episódio 06 :: NASCIDO DO FOGO

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Texto de: Edson Lemes Júnior "Druida das Pradarias"
ANO DE ERA: 1656

Mesmo com os olhos fechados, a claridade atravessava suas pálpebras, seus olhos ardiam e ele tinha medo de abri-los. Abriu-os lentamente e a claridade ofuscou qualquer chance de enxergar o mundo a sua volta.

Ele podia sentir a pedra quente sob suas costas, estava deitado sobre uma pedra lisa aquecida pelo sol. Suas mãos instintivamente foram levadas aos olhos, que ardiam e só enxergavam um grande borrão branco.

- Veja Alves, o que temos aqui? – uma voz rouca chamou sua atenção a esquerda, ele virou seu rosto e pode ver um vulto, não mais que isso. Seus olhos ainda se adaptavam.

- Ele daria um ótimo escravo, não acham? Jovem e forte para a idade. – Diz uma segunda voz, mais suave que a primeira, mas repleta de deboche, outras vozes concordaram ou riram a sua volta. Ainda não era possível saber quantos eram.

Rapidamente ele se sentou, seu coração disparou. Onde estou? Foi seu primeiro pensamento, forçou a mente para tentar lembrar-se, mas as únicas lembranças que surgiram foram: fogo e um nome, Leonel... Leonel Valérius.

- Hei garoto, o que faz aqui? – Disse uma terceira voz. Mais suave.

Seus olhos já começavam a se adaptar a luz. Olhou a sua volta, estava no meio do nada, havia mato a sua volta e ele estava sob um túmulo antigo, sob uma grande lápide de pedra branca, suja pelo tempo e rachada ao meio. Uma grande estátua desgastada e quebrada estava a suas costas, devia ter representando o dono daquele túmulo a muitas eras passadas. O que fazia ali, não sabia. A sua volta seis homens nada amigáveis o olhavam, a seus pés, algo embrulhado em um trapo vermelho, um tecido antes fino e de alta qualidade, hoje apenas um trapo. Ele se lembrou. Sua espada! Ali estava sua espada, sua companheira e salvadora, seu guia.

- De onde é garoto, perdeu a língua? Ou não entende a nossa? – disse o homem de voz rouca, um humano com a pele queimada do sol, sem a orelha esquerda e com um horrível furúnculo no nariz.

Um segundo homem, este não era humano, sua pele era negra como a noite, seus olhos vermelhos como o sangue, seus dentes afiados como os de uma serpente e suas orelhas pontudas como as de um elfo se aproximou. Quando ele falou, podia-se notar um forte sotaque estrangeiro que o jovem garoto não soube reconhecer de onde era.

- O que é isso enrolado nestes trapos. – no momento que ele fez menção de pegar a espada, um flash veio a mente do jovem e ele viu o homem em chamas. Rapidamente ele esticou a mão num sinal de pare e disse:

- Não toque.... é minha espada, mas ela não pode ser tocada. Não sei o porque, mas sei que não pode. Você irá se ferir.

O homem parou por um segundo, então lançou seu olhar vermelho a seus companheiros e gargalhou.

- Está tentando nos amedrontar garoto? Me de isso....

No momento que o homem toca o trapo vermelho, uma claridade fere os olhos de todos a volta, como um poderoso flash de luz. O garoto olha a sua volta, todos gritando e colocando as mãos para proteger os olhos, mas ele mesmo não sente nada. Os trapos rapidamente entram em chama que sobem pelo braço daquele que a tocou. As chamas consomem os trapos com uma velocidade incrível e revela uma espada de lâmina vermelha, runas desconhecidas surgem luminosas em sua lâmina, brilhando e um tom dourado, seu punho lembrava labaredas que se fundiam com a lâmina e esta parecia nascer do meio destas labaredas. Com a mesma velocidade que as chamas consumiram os trapos, elas consomem o estranho homem que grita e agoniza, enquanto o fogo o purifica.

O jovem toca a espada e sente, sim ele sente algo inexplicável, acolhedor, apaixonante. Como dois amantes se tocando, como um recém-nascido recebendo pela primeira vez o toque da mãe... ele sente, o poder flui pelas veias do seu corpo, um calor aconchegante o envolve e ele houve a espada lhe dizer: Haji!

Quando abre os olhos, ele percebe que os cinco homens restantes estão de espada em punho, mas paralisados, apenas o observando.

- Que... quem é você? – diz aquele com voz suave, parecia o líder. Usava um gibão de couro escaldado, já surrado pelo uso, seus cabelos cinzentos já mostravam uma idade avançada ou uma vida sofrida e uma enorme cicatriz repuxada um pouco o seu lábio para o lado esquerdo, a suas costas ele levava um pequeno bajo. Provavelmente um cantor, ladrão e andarilho.

O garoto não teve dúvidas, não sabia ao certo se era ele quem respondia ou se a espada respondia por ele.

- Sou Haji, o nascido das chamas. Retorno a este mundo em busca de um homem e seu nome ecoa em minha mente: Leonel Válériu. - A voz do garoto já não era mais a mesma, algo parecia ter-lhe possuído.

O homem de voz rouca diz:

- Não sabemos quem é este, somos viajantes, decidimos evitar a estrada e encontramos você neste antigo túmulo. Deixe-no em paz, ok. Vamos partir e fingimos que nunca nos encontramos.

Os olhos do garoto ardem um pouco e ele passa a ver a calor de tudo a sua volta, o calor que corpos emanavam que as plantas emanava e até mesmo de animais ocultos na relva. O sol aquecia sua pele, mas isso era bom, ele parecia sugar o calor do sol e da pedra escaldante sob seus pés.

- Porque? – ele diz.

- Porque o que garoto? – pergunta aquele que parecia ser o líder.

- Porque devo deixa-los ir?

- Não te queremos mal, não temos nada a lhe oferecer, somos apenas viajantes.

Algo nele assustava os homens, mas ele não sabia ainda o que era. Podia sentir o poder fluir por seu corpo, mas que aparência isso lhe dava, ele não sabia. Ele queria deixar os homens ir, mas algo o fazia pensar o contrário. Queime, purifique, era o que restava em sua mente.

Sem dizer uma palavra ele ergue os braços. Um grande círculo de fogo surgiu do solo em volta do túmulo, consumindo carne e vegetação, envolvendo todos os homens a sua volta, seus gritos e súplicas subiam tão alto quanto as labaredas e ele só pode pensar: um sacrifício a ti, meu senhor Pyrus.


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