Mellanie Torres
Papai morreu na noite de sábado, na sala de casa ao lado de mamãe...
Ver ele ali, foi como se puxassem o meu chão e eu caisse em uma escuridão imensa, com um vazio enorme que teimava em crescer.
Eu havia prometido que não iria chorar na frente de mamãe ou de Anna que choravam sem parar uma ao lado da outra... Senti uma vontade enorme de me aproximar delas e dizer que também estava sendo difícil pra mim e precisava de um abraço, mas fiquei ali, parada, estabilizada sentindo aquela dor que parecia nunca mais querer passar...15 dias depois -
Peguei uma maçã em cima da mesa e me dirigi a porta para sair dali... Nos últimos dias a única coisa que me fazia bem era estudar e passar o dia na biblioteca da escola comendo todos os livros.
Mamãe passava mais tempo na empresa do que em casa e Anna vivia pelos cantos falando ao telefone com suas amigas.- Filha? - Minha mãe se levantou da mesa onde tomava café e ficou me olhando para que eu pudesse olhar de volta - Você não precisa ir a escola hoje.
- E por que não? - disse me virando e se aproximando da mesa.
- Não avisou a pirralha ainda mãe? - Anna jogou seus braços para de baixo da mesa e olhou para mamãe que suspirou fundo.- Me deixe sozinha com Mell, Anna.
Anna bufou e se levantou da mesa pisando fundo para fora da cozinha.
- Filha... - Minha mãe parecia procurar as palavras certas para me explicar alguma coisa - Está sendo difícil lidar com a vida por aqui - Suas mãos passavam em seu rosto freneticamente e eu já estava quase implorando para que ela me dissesse alguma coisa rápido - Tudo me lembra seu pai, a empresa, a casa... e eu decidi, que vamos nos mudar.
Seus olhos marejados de lágrimas encontraram os meus...
Senti um frio percorrer minha espinha e um medo tomar conta de mim.- Nos mudar? - dizia enquanto tentava entender essa decisão de Mamãe - Nos mudar pra onde?
- Vamos para o Brasil, Mell - Minha mãe se levantou da cadeira e pousou sua mão em meu rosto - Eu vou transferir a empresa pra lá e comprar uma casa... mas por enquanto, você e Anna vão sozinhas..
- Sozinhas? - dei um passo para trás fazendo suas mãos sairem de meu rosto - E como vamos viver sozinhas em um lugar que nem conhecemos?
- Vocês vão ficar com Marina até eu conseguir transferir os negócios e achar uma casa - Minha mãe tentava manter a calma.
Marina era a melhor amiga de mamãe, e eu a conhecia apenas pelo Skype e apesar das duas sempre serem muito próximas ainda achava um absurdo mamãe me mandar sozinha com Anna para outro país.
- Isso é loucura mãe ! Eu não vou para outro país assim, sem a senhora ainda por cima? !
- Mell, eu poderia esperar para ir com vocês mas vou me mudar para um apartamento menor - minha mãe agora estava tão alterada quanto eu - Vocês estão acostumados com uma casa grande, não vão se adaptar. A casa de Marina é enorme e eles tem uma vida tão estável quanto a nossa!
- Eu não sou a Anna mamãe - disse ríspida - Não tenho frescura com essas coisas.
- Mas não tem cabimento eu mandar Anna sozinha querida.
- Não tem cabimento nada do que você está fazendo - me sentei colocando minhas mãos na cabeça em forma de desespero.
- Pode parecer que não filha - minha mãe chorava tentando se aproximar - Mas tudo que eu mais quero é o bem de vocês duas.
- Você quer é fugir da dor ou das lembranças do papai - disse abaixando a cabeça para esconder as lágrimas que caiam - Mas você não vai conseguir, nem eu, nem você, nem a Anna, nem ninguém.
- Mell...- minha mãe sussurrou levantando minha cabeça e me fazendo olhar em seus olhos azuis cheio de lágrimas assim como os meus - Todos nós estamos lutando contra a dor... quem sabe com uma nova vida a gente consiga? Juntas.
- Eu não quero mudar de vida - bati na mesa com força - Eu não quero morar em outro país ou fugir dessa merda de dor...EU SÓ QUERO MEU PAI DE VOLTA!
Minha mãe agora não podia mais controlar as lágrimas e eu me sentia mal por ter a deixado assim... Anna estava na porta assistindo aquela cena horrível e eu não fiz outra coisa que não fosse correr para o meu quarto e chorar até o sono chegar.
Eu poderia ter abraçado ela ou pedido desculpas, mas meu pior defeito era ser fria com as pessoas, até com aquelas que eu mais amava, e eu tenho certeza que Anna já havia dado aquele abraço por mim, ela sempre foi mais amorosa e mais próxima da nossa mãe, desde que eu me conhecia por gente.Abri meus olhos devagar e me deparei com Anna de braços cruzados, batendo o pé, enquanto me fuzilava com apenas um olhar.
- Que foi hein? - me sentei olhando para seus olhos azuis e seu cabelo loiro jogado para frente.
- Olha pirralha, eu poderia dizer que foi ridículo o modo com que você deixou mamãe, mas não vai adiantar porquê você está pouco se lixando pra ela - seus braços se desfizeram e ela caminhou fundo até a ponta da cama - Então é o seguinte, arruma as tuas malas que amanhã vamos pro Brasil, bem cedo. E vê se veste uma roupa mais bonita pra ninguém confundir você com algum mendigo do Aeroporto.
- Você não devia ter entrado por aquela porta - saio da cama e paro na sua frente - E nem devia ter vindo pra mandar em mim como se fosse mamãe. Você não é ninguém Anna!
- Tem razão. - ela colocou as mãos na cintura, sorrindo irônica - eu não devia perder meu tempo com você. Mas vim apenas por mamãe, eu não quero vê-la chorando de novo por sua causa Mellanie.
Me senti culpada por ter ouvido aquilo, mamãe realmente havia chorado pela maioria das coisas que eu havia dito, mas eu não tinha tanta culpa, estava tão confusa e com medo quanto qualquer uma das duas.
- Sai daqui - apontei a porta com a cabeça e voltei a me deitar na cama.
- Esteja em pé as oito amanhã - ela dizia enquanto se encaminhava para a porta - e sem crise de rebeldia.
- Quem da chilique aqui é você - dizia enquanto roía a unha do meu dedo indicador.
Anna bateu a porta e pude ouvir seus passos ficando cada vez mais distantes no corredor.
Coloquei meus fones, e fechei meus olhos na tentativa de dormir novamente.
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Meu Primeiro, E Último Amor... ♡
JugendliteraturEu poderia ter me apaixonado por aquele garoto que eu encontrei na esquina uma vez e que sorriu pra mim, Eu poderia ter me apaixonado por um amigo qualquer que eu vejo todos os dias, Eu poderia ter me apaixonado por qualquer outra pessoa sem graça...