episódio 04 :: VIDA NOBRE

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Texto de: Edson Lemes Júnior "Druida das Pradarias"
ANO DE ERA: 1656

Quando eu era jovem, podia ver nos olhos das crianças menos abastadas que muitas delas gostariam de estar no meu lugar. Claro que elas gostariam, afinal, elas só podiam ver o lado luxuoso da minha vida. Filho de um Marquês no reino de Belthor, minha vida realmente era regada a fartura, todo o tipo de luxo que uma criança poderia querer e muito mais do que isso.

Porém a medida que fui crescendo, percebi que sobreviver em meio a este covil de serpentes deve ser muito mais difícil que sobreviver a fome e as pestes que a plebe enfrenta. Um ninho de criaturas peçonhentas que começaram a destilar seu veneno em 1649, quando meu irmão Eduard consumou seu casamento com Helena. Vou lhe contar minha história:

Tudo começou no ano de 1652 quando meu pai sucumbiu a uma doença desconhecida. Os curandeiros reais não souberam identificar a doença que o definhou em três dias e duas noites. Após isso, meu irmão Eduard assumiu o posto de Marquês, defensor da fronteira norte de Belthor, ele tinha vinte e um anos na época, isso o fez ficar quase um ano inteiro em viagens a capital, para reafirmar seus votos ao rei e aos baronatos, vassalos de nosso pai. Neste tempo Helena assumiu o controle do castelo Valérius, foi então que as coisas começaram a mudar.

Primeiro ela impediu que meu amigo Jocah, filho do capitão da guarda, circulasse livremente pelo castelo. Ela dizia que ele não tinha sangue nobre e que eu deveria mantê-lo em seu devido lugar.

Este direito dado ao Jocah, por nossa amizade e pela confiança que meu pai tinha ao pai dele, não podia ser tomado. Mas o pai de Jocah, temendo por seu filho, achou melhor respeitar as ordens da minha cunhada.

Mas as coisas não pararam por aqui. Logo ela começou a castigar os servos de maneira cruel e minhas lembranças do dia do casamento voltaram. E dúvidas começaram a enevoar meus pensamentos: será que meu pai havia realmente sucumbido vítima de uma doença?

Eduard voltou em 1653, mas sua vida de marquês exigia que ele viajasse muito, deixando o castelo mais tempo aos cuidados de Helena do que eu gostaria. Por mais que eu reclamasse, ele dizia que eu deveria respeitá-la, pois ela era para mim como uma irmã mais velha e na sua ausência era ela quem governava.

Eduard não entendia, ele nem mesmo tinha tempo de me ouvir e Helena governava como desejava, tornando a vida dos servos um inferno. No começo alguns tentaram fugir, mas foram capturados por nossos soldados antes da noite cair e pendurados, ainda vivos, pelos punhos no grande pátio, tendo uma morte lenta por asfixia, fome e sede, para que todos vissem o que aconteceria aqueles que não a obedecessem. Os corpos eram estrategicamente removidos antes de qualquer retorno do meu irmão ao castelo e era só neste período que os servos tinham um pouco de paz.

As coisas começaram a piorar com o passar do tempo. Helena era uma víbora e agora se deitava com qualquer homem que passasse perto de sua cama, todos viam, sabiam, mas ninguém tinha a coragem de contar a Eduard quando este permanecia, mesmo que por pouco tempo, no castelo.

Finalmente, no ano 1656 eu tomei uma decisão após uma conversa com meu amigo JOCAH.

- Isso não pode continuar assim Leonel, seu irmão faz papel de idiota para seus súditos. E a notícia corre de boca em boca, você é irmão dele, precisa contar a ele.

- Mas e se ele não acreditar Jocah?

- É um risco a ser corrido, mas pelo menos sua consciência estará tranquila e você plantará a dúvida em seu irmão, ele abrirá os olhos, mesmo que demore um pouco, mas começará a observar detalhes e não demorará muito a colocar alguém para vigiar Helena.

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