kaikai

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Três semana se passaram desde que Augusto Soutto, meu digníssimo pai propôs que eu estagiasse com ele, e desde então venho evitando manter contato com ele. Dando apenas bom dia ou boa tarde quando o vejo. E a noite eu faço qualquer coisa para não encontrar com ele, e ir a casa do Victor se tornou uma das minhas rotinas, fico ouvindo suas mil e umas novidades e fofocando um pouco.
Tenho o ajudado com seus projetos, e foi algo bom. Sair do quarto e viver um pouco, respirar. E não ficar olhando para uma tela de televisão e vendo apenas ficções e mais ficções.
_ Oi, tudo bem. - Eu o comprimento com um beijo no rosto e um abraço rápido quando entro em sua residência. Como sempre ele está cheio de coisas pra fazer, com vários croquis espalhados pela sua mesa. E alguns muitos bons, e outros extravagantes de mais.
_ Inhaí vinhado, OOOORAS demorou, estava fazendo a xuca DEMÔNIA? - Disse Victor, o diálogo com ele é sempre assim, tendo trocadilhos pra tudo, o que me faz rir as vezes.
_ Não, é que eu tive que esperar meu pai sair, para não encontrar com ele. Pois ele está esperando uma resposta. - Lhe recordei de algo que haviamos falado por telefone, a dias a trás.
_ Viado, você está enrolando seu pai até hoje? - Falou o Victor, ele me olhava com aquela cara de que não está nem aí para o que eu estou fazendo com meu pai, e volta a fazer seus desenhos.
_ Você sabe que eu não quero trabalhar com ele, ele quer que eu assuma o lugar dele quando ele não estiver mais trabalhando, ele vem me treinando desde criança, assumir o seu império e o nome é uma carga muito maior do que eu estou disposto a carregar. Não é isso que eu quero pra mim. - Digo me recordando da forma que ele me pediu pra que eu trabalhasse com ele. Me parte o coração, mais não quero essa responsabilidade pra mim, não agora. Ainda não estou preparado pra isso.
_ Ele está lhe dando uma oportunidade de sair do seu quarto e parar de fazer a linha surtada assistindo porno gay, filmes e séries praticamente o dia todo, a senhora que está interpretando errado, bicha. - O Victor tem esse problema de utilizar tudo no feminino, a senhora, garota, a sapato. Coisa que eu nem o corrijo mais. É natural dele.
_ Você sabe que é isso que ele quer, que eu assuma seus negócios, e minha mãe o aprova. Os dois estão fazendo planos do qual eu não sou consultado. - Digo analisando as extravagâncias que ele anda fazendo e pergunto. _ O que você está desenhando?
_ Minha fantasia pra kaikai gay, você se esqueceu? - Ele me questiona como se fosse algo que não se esquecesse. Mais sei que tem alguma coisa que eu deveria lembrar, mais esqueço.
_ Como não me lembrar, mais não tenho certeza se vou. Não quero ter motivos pra falar com meu pai. - Respiro fundo, está cada vez mais difícil fugir dele.
_ Gay, com que caro você pensa que eu vou pra kaikai montada desse jeito? Como vc quer que eu saia do carro batendo o cabelo com meu salto 15? - Disse Victor. - E penso que não será com o carro que eu ganhei aos dezoito anos, quando fiz minha carteira, porém fui terminantemente proibido de dirigir depois que eu surtei. Toda vez que eu vou sair com o Victor meu pai empresta o carro livremente, desde que eu não dirija. Pois o maior medo dele é que eu tenha algum ataque enquanto eu dirijo. Emprestando-o assim para o Victor, com a responsabilidade de me trazer intacto para casa.
_ Você não vai pra minha casa montado desse jeito se meu pai ceder o carro. - Digo analisando o desenho que ele esta trabalhando.
_ Querida seu pai me ama, posso ir nu pegar o carro que ele não vai falar nada. - Dou risadas imaginando a situação.
