Tarde de verão

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Para Caio as paredes do seu quarto o cercava por diversos lados, e, quando não as havia, se sentia como um animal enjaulado, em seu próprio quarto. Gostava tanto do lado exterior do seu quarto, quanto gostava das paredes que o enclausurava.
Sentido a todo tempo a pressão sombria que o cobria.
_ Caio? Caio, você está ai? - Caio pensou em responder em voz alta, algo que sua mente respondeu automaticamente, não sua velha insuportável, estou em Marte. Minha mãe é de certa forma uma pessoa extremamente cuidadosa, a cada meio minuto me chama para ter certeza que não enrolei uma corda no pescoço e me joguei pela janela.
_ Sim mãe, estou. - Na verdade não queria esta no quarto. Queria esta vivendo uma vida normal, de uma pessoa de 23 anos. Como meu melhor, talvez único melhor amigo, o que me suporta o Victor, sempre tive uma certa inveja dele, por ele ser totalmente gay, e assumido. Minha mãe surtaria se descobrisse que tenho desejos por outros homens, até eu surto por ter tais sentimentos, ainda não descobri a forma de lidar com isso. E talvez não aprenda.
_ Filho, vá até o escritório do seu pai, ele me pediu para levar esses documentos importantíssimos a ele. Mais não tenho como fazer isso no momento.
_ Claro mãe, irei me arrumar e ir. - Tudo que menos queria era sair nessa chuva torrencial, e ir levar documentos ao meu pai. Ficaria mais feliz assistindo todas as séries possíveis do que pegar uma pneumonia, já não bastando os diversos comprimidos que sou forçado a tomar diariamente.
_ Obrigado meu filho, e volte logo para o jantar. E os documentos estão em cima da mesa na sala, tenha cuidado para não molhar. - Disse minha mãe. Como se fosse uma tarefa fácil nessa chuva.
Saindo de casa com o guarda-chuva protegendo apenas os papéis do que a mim, foi um trabalho árduo. Mais ao que me parece deve ser algo de grande importância ao meu pai. Pois ele jamais pediria a mãe para que levasse esses documentos. Então resolvi levar intactos.
Ao contrário da minha mãe, papai é extremamente compreensível, ao que aparenta. Não que eu tenha confidênciado meus segredos a ele, e sim por sempre ter o apoio, o carinho. Mesmo que distante ele sempre me trata como se eu ainda estivesse aprendendo a andar. Talvez fosse o modo calado, quieto, atencioso que o fazia com que eu fosse mais próximo sentimentalmente dele.
O escritório que meu pai trabalha não fica tão distante do meu quarto e minha televisão, uma caminhada rápida, porém com essa chuva não dá pra ter certeza se vai ser tão rápido quanto deveria. Papai escolheu mudar de escritório quando fui diagnósticado de alguma coisa que eu sei, apenas não é comentado quando estou perto. Só dizem que eu estou bem, e que não posso parar de tomar meus remédios.
Chegando no trabalho do meu pai, estava com dificuldades de abrir a porta com as mãos ocupadas, até que a porta abriu com força e vôo os papéis que eu estava segurando para longe. Sai correndo atrás dos documentos e ouvi alguém dizer. - Desculpe-me deixa que eu pego.
Não dando muita atenção para quem estava se desculpando e sim no quão importante era àqueles papéis que agora se encontravam encharcados. Senti uma mão pousando em meus ombros e se oferecendo para pegar.
E eu o olhei pela primeira vez, e quase me esqueci de como respirar, não são todos os dias que você perde documentos importantíssimos como disse minha mãe, muito menos quando um homem com o rosto moreno, cabelos encaracolados pingo a pingo escorrendo pela seu rosto, o maxilar triangular, e de olhos tão negros e profundos que senti ver minha alma, desejando aquela boca macia, aqueles músculos sobressalentes através da camisa branca.
E foi onde me recordei onde e o que estava fazendo, agradeci meio atrapalhado. E peguei os documentos de sua mão, e pude sentir o quão masculina era, mãos grandes, fortes. E parecendo uma seda pura de tão macia que era, pelo simples toque de pele pude sentir toda a sua masculinidade.
_ Me desculpa, não deveria ter saído com tanta pressa, espero que não tenha estragado tudo. - Ele me disse com sua voz, grave e potente.
_ Não foi nada. Obrigado pela gentileza. - Mesmo sabendo que estava encrencado.
_ Tem alguma coisa que eu possa fazer? - Ele me disse.
_ Não, desculpe-me mais tenho que ir. - E o olhei nos olhos, e ele me retribuiu o olhar, e por um segundo pensei que era recíproco o desejo carnal que eu sentia por ele.
_ Tudo bem, até mais então. - Ele disse saindo por aquela chuva, e eu pude ver a calça contornando aquela bunda redonda, e deliciosa. E antes que eu pudesse me virar para analisar o estado dos documentos eu o ouço novamente.
_ Olá novamente, poderia me passar seu número de telefone, para que eu possa me redimir pelo estrago que lhe causei.
_ Você não me causou nada, acidentes acontece. - Dei um meio sorriso, tentando pôr um fim naquela situação, pois meu pai poderia aparecer.
_ Então fique com o meu cartão, tem meu número. Me liga! E partiu deixando apenas o sorriso branco.

Obsessão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora