Prólogo

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Assim que acordei, me deparei com a pessoa que mais amo em toda minha vida. Matt era como o ar, indispensável ao meu ser, sem ele eu não poderia respirar.

Desde que o conheci soube que era especial. Estávamos em uma palestra da escola, de boas vindas e ele se sentou ao meu lado, assim que o diretor começou a falar, Matt o imitava, e fazia piadinhas sobre seus gestos e coisas do tipo. Olhei para ele e percebi que seu diálogo era para mim, sorri e ele se apresentou, dizendo ser o homem que viraria minha vida de cabeça para baixo. E realmente foi e é até hoje.

Todas as manhãs faço questão de olhar seus traços e guardá-los bem fundos em minha memória, gosto de fechar os olhos durante o expediente de trabalho e conseguir lembrar de cada respiração continua que ele da, é como um bálsamo para meu dia estressante.

Resolvo levantar antes que me atrase, sempre levanto antes de Matt, já que seu serviço fica no mesmo prédio em que moramos, diferente do meu, que está do outro lado da cidade. Troco-me rapidamente, uma saia lápis preta, camisa social de manga branca e um casaquinho, brincos, maquiagem leve, apenas para esconder as olheiras de cansaço e pronto.

Quando olho no espelho sorrio, não por minha aparência, mais sim pelo volume que se forma em minha barriga. Estou grávida de cinco meses, de um menino. A notícia veio sem mandar recado, em um dia eu comecei a passar mal e no outro descobri estar grávida. Matt ficou eufórico, já eu, fiquei apavorada com a ideia de me tornar mãe. Hoje, quando lembro de meu desespero dou risada, já que agora, não vejo a hora do meu pequeno príncipe chegar e me chamar de mamãe.

Desço até a cozinha onde tomo meu café da manhã, o médico foi bem rigoroso com minha dieta, nada de gordura ou excesso de doces, porém, hoje decidi fazer ovos mexidos e bacon, nunca prive uma grávida de comer o que quer.

Termino meu café e vou até o quarto me despedir do meu marido e acorda-lo. Matt é pior que criança quando o quesito é levantar da cama, é preciso tempo e paciência para esse desafio, duas coisas que eu não tenho.

- Matt? - Ele vira para o outro lado e não responde. - Amor? - Nada.

Sempre falei para ele que comigo não existe uma terceira vez, portanto não o chamo novamente e sim pego um pouquinho de água e jogo em sua cabeça, caindo na risada, com o tombo que ele leva da cama.

- Vai ter volta viu Beatrice!!

Sorrio para ele. Amo vê-lo nervoso. Seus lindos olhos faíscam perigo, sua boca se contrai prometendo o pecado e seu corpo fica tenso como se a qualquer momento fosse atacar.

Meus hormônios estão a flor da pele, fomos dormir bem tarde graças a isso e mesmo assim aqui estou eu, ardendo de vontade de agarrar este homem novamente.

Ele começa a se aproximar lentamente de mim, como um predador que cerca sua presa.

- Já te falei como você fica sexy de roupa social e grávida do meu filho?

Fiz cara de inocente, fingindo estar pensando.

- Não sei. Talvez já tenha dito em algum momento.

Ele me agarra e me beija intensamente. Sou tomada por uma onda de luxúria que me consome por inteira, empurro meu marido na cama, mas antes que pudesse terminar o que tinha em mente, fomos interrompidos pelo toque do meu celular, indicando que o táxi havia chegado.

Começamos a rir da situação. Dei um beijo casto em meu marido, com a promessa de que a noite terminaríamos aquela conversa.

- Agora eu preciso ir, não quero correr o risco do taxista ir embora e eu perder meu emprego por chegar atrasada.

Ele fez uma cara de desgosto, sabia o que ia dizer, então me antecipei.

- Eu sei que você odeia quando eu ando de táxi, meu amor, mas será por pouco tempo, eu prometo.

Meu carro tinha quebrado na semana passada e até agora o mecânico não havia arrumado seu problema.

- Eu sei, é que não confio sua segurança a desconhecidos, mas sei que em breve você estará com seu carro novamente. Eu te amo.

- Também te amo, até mais tarde.

Mas um beijo e finalmente sai de casa em direção ao táxi. O dia estava nublado, provavelmente era sinal de que uma chuva viria mais tarde. Dei bom dia ao taxista que já era meu conhecido, depois de tantos dias e seguimos em direção ao centro, onde eu trabalhava.

A Vants era uma empresa de publicidade muito reconhecida neste ramo, estava entre as dez mais de Seattle. Seu prédio era imponente, com trinta e cinco andares, sempre achei um exagero de extravagância. O dono, senhor Brian Vants não sabia o limite quando o assunto eram os gastos com a imagem de sua empresa.

Eu trabalhava no vigésimo andar, na área de som e imagem, era editora chefe das propagandas que a empresa assumia. Adorava meu trabalho, por mais desgastaste que ele fosse, ainda mais agora que eu parecia carregar uma melancia em minha barriga.

Comprimento algumas pessoas que já haviam chegado e fui direto para minha sala dar início a mais um dia. Estava entretida revisando algumas imagens quando meu telefone ligou, era minha mãe.

- Olá querida!!

Minha mãe tinha o hábito de me ligar todos os dias, morávamos a uma hora de distância uma da outra, mas com a correria do dia a dia, só conseguíamos nos ver nos finais de semana.

- Oi mamãe!! Como vocês estão?

Minha mãe relatou como sempre sobre a teimosia do meu pai, como ele vinha ficando rabugento ao longo dos anos, mas eu sabia que mesmo reclamando tanto, ela o amava e ele a ela.

Vinte minutos depois desligamos e eu voltei ao trabalho. As dez tive uma reunião com o pessoal de um novo comercial, a reunião se estendeu e acabamos almoçando ali mesmo, na sala de reunião. Quando já era quatro horas, o Marc da contabilidade me chamou em sua sala, ficamos conversando sobre os gastos do novo trabalho e quando vi já havia passado do meu horário de saída.

Liguei para o mesmo taxista de todos os dias, porém ele já estava indo buscar outro passageiro, então tive que apelar para a cooperativa de táxis. Demorou cerca de meia hora para o motorista chegar, entrei no carro e desejei boa noite, porém não obtive resposta, achei melhor ficar calada durante a viagem, não seria bom tentar puxar assunto.

No meio do caminho meu telefone tocou, era Matt perguntando se eu já estava chegando, contei sobre meu atraso e prometi que daqui a pouco estaria em casa.

A chuva, que começará por volta das três da tarde se intensificou, quase não se via a estrada. O taxista que deveria estar atento ao caminho que seguia, não parava de mandar mensagem parecendo estar nervoso, até pensei em pedir que ele prestasse atenção na direção, mais tive medo que ele me mandasse descer do carro, e em minha situação isso não seria nada bom, portanto decidi ficar quieta.

Estávamos próximos, mas uns dez minutos e eu estaria em casa. O sinal fechou logo a frente em um cruzamento, mas o motorista não pareceu perceber ou se importar e simplesmente avançou o sinal.

Tudo aconteceu tão rápido que eu nem consegui processar. Um carro veio em nossa direção e acertou em cheio a lateral do táxi. Capotamos diversas vezes até parar, tudo girava, eu estava de ponta cabeça e sentia todo o sangue subir para minha cabeça, além do sangue que pingava em meu rosto, demonstrando que eu estava machucada. Entrei em desespero, pedindo ajuda e para que salvassem o meu filho. De repente uma voz começou a falar, dizendo que tudo ficaria bem e que o bebe estava bem. Me deixei levar por aquela voz e apaguei.

A partir dai, tudo que me veio foram flashes. Uma luz branca cegando meus olhos, uma mulher tentando me acalmar dizendo que tudo ficaria bem, Matt aparecendo no fundo do corredor antes das portas se fecharem, gritando desesperado por mim e dizendo que me amava, enquanto era impedido de me alcançar pelo segurança do hospital, uma sala estéreo de cirurgia, uma máscara de oxigênio e depois disso, mas nada, e esse silêncio se estendeu por muito tempo, como se eu estivesse presa em algum lugar fora da realidade.

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