_ Não Victor é melhor você ir fantasiando. - Digo entre risos. Pois o Victor tem pensamentos pervertidos em relação ao meu pai, ele acredita veementemente que meu pai tem uma queda por ele.
_ Vou bem feminina, seu pai vai pensar que é a futura nora dele. - Ele diz de forma romântica.
_ Vai sonhando. - Eu digo. _ Amigo posso usar o banheiro?
_ Vai lá maná. - Ele fala se levantando. Procurando alguma coisa. Minha intuição diz que ele vai fazer algo, mais o deixo mesmo assim. Chegando ao banheiro fecho a porta e escuto movimentos suspeitos, e uso o banheiro mais rápido possível e vejo que ele está com meu celular na mão, e ele tem minha senha, pois a mente dele trabalha de uma tal forma que algumas vezes eu imagino que ele é um detetive em pele de cordeiro, o que ele deve esta fazendo. Chego silenciosamente próximo a ele é dou um susto. E ele coloca a mão no coração e da um berro gritando VIIIIADO e deixa meu celular cair em cima da mesa e eu consigo ver o que ele estava fazendo.
_ Você mandou mensagens pro Antonio? - Questiono. _ Não deveria ter feito isso.
_ Querida, você está pensando no boy a cada segundo, e não tem coragem de mandar uma mensagem, então eu fiz por você. - Disse Victor, com o ar de quem acha natural o que acabou de fazer.
_ Chateado com sua atitude. - Olho pra ele e o desprezo pela sua atitude infantil. E ele sorri alto.
_ Bixa, só fiz algo que você pensa em fazer mais não tem coragem. - Fala em tom de tanto faz. E escuto o celular tocar e vibrar. Olho para o visor e vejo o nome da chamada Antonio Villar, e meu coração acelera, as pernas treme, e me sento pois não estou sentindo muito bem.
_ Olha a bixa com as pernas até bamba pelo boy e fica se fazendo de vítima. - Diz Victor. _ Não vai atender maná?
Deixo o celular tocar até que caia a ligação, pois não tive coragem o suficiente para atender. E instantes depois chega uma mensagem da operadora dizendo: você tem um novo recado.
_ Abre logo essa porra desse recado, estou ansiosa. - Diz Victor, apesar de eu estar curioso e revoltado com meu amigo eu pego me celular e dígito as funções para ouvir o novo recado na caixa postal. E escuto aquela voz grossa e imponente que me faz gelar e me arrepiar por completo.
BOA NOITE. - Escuto o Victor dizendo, maná coloca no viva voz. E o faço, ambos ouvindo aquela gravação divina. AQUI É O ANTONIO, FIQUEI ESPERANDO UM OI SEU, ME SENTI MUITO CULPADO PELO QUE ACONTECEU NO DIA QUE NOS ESBARRAMOS, ESPERO QUE ESTEJA BEM, ESTOU ESPERANDO A OPORTUNIDADE PARA QUE EU POSSA ME REDIMIR. E FICO FELIZ QUE TENHA SE LEMBRADO DE MIM, E POSSO SABER SEU NOME. E escuto um sorriso doce e a gravação termina. As emoções que emana são tantas, um turbilhão de sentimentos que não consigo decifrar. Mais de uma coisa tenho quase certeza, que o verei novamente em breve. Olho no relógio e vejo que já se passaram muito tempo desde que eu cheguei. E digo. _ Tenho que ir embora.
_ Garota você não vai sair daqui enquanto não responder essa voz de Deus Greco. - Ela diz impaciente, e parou até de fazer seu look pra kaikai.
_ Quando eu chegar em casa eu respondo, pois minha mãe ficou de vir me buscar. - Digo, e pego meu telefone e ligo pra senhora Marlene Soutto. No qual ela atende antes mesmo de chamar a segunda vez.
_ Alô, Caio. - Marlene diz ofegante, provavelmente está correndo na esteira.
_ Oi mãe, pode vir me buscar! - Falo ainda nervoso pela mensagem de voz que eu recebi.
_ Claro meu filho, já que eu chego na casa do seu amigo. - Ela diz de forma indiferente, pois eu sinto que ela não simpatiza muito bem com meu amigo. Mais é algo que eu jamais irei confidenciar a ele.
_ Okay, estou te esperando, beijos. Até daqui a pouco. - Ainda me sentido desacreditado pelo ocorrido, respiro fundo e sorrio para o Victor, é impossível odiar ele, pois era realmente que eu vinha tentando fazer e não conseguia. Meu medo e insegurança me impedia de mandar a mensagem pro Antonio.
Visivelmente meu humor mudou, não conseguia parar de pensar naquela voz grave, e recordar da pele morena, cabelos encaracolados, olhos negros e um sorriso de safado. E volto a falar amigavelmente com o Victor.
_ Não deveria ter feito isso. - Digo, ainda não acreditando no que ele fez.
_ Me agradeça depois que você se encontrar com o boy. - Diz Victor. Iludido por acreditar que o Antonio seja gay.
_ Ele pode não ser gay. - Afirmo, ao ponto de vista do Victor ele é bixa, bixissima, bixerrima. Meia hora depois escuto o carro para enfrente ao portão e a campainha toca. E me desespero, pois só pode ser meu pai lá fora, pois minha mãe quando vem me buscar ela me liga do portão, foram raras as vezes que ela aceitou o convite de entrar na residência do Victor, aceitou mais por educação do que por vontade, e digo.
_ Não acredito que minha mãe mandou ele vir me pegar. - Estou diante de um impasse, pois sei que terei que lhe dar a resposta para ele hoje.
_ Bixa e é hoje que ele vai nos emprestar o carro. - Diz Victor e sai saltitante para atender a porta.
_ Boa noite. - Diz Augusto, e entra lhe entregando o que me parece ser um vinho retirado de nossa adega, pois a esse horário não se encontra nenhum mercado aberto. E eu consigo entender a admiração quê o Victor tem pelo meu pai, pois de shorts de malhar e camisa regata, tenho certeza quase que absoluta que ele voltou do seu compromisso e foi fazer companhia com minha mãe na academia. Ele tem o corpo definido por cuidar muita da sua saude, cabelos curtos e um pouco grisalho e olhos verdes escuros e um sorriso encantador, a única coisa que eu puxei ao meu pai foi o tamanho, ele tem quase um metrô e noventa, e elegante até mesmo com a roupa que está vestindo.
_ Olá, boa noite senhor Gus. - Diz Victor, fico tremendo de nervosismo quando meu pai entra e fica do meu lado.
_ Oi filho. - Diz Augusto, e passa a mão no meu cabelo para bagunçar. E ele olha com certa curiosidade para os desenhos em cima da mesa.
_ Oi pai, cadê a mãe. - Digo evasivo e arrumo meu cabelo.
_ Ela estava ocupada com alguns problemas, e falando nisso, hoje eu vim pessoalmente lhe entregar esse convite Victor. E passa um convite branco com letras prateadas, e era isso que eu tentava lembrar mais cedo.
_ Meu Deus. - Diz Victor surpreendido. _ É o convite para a boldas de prata do senhor e a Marlene.
_ Pai eu poderia ter entregue o convite. - Digo irritado. _ Porém iremos ter que recusar o convite. Pois a boldas vai ser no mesmo dia da festa que o Victor quer tanto ir.
_ Não tem problema, eu queria ir. Não vou mais. - Diz Victor analisando o convite. Olho pra ele e vejo que realmente ele deixará de ir na kaikai pra ir nas boldas dos meus pais, eu mesmo não estava pensando em ir.
_ Contamos com sua presença, e desculpa temos que ir. - Diz Augusto. E passa a mão no meu ombro. E eu o acompanho até a porta. Me despeço do Victor ainda com o convite nas mãos e saímos eu e meu incrível pai para um longo caminho, e uma conversa que venho evitando a três semanas.

Obsessão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora