Capítulo 02- Não sabia o que estava fazendo

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Não sabia o que eu estava fazendo. Sabia que estava ficando louco, isso eu tinha certeza. Lá estava eu, seguindo uma garota e não fazia ideia do que dizer quando a alcançasse, pra falar a verdade essa não era a minha intenção, eu não queria falar com ela e muito menos tinha ideia do que dizer caso tivesse que faze-lo. Talvez seja por isso que mantive distância, só observando seu caminhar e como seu cabelo negro brilhava com o sol. Não podia deixar sem registrar, senti uma vontade imensa de tirar quantas fotos fossem possíveis dela, e assim eu fiz. Como a câmera de minha mãe era a única que estava comigo, tirei tantas fotos quanto pude, sem fazer ideia se estavam tremidas ou se o ângulo estava bom.

A segui por três quarteirões até chegar em uma avenida, com buzinas e movimento de pessoas andando apressadas e vivendo suas vidas com suas próprias preocupações. A cada passo que eu dava perguntava a mim mesmo o que diabos eu estava fazendo e se eu não devia dar meia volta. Mas eu precisava segui-la. Só precisava.

Eu estava passando pela rua movimentada do centro da cidade, tendo que erguer o pescoço para procura-la a cada segundo, foi quando meu celular vibrou no bolso e eu o peguei apressado, ainda nas pontas dos pés olhando ao redor, vi seu casaco amarrado na cintura de longe e comecei a andar rápido na direção do mesmo –ainda não tinha ideia do que estava fazendo-, olhei o visor e era Tia Jane, atendi.

- Alo?? –Disse apressado passando entre as pessoas-

- Caleb ??? Onde você se meteu ?? Já faz mais de uma hora que você saiu de casa e o supermercado é na esquina. To ouvindo uma barulhada, onde você esta ? –A voz dela soou meio mecanizada por causa do celular.

- Ammm.. No centro ? –soou mais uma pergunta do que como uma resposta pra mim

- Oque você ta fazendo aí?? Esta tudo bem?

-Silencio-

- CALEB ??

- Oi! Eu to aqui, relaxa, ta tudo bem. Eu só.. eu.. eu vim aqui no centro procurar amaciante que tinha acabado no Supermercado aí perto, Já to voltando. Pode ficar tranquila, tia.

- Ah meu Amor, não precisava fazer isso, prefiro que venha logo. Depois seu tio traria o amaciante. Não demora, querido.

-Não vou..

Desliguei o celular e respirei fundo. Não gostava de mentir pra minha tia, mas o que ela iria pensar se eu dissesse que estava perseguindo uma garota que tinha acabado de ver em uma cafeteria? De qualquer forma, olhei em volta e procurei por todos os lados, ela não estava mais lá. Não sei como isso foi possível, fiquei rodando aquele espaço várias vezes a sua procura mas ela tinha simplesmente desaparecido. Passei a mão por meus cabelos castanhos que estavam grandes a ponto de cair sobre a testa em cachos ridículos e respirei fundo, dei meia volta e voltei pra casa me perguntando o que tinha acabado de acontecer.



Já tinha se passado uma semana desde que eu tinha visto a garota de casaco cinza, eu não sei o motivo, mas não conseguia tira-la da minha mente, ficava revendo todas as fotos que havia tirado, e em todas, ela se encontrava incrivel. Por que uma garota, que eu não cheguei a trocar nenhuma palavra, parece que tomou conta da minha mente e de meus pensamentos? Não tinha motivo. Isso era.. Loucura

O mais louco de todos é que eu sentia a necessidade de vê-la mais uma vez. Eu cheguei a ir na cafeteria mais três vezes essa semana –Eles foram bem legais em ter guardado as minha compras aquele dia que eu sai igual um desesperado pra seguir uma estranha, ponto positivo.- E todas elas foram muito estranhas.

