ERA Novels - a sua novela medieval

episódio 11 :: Velas Negras

Texto de: Edson Lemes Júnior "Druida das Pradarias"
ANO DE ERA: 1658

Dois anos se passaram desde que Jhon e Lahraa foram vendidos a Narviu. Desde então passaram a receber treinamentos nada convencionais que consistiam em: treinar sobre tablados amarrados por cordas, o que tornava a superfície para o combate muito instável e exigia muito equilíbrio, treinamentos de escalada e combate em cordas, treinos em subterrâneos escuros e geralmente estreitos o que aumentava a habilidade de combate na escuridão. Logo ficou claro para ambos que aquilo não era apenas uma casa de gladiadores, algo mais estava sendo realizado ali.

Em pouco mais de seis meses o próprio Narviu revelou a eles que havia outro tipo de negócio. "Negócios marítimos" ele disse, mas isso era outra forma de dizer "atos de pirataria". A cada dia que passava as coisas ficavam mais claras a Jhon e Lahraa e eles perceberam que os escravos de Narviu não eram assim tão escravos. Eles amavam seu mestre e eram muito bem tratados por ele, diferente dos escravos gladiadores de outras casas, aqui eles tinham liberdade de ir e vir quando quisessem. Podiam sair pela cidade, recebiam salários e parte do saque, que seu mestre e capitão dividia com eles.

Jhon e Lahraa ainda não tinham estas regalias, precisavam provar seu valor e sua fidelidade a causa e só então seriam considerados um irmão da ordem. E este dia cada vez mais se aproximava.

Narviu ainda tinha de participar de alguns jogos nas arenas com seus "gladiadores", pois precisava do disfarce de casa de gladiador para encobrir seus verdadeiros negócios e não atrair a atenção para eles. Mas quando escolhia quais jogos participaria, sempre escolhia a dedos, jogos fáceis de seus homens vencerem e assim evitar ao máximo a baixa entre eles. Além disso, os homens que se arriscavam na arena recebiam todo o dinheiro que seria pago a casa pela participação dos jogos, assim Narviu tinha vários voluntários que realmente se dedicavam também nas arenas.

***

Naquela manhã especial de primavera, o dia amanheceu ensolarado e nenhuma nuvem encobria o céu. Lahraa e Jhon acordaram antes do sol nascer, como de costume, e já estavam no pátio participando de treinos pesados ao lado dos demais "escravos" da casa. Narviu apareceu na sacada de seu quarto, que dava para o pátio de treino logo que ouviu os primeiros golpes de espadas, como fazia toda manhã.

Mas aquela manhã era especial, todos sabiam quando Narviu surgiu na sacada vestindo sua lustrosa armadura de escamas refletindo o sol matinal. Ele apoiou suas mãos no beiral, olhou para baixo e disse em bom e alto tom, para que todos ouvissem:

- Guerreiros e guerreiras, irmão de sangue e de saque. – Todos pararam o que estavam fazendo e viraram-se para a sacada em posição militar, como respeito a seu mestre e capitão. – Hoje será um dia especial, será um dia de glória, um dia que regaremos nossas lâminas com sangue inimigo, encheremos nossos bolsos com dinheiro de saque e nossas barrigas com vinho e carne. Hoje faremos uma expedição e por isso conto com a total disposição de vocês. Para alguns será a primeira vez a me acompanharem no mar, quero mostrar-lhes que foram comprados pela melhor casa de gladiadores de Tâmatuz e que estão além da escravidão, estão jurados a mim como seu capitão e irmão de combate. No mar, não existe senhor e servo, apenas irmãos... irmãos de combate.

Todos levantaram a mão direita e urraram quando ele disse tais palavras. Narviu esperou os gritos se acalmarem então continuou.

- Hoje eu convido vocês a me acompanharem. Nosso navio já está sendo preparado no porto, quero que vocês guardem suas energias, pois ao cair da noite embarcaremos rumo ao nosso destino.

- E qual será nosso destino senhor? – Gritou um veterano experiente.

Narviu coçou o cavanhaque muito bem aparado, levantou o olhar e olhou o horizonte, como se estivesse a vislumbrar seu destino, então olhou para o veterano e disse: