capítulo II

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O celular tocava incessantemente em cima da mesinha ao lado da cama. Quem sera que ousava lhe acordar em plena 9 da madruga de sábado.  Deu vontade de deixar tocar ate cair, mas não resistiu a curiosidade de ver quem era. Lya esticou  braço, pegando o celular para dar uma espiadinha. Mike, deixar de atender lhe daria uma dor de cabeça bem maior. Tentou disfarçar a voz de sono. 

_Alô!

_ Bom dia amor, te acordei?

Resistindo a vontade de responder que sim, afinal era uma pergunta mais que idiota para aquela hora.

_não amor, eu já estava acordada. aconteceu algo?

_ não, esta tudo bem. Só to ligando pra dizer que estou saindo de casa agora. quando chegar te ligo de novo.

_ok amor, faça boa viagem.

Lya desligou o telefone, virou pro lado e decidiu que anda dava tempo pra mais um cochilo.

Eram 3 horas e la estava ela no cafe de sempre com seu livro, havia se tornado habito, estar todos os dias na mesma mesinha de canto. Gostava de ocupar seu tempo, afinal cabeça vazia, oficina do diabo, como dizem por ai. Observava quantas pessoas passavam por ali, com suas namoradas, namorados , maridos, amigos, família inteiras. Não estranhava, afinal era um lugar bonito, ficava de frente pra uma praça bem arborizada.

Começou a ler enquanto esperava seu café, pensava consigo mesma, que seria da vida sem uma boa xícara de cafe e um bom livro. Algo lhe roubou de seus pensamentos, um estranho sentava-se na mesinha de frente, parecia um cara normal, devia ter sua idade, um pouco mais alto, cabelos e olhos castanho. Por algum motivo decidiu estuda-lo. Reparou que ele não parecia feliz e não parava de mexer no celular. Parecia calmo e ao mesmo tempo inquieto. Lya começou a imaginar quem ele seria, que vida levava. Percebeu que também pedira um xícara de cafe, bebia cada gole sem tirar os olhos do celular. Com quem conversava? estava preocupado? parecia ansioso, mesmo assim muito calmo.

Mila havia sentado-se junto a ela sem que percebesse.

_Lya, que olha tanto?

Sentiu-se sendo arrastada de seus pensamentos, pela voz da amiga.

_ nada, so estava viajando aqui.

_ainda continua com a mania de estudar todos, não é mesmo? isso é um pouco paranoico sabia? e ate diria que assusta um pouco.

_você sabe que não sou tão boa das ideias ne. Que temos pra hoje? Não responda que nada, não quero passar a noite de sábado em casa vendo tv e comendo pipoca.

_e não vai, hoje festinha do Cayo, lembra, niver dele. Não me diga que não comprou o presente?

_ Mila, como é que eu pude esquecer, preciso resolver isso agora.

O celular toca, Mila se levanta pra atender lá fora. Lya direciona o olhar para a mesa onde o estranho se encontrava. Não estava mais ali. E tava na hora de ela ir a busca do presente para o amigo.

A festa bombava, e Lya tinha bebido um pouco a mais, e como de costume o álcool lhe aguçava a vontade de um contato mais intimo, alerta, melhor mesmo ir pra casa, antes que fizesse algo de que podesse se arrepender depois. Entrou em casa sem fazer barulho, sentia-se muito carente, e numa hora dessas onde estava Mike, a quilômetros de distancia, e mesmo que estivesse apenas em sua casa, dificilmente iria ve-la aquela hora apenas pra acabar com sua carência. Mas Lya também já tinha se acostumado com aquela condição. Nada que uns videos de internet não resolvessem.

Manhã de domingo e Lya já perderá o sono cedo. Talvez a ressaca fosse a responsável por aquela dor de cabeça que lhe mastigava os miolos, mas não responsável por aquela sensação horrível de solidão e abandono que só os domingos conseguiam trazer-lhe. SE tinha um pensamento que lhe era certo era o de que se um dia tentasse suicídio seria num domingo. O dia que todos os fantasmas resolviam sair de seus túmulos e atormenta-la. A verdade é que Lya ate tentava alguns excessos para preencher algo em si. O sexo em demasia, a alegria em demasia, a tristeza em demasia, não conseguia ela achar  meio termo de qualquer coisa.  Era sempre tudo ou nada, preto ou branco. Assim achava que as coisas se tornavam mais fáceis, sem espaço para duvidas ou acaso. Mas sentia-se so nessa sua filosofia, não havia ninguém para compartilhar isso. Seus sentimentos sempre a flor da pele, sofria em demasia por consequência. Havia dias que preferia ficar na sua, sem sair de casa e sem atender o telefone, apenas trabalho e sono pra aliviar, nem mesmo o sexo mais louco lhe roubava de sua dor. Recolhia em se mesma para não ter que dar explicações aos amigos sobre o que tinha,  que sentia, nem mesmo ela podia entender. Ate mesmo de Mike, costumava se afastar, se no inicio ele lhe oferecia abrigo contra aquela dor, a uns tempo lhe aconselhava a tentar fugir, afirmava que tudo não passava de coisas criadas por ela mesma, ou algumas vezes insinuava que fosse coisas do Diabo. e nessas condições, achava melhor nem falar que tava mal. Inventava uma desculpa qualquer e ficava só.

Domingo, nada pra fazer a não ser sentir aquele mal estar. 

Porque não sair e tomar um cafe na esquina, pegar um ar fresco, fugir um pouco.

Foi ao cafe, estava bem vazio. Pediu uma xícara e deu-se conta que havia esquecido o livro. decidiu apenas observar os pingos de chuva que desciam pela janela enquanto bebia o seu cafe pausadamente. Passou o olhar rápido no ambiente, umas quatro pessoas solitárias espalhadas pelas mesas liam jornais ou apenas mexiam no celular. 

Levantou-se e caminhou ate em casa, decidiu que dormiria  resto da tarde.




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