A primeira vez foi a única normal, pedi meu café grande e me sentei na mesma mesa do que a dois dias antes e ficava olhando pra todos os lados a procura de qualquer coisa, de um cabelo negro voando, ou a ponta pontuda da sua bota de couro ou um único casaco cinza amarrado na cintura. Qualquer coisa, mas nada apareceu. Fiquei quarenta minutos sentado olhando para o nada, poderia ficar mais quarenta se eles não precisassem da mesa.

Apesar do fracasso do primeiro dia que fui a cafeteria a espera de vê-la, eu fui pela segunda vez, não sei de onde tirava tanta vontade de ficar tanto tempo sentado olhando as pessoas em busca de algo muito improvável, eu só queria olhar pra ela, admirar seu rosto em formato levemente quadrado com um maxilar marcado, tão branco que parecia que não via sol, e seus olhos verdes como duas esmeraldas gritantes. A segunda vez foi estranha, para falar a verdade, ela não apareceu, como era de se esperar, mas logo no meio do caminho eu tinha a constante vontade de olhar pra trás, eu o fiz várias vezes. Me sentia observado, sendo vigiado, mas quando virava, tinha apenas eu na rua. Eu estava ficando louco mesmo.

A terceira foi mais estranha comparada a segunda. Aquele dia eu saí de casa perto do horário de sempre, que foi o horário que a vi pela primeira vez, próximo das quatro e meia da tarde. Por ter sentido aquelas coisas no dia anterior, procurei um caminho diferente. Tudo estava normal e tranquilo, aquele dia estava mais frio –Não sei o que há com essa cidade, um dia está um calor com a sensação térmica de trinta e cinco graus e no dia seguinte um frio de ficar em casa com sopa e chocolate quente- então estava com meu moletom preto e com as mãos nos bolsos olhando para cada passo que dava e o movimento de meus pés. Foi ai que eu ouvi. Soava como passos, passos ocos e pesados, mas ao mesmo tempo leves e calmos. O barulho vinha de cima. Virei rápido seguindo o som, então fiquei paralisado.

Em cima do telhado tinha um vulto negro e grande, por algum motivo não conseguia olhar fixamente para ele, mas senti que ele me observava. Fechei os olhos rápido para saber se aquilo era real e quando eu abri novamente, tinha desaparecido. Assim como a Garota do Casaco Cinza.

Essa foi a prova de que eu estava ficando louco mesmo, não é possível. Eu voltei para casa o mais rápido que pude, nem cheguei a ir na cafeteria. Cheguei em casa atordoado e meus tios estavam na sala assistindo televisão. Sem atrapalhar nada eu subi e entrei no meu quarto, tomei um banho e me deitei, fiquei olhando pro teto procurando entender o que poderia estar havendo.



Mesmo depois de três semanas eu não conseguia tirar a imagem daquele vulto negro me observando no telhado, assim como não conseguia tirar a imagem da garota de casaco cinza. Como eu me sentia tão apegado a ela? Era como se já nos conhecêssemos a tempo ou estivéssemos destinados a isso.

Continuei revendo as fotos da garota, uma ela estava andando apressada, o cabelo escondeu seu rosto e ela abraçava um caderno bege com toda a força. Fui passando as fotos e aparentemente todas escondiam seu rosto, em uma o cabelo, em outra ela coçava o rosto, em outra o meu dedo ficou na lente, até que eu achei uma. Uma das ultimas que eu havia tirado, mas ao observar, percebi que não dava pra ver seu rosto também, era como se uma luz saísse dos seus olhos dando um reflexo vindo de dentro dela. Franzi o cenho e aproximei a câmera dos olhos, ela mantinha os olhos abertos e a luz saindo, como aquilo podia ter acontecido? Se bem que a câmera já era velha podia estar com algum problema... Mas e o vulto..

- CALEEEEB A COMIDA ESTÁ NA MESA

Tia Jane gritou me tirando dos pensamentos.

-JÁ TO INDO !

Gritei de volta, achei melhor esquecer aquilo por um tempo, estava me corroendo. Desliguei a câmera, coloquei na escrivaninha e desci pra comer.

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