Adan.

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Quando eu tinha oito anos, descobri que teria uma irmã. De começo não gostei da ideia, na verdade não gostei nem um pouco. Ninguém merecia uma pirralha correndo para todos os lados, gritando como uma louca e tirando completamente a atenção dos meus pais de quem mais importava, eu.

Claro, que quando aquela pirralha nasceu ela conseguiu me conquistar por completo. Devo dizer que aquela garota sabia fazer chantagem como ninguém. Sempre fomos muito unidos, eu acobertava ela sempre e em troca ela mantinha os urubus bem longe. Tínhamos um trato, de que se ela esperasse até os 30 para namorar, eu prometia que não iria preso por matar um desses garotos, claro que como sempre ela me enrolou.

Sempre íamos a todos os lugares juntos, nem parecia que eu já era um velho para a galera dela, shows, festas, viagens, um sempre estava perto do outro, acreditem se quiser, mais a maluca me acompanhava até nas cirurgias do hospital, ficando atrás do vidro e torcendo para que eu salvasse meus pacientes com sucesso.

Me tornar médico havia sido ideia dela, até onde parece a família precisava de alguém bem sucedido, principalmente em uma área que beneficiasse a todos, como advogado ou médico, acabei me tornando um neurologista no final dessa história, já que segundo ela, Deus nos da beleza ou inteligência, nesse caso eu era o escolhido para o cargo de bem sucedido, já que ela havia ficado com a beleza.

Naquela noite saímos para comemorar minha promoção no hospital e seu ingresso na faculdade de moda. Resolvemos ir a um bar, mas claro que o motorista da vez não beberia, no caso eu, que já não poderia beber pois estava na linha de chamada caso algo importante ocorresse no hospital.

A noite tinha sido calma, minha irmã brincava de acerte a música com meu melhor amigo Malcon, tenho para mim que estes dois dariam uma boa história, uma chuva grossa caia na estrada, portanto eu dirigia com bastante cautela, não prestando muita atenção ao que os dois falavam. Passando o próximo cruzamento e virando a esquerda na próxima saída e estaríamos em casa, faltava pouco, mas cinco minutos e pronto. Passei o cruzamento, o sinal estava aberto para nós, mas um táxi pareceu não ligar para de quem era a vez e simplesmente avançou a minha frente, acertamos em cheio a lateral, o carro rodou e eu apaguei.

O sangue escorria pelo meu rosto, as sirenes estavam por todo lado, alguém me pedia calma, seria o Malcon? Virei meu pescoço para o lado e vi algo que acabou com a minha vida, minha irmã, a razão da minha vida, estava sendo coberta por um plástico, eu como médico sabia o que aquilo queria dizer, mas como irmão, não queria acreditar naquilo. Fui tirado do carro e levado a ambulância, antes de fechar tive o vislumbre de outro ferido, uma mulher, parecia estar grávida, pobre mulher, e foi com essa imagem, focando nessa desconhecida que apaguei novamente.

Acordei semanas depois, não sei porque. Aparentemente eu era um milagre, preso nas ferragens, totalmente ferrado e no final das contas não fraturei nem um dedinho. Diziam que eu tive sorte, na minha visão, eu tive azar. Azar de ter roubado a vida que deveria ser da minha irmã, azar de ter roubado a vida daquela mulher e daquele bebe que ela esperava, afinal porque eu tive outra chance e não eles?

Malcon e meus outros amigos e colegas de trabalho vinham me visitar todos os dias, mas era difícil falar sobre o que aconteceu, portanto eles evitavam falar e eu evitava perguntar, até que em um dia, enquanto esperava ao lado das salas de exames para fazer uma avaliação total, eu a vi. Lá estava ela, mais pálida, fraca e ligada a diversos aparelhos. Sua barriga de grávida continuava ali, o que significava que o bebe estava bem, depois de dias consegui finalmente dar meu primeiro sorriso e focar minha atenção para algo que me daria vontade de viver, eu cuidaria para que aquela moça, sendo ela quem fosse, não se tornasse outra vítima sem futuro deste acidente. Eu cuidaria dela.

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