Londres, 25/07/2015, 12h12
Dou uma última olhada no espelho. Louis, você esta acabado. Olheiras a mostra, barba por fazer, cabelo bagunçado, olhos sem brilho nenhum. Quem olha para mim, imediatamente pensa que não durmo a dias. E estaria certo, para variar. Essas noites sem dormir resultaram nisso, e em várias lágrimas caídas pelo meu rosto enquanto eu sussurava para mim mesmo: "Volte para mim." Mais de vinte vezes por minuto.
Todos os defeitos em mim agora destacam-se no Terno preto. Os famíliares dele já devem estar lá, para apoiar Anne. Imagino como ela deve estar.
- Seja forte, Louis. - eu suspiro, na frente do espelho, deixando uma maldita lágrima escapar, o que resultaria em choro excessivo caso eu não à controla-se. - Pelo menos agora. - eu repito a mim mesmo, antes de deixar várias outras lagrimas escaparem. Malditas lágrimas. Eu não queria nada disso. Se eu tivesse me apaixonado por outra pessoa, talvez não estaria sofrendo tanto quanto eu estou agora. Eu simplesmente o amava, e era isso. Porem odiava muitas coisas. Eu odiava o fato de ele ser reservado, pois me fazia ter a curiosidade do seu mundo sem limites condicionados. Odiava o fato de ele ser bonito, pois lhe atraia o mal mascarado ao qual deveria ser punido. Odiava o fato de ele sorrir, pois aquele sorriso me fazia acreditar numa possibilidade quase impossível. Odiava o fato de seu olhar ser mágico, pois ele mostra uma alma que vai muito além de séculos tumultuados. Odiava o fato de ele ser bom, pois isso lhe machuca muito mais do que ajuda. Odiava o fato de ele gostar de escrever textos, pois nos conectava a partir de palavras que se unem formando um mesmo contexto. Odiava o fato de sua voz ser bonita, pois ela me acalma quando tudo se desaba. Odiava o fato de ele ter defeitos, pois eles que o tornam aos meus olhos mais perfeito. Odiava o fato de ele saber amar, pois esse sentimento será doado para alguém que precisa ser completado. Por isso, eu ainda odeio o fato de amá-lo, porque a imaginação não se torna concreta quando a irrealidade esboça uma indireta. Uma batida na porta me desperta de meus pensamentos.
- Louis querido, esta pronto? - pergunta minha mãe, com um vestido preto e com um casaco por cima, pelo frio de Londres. Havia lágrimas em seus olhos, assim como havia nos meus também.
- Eu acho que sim. - confessei, apesar de não sabe se estou bem. Não sei se estou, nem sei se saberei.
- Vamos. - eu digo, passando por ela na porta, descendo as escadas e indo em direção ao carro. Lottie e minha mãe entraram no carro, enquanto eu dirigia com raiva e tristeza pelas ruas de Londres, ao som de Wait - M83 a todo volume, a música favorita dele. Chegamos no velório, e estava um caos. Pior do que se entrar em um velório, é ver as pessoas que estão no velório e sentir o que elas sentem também. Todos tristes, chorando e lamentando a perda dele. Não segurei e comecei a chorar também. Minha mãe me abraçou e beijou o topo de minha cabeça, saindo e me deixando sozinho com todos os parentes dele, todos tristes e magoados.
- Louis. - ouço uma voz atrás de mim, e me viro automaticamente, e vejo a imagem de uma Anne nada reconhecível. Anne custumava sorrir a toda hora, ter aquele brilho sincero nos olhos quando falava algo que gostava, ou quando o beijava no topo da cabeça. Agora, nos seus olhos, só vejo... tristeza.
- Louis, querido. - ela suspirou, fungando pelas lágrimas que insistiam em cair. Antes que eu possa dizer algo, ela me abraça. Um abraço de mãe, ou muito mais intenso, não sei. Ela me abraça fortemente contra seu peito. - Por que ele fez isso? Meu querido garoto. - ela repetia em meu ouvido seguidas vezes. Ela me soltou, e voltou a chorar em um canto com outros parentes dele.
Fiquei sozinho novamente. Ando sozinho desde que ele partiu, mas isso não vem ao caso agora. O velório durou muito tempo, até avisarem que estavam trazendo o caixão. Meu corpo estremeceu. Não suportaria ver ele naquele estado, frio e sem vida, sem alma e sem brilho. Todos foram em volta do maldito caixão, mas não tive coragem de chegar perto, nem mesmo olhar. Eu não iria suportar outra bomba dessas. Saio do ambiente frustrante, e tiro um momento para respirar um pouco do lado de fora. Merda, eu odeio isso. Odeio estar triste, odeio ter que admitir que estou bem quando não estou, odeio fingir ou encenar um "estou bem" quando minha alma grita por socorro. Não aguento isso, odeio com todas as forças que (ainda) restam em mim. Depois de todo esse ritual besta, fomos ao enterro. Antes, passei em uma floricultura para pegar rosas-negras. Suas preferidas. Também parei em um lugar e comprei o livro "O diário de Carollin", com uma bandana verde, com âncoras e cordas. Isso é muito irônico.
Paro na entrada do cemitério, e vejo todos já rezando e fazendo outro ritual que só fãs as pessoas chorarem.
- Alguém quer dizer algo antes de enterrar-mos? - pergunta o senhor a frente do caixão, me fazendo, depois de alguns segundos, levantar a mão.
- Venha aqui, rapaz. - ele diz, e todos viram olhar para mim. Passo na frente de todos até chegar no caixão.
- Ele... - tentei começar algo, mas nada saia. Até lembrar das palavras dele antes de partir. "Faça valer a pena. Se tiver medo, vá com medo mesmo."
- Ele era fantástico. Sabia destingir se esta mal ou bem, apenas olhando em seus olhos. - comecei, por fim. - Ele faz você se sentir vivo. - dei uma pausa. Comecei a pensar nas palavras do livro em minhas mãos, que ele me forçou a ler, o seu favorito. - Ele gostava de metáforas. Achava-as incríveis. Ele gostava tanto delas, talvez seja uma agora. Seu livro favorito, que ele me fez ler por bem ou por mal, dizia assim: "Encurralada em um buraco onde não se encontra meios de escape, encontra-se uma menina, linda como uma boneca. Seus cabelos que antes irradiavam luz e alegria, mostravam-se sem vida e a pele, corada como o por do sol, exalava a palidez sobrenatural. Desesperada para que seus pensamentos fluíssem, procurava de todas as formas um semblante, uma voz ou algo que lhe tirassem da escuridão daquele noite."
Ele amava escuridão, ou tudo que fazia parte disso. E eu o amava. - disse, me abaixando ao lado do caixão. Deixei a bandana amarrada nas rosas negras, junta do livro, encima dele. Eu só queria que isso fosse um pesadelo ruim para eu acordar logo.
- Eu te amo, Hazz.
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Clues For You || L.S. ||
RomanceE aqui estou eu, novamente. Sozinho, pensando nas almas antigas do mundo que vivemos. Não almas antigas más, mas sim aquelas que nos protegem e lutam por nossos sonhos. Desde que ele se matou, isso vem rodeando meus pensamentos. Ele não era uma pess...