Mellanie Torres
Se despedir de mamãe foi a pior coisa do mundo. Era como se além de ter perdido papai também perderia ela por um tempo, e isso deixou as coisas mais difíceis pra mim.
Anna estava tão empolgada com a viagem que faltava sair pulando pelo corredor do avião, e eu estava prestes a me jogar por aquela janela.
Se foi uma viagem legal? Foi sim! Foi a pior de todas.
Além de ouvir Anna o tempo inteiro pendurada naquele telefone, ainda tive que ficar sem meu celular por causa da bateria, ou seja, quase 10 horas encarando uma poltrona na minha frente e tentando dormir com aquela claridade em meus olhos.
Acordei com Anna me sacudindo desesperada.- Chegamos pirralha, acorda!
Descemos do avião e fomos para o desembarque. Estava com meu moletom e tive que tira-lo, não só porque estava nervosa mas porque o calor daquele lugar estava enorme.
Tentei correr para alcançar os passos de Anna, que mais parecia estar em uma maratona de São Silvestre do que à procura de Marina.
Vi uma mulher de roupas elegantes, um sorriso muito bonito, e um cabelo castanho, super curto. Seus olhos eram da cor de seus cabelos e ela parecia estar tão empolgada quanto Anna.- Marina! É você ! - Anna correu abraçar a mulher e jogou suas duas malas de mão , eu as peguei e me aproximei das duas.
- Bom - disse a mulher se soltando de Anna e me analisandos dos pés a cabeça com um sorriso largo - E você com certeza é a Mell - ela me abraçou tão forte que eu achei que meus órgãos sairiam pela minha boca ali mesmo - Seja bem vinda, sou Marina a amiga de sua mãe.
- Obrigada - disse baixo enquanto me ajeitava de volta.
Fomos para o carro... Tudo que eu mais queria era a minha cama e os meus fones de ouvido, mas eu sabia que chegaria em uma casa onde o quarto seria branco e cheiraria a Naftalina, como todo quarto de hóspedes que eu já dormi.
- Bom meninas - a mulher dirigia e alternava seus olhares para o volante e para Anna que estava sentada ao seu lado - Eu tenho um filho chamado Gabriel, mas podem chamar de Biel. Ele tem quase a idade de vocês e é um ótimo menino, espero que vocês não se importem.
O sorriso de Anna foi tão grande que eu achei que seus dentes cairiam da boca dela. Claro, quando havia homem na jogada era o mesmo que dizer a um cachorro que haveria um osso.
- Imagina, eu não me importo nenhum pouco - Anna sorriu maliciosa e olhou para frente - Será até bom ter amizades com pessoas da nossa idade.
Revirei meus olhos e voltei a encarar a janela, haviam prédios e mais prédios em cada calçada. Assim como nos Estados Unidos.
A casa de Marina tinha um portão enorme, diferente da nossa que era ao ar livre. Mas era uma casa linda, assim como a nossa.
- Chegamos ! - Marina colocou o carro na garagem e entramos pela porta que dava para a sala.- Biel? Mamãe chegou!
Não demorou muito para um garoto um tanto alto, dos olhos castanhos e um sorriso tão lindo quanto o de sua mãe aparecer em nossa frente. Sua expressão ficou séria quando seus olhos cruzaram os meus e um frio enorme subiu, senti borboletas no meu estômago e eu achei que iria vomitar.
- Sejam bem vindas - disse ele cortando a conexão entre nós dois.
O garoto abraçou Anna, e quando me abraçou... preciso dizer que quase morri nos braços dele ou seria exagero demais? Senti que nosso Abraço foi mais demorado como se fossemos melhores amigos e não nos víamos a anos.
- Leve elas até o quarto Biel - Marina disse fazendo com que nos soltassemos - Creio que elas estão cansadas.
- Vamos? - Biel subia as escadas e nós duas o acompanhamos.
O corredor era enorme, e eu me perguntava toda hora se iria ou não dividir quarto com a chata da minha irmã.
- Esse é o seu Mell - ele apontou para uma porta totalmente branca - Bom descanso.
Olhei seu sorriso perfeito alguns segundos e entrei no quarto fechando o mesmo.
Me joguei na cama e lembrei de mamãe, eu não iria telefonar para ela contando que havíamos chegado bem de viagem, com certeza Anna faria isso.
Ouvi uma risada na porta do quarto. A risada era alta, e parecia ser de Anna... cheguei perto da Fechadura e vi Biel conversando com ela.- Eu não sabia que meninas britânicas eram tão lindas assim Anna - Ele sorriu passando a mão no rosto de Anna.
- Nem eu sabia que rapazes do Brasil eram tão...
- Tão? - sua voz era tão baixa que me assustava, eles iam se beijar.
- Atraentes.
Os dois foram se aproximando e eu preferi me levantar e voltar para a cama.
Já sabia que minha irmã era um vadia, mas não imaginava que ela seria um vadia tão rápida, e muito menos imaginaria que Gabriel era tão sem vergonha de ficar dando em cima de uma hóspede no primeiro dia de visita.- Se merecem... - pensei alto enquanto pegava minhas roupas da mala para um banho.
Tomei meu banho e coloquei aqueles pijamas que Anna sempre dizia que me faziam parecer um saco de batata, mas eu não me importava, sempre liguei mais para o conforto do que para a beleza. E não sabia quem havia puxado, afinal, meus pais viviam elegantes e bem arrumados.
Lembrei de meu pai e senti um aperto enorme, olhei para a porta e fiquei esperando pelo momento que meus pais entrariam por ali para me dar boa noite, e eu fingiria que estava dormindo só para não ganhar um beijo meloso deles - o que era em vão.
A realidade me acordou e então me dei conta que eles não passariam por aquela porta. Primeiro por que não estava em casa. Segundo porque mamãe estava longe. Terceiro, porque papai estava morto.
Senti lágrimas invadirem meus olhos... tudo que eu fazia nos últimos dias era chorar : Chorar de medo, chorar de angústia, chorar de solidão, chorar de saudade... Mas no fundo eu não queria apenas chorar todos os dias trancada em um quarto, eu só queria que tudo acabasse.
Mas não ia passar tão cedo, eu sabia que não.
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Meu Primeiro, E Último Amor... ♡
Teen FictionEu poderia ter me apaixonado por aquele garoto que eu encontrei na esquina uma vez e que sorriu pra mim, Eu poderia ter me apaixonado por um amigo qualquer que eu vejo todos os dias, Eu poderia ter me apaixonado por qualquer outra pessoa sem graça...