram. O que eu posso fazer agora é só processar, fazer qualquer coisa de cabeça quente nunca acaba bem e apesar de ter sido uma discussão breve, me afetou bastante. Afinal, que tipo de pessoa minha melhor amiga acha que eu sou?
Sai da faculdade, assim, sem terminar de lanchar, de assistir as aulas ou até mesmo me despedir do pessoal. Por hoje eu cansei de estar cansada, só por hoje eu quero me deitar e acordar só quando for realmente necessário, e é isso que vou fazer.
Entrei em meu carro e dei partida, sem me preocupar porque sabia que algum levaria Abi para casa, e assim fui pronta para passar o resto da tarde mofando em um sofá, comendo muitos doces. Meu celular não para de tocar um segundo, mas tem um numero em especial que estou curiosa pra atender, e assim o faço.
— Alô?
— Se você não voltar pra cá agora, eu mesmo vou te buscar!
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Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Roman pour AdolescentsQual a solução para alguém que se sente incompleto? Como se parte da sua vida fosse simplesmente apagada por uma borracha e a tinta da sua caneta já não estivesse em perfeitas condições para reescrever sua história. Esquecer pessoas que são necessár...