Tudo era comum na rua cinzenta onde se passa a nossa história. Na verdade, era comum até demais. As casas daquela rua eram praticamente iguais, mas era engraçado observar que cada pessoa ou família que morava lá era diferente das outras.
Por exemplo, numa casa no fim da rua morava uma senhora amável, a velha Lúcia. Ela era simplesmente um amor de pessoa. Tratava com carinho cada pessoa que cruzasse o seu caminho e carregava na pele o cheiro delicioso dos bolos que fazia à tarde uma vez por semana. Ela era bem diferente do homem que morava na casa a sua frente. Ao contrário da Lúcia, Flávio era um homem grosseiro e rude. Todos os dias, ao sair do trabalho, passava em um bar e bebia várias doses do seu uísque e, chegando em casa, se alterava com a sua mulher. Para ele, ela precisava fazer todos os seus caprichos, sem se preocupar consigo mesma e, às vezes, quando ela não fazia o que ele lhe ordenava, ele terminava por espancá-la. Um dia, conversando com dona Lúcia, ela lhe disse que quando falou para o marido que pretendia deixá-lo, ele a ameaçou de morte. Tenso. Mas vamos desejar uma boa sorte para ela e passar para a casa de Tiana, que morava ao lado do Flávio. Tiana era uma moça jovem e bonita, tinha uma voz doce e morria de amores pelo seu vizinho, Thomas. Infelizmente, esse sentimento não era recíproco. Thomas era um rapaz um tanto... diferente. Ele preferia apenas observar as coisas dentro da sua zona de conforto. Para ele, o necessário já bastava, era assim a sua vida. Ele não era muito de falar, pelo visto. Por esse motivo, Thomas não era um rapaz de muitos amigos, muito menos de se apaixonar. Ele vivia sozinho, e as únicas pessoas que um dia já tiveram o seu amor se foram em um acidente de carro em que apenas ele sobreviveu: seus pais e seu irmão.
Mesmo sendo recente, Thomas aceitava a partida da sua família facilmente, pois acreditava que agora eles estariam em um lugar melhor. Sendo assim, Thomas tem passado os anos sozinho, sem ninguém pra conversar, apenas as pessoas que atende no seu trabalho de balconista na lanchonete da outra rua. Mas Thomas não se importava, achava confortável não ter que fazer nada por ninguém que amava, pois ele não amava... até agora. E é aqui que nossa história começa.
Numa manhã de domingo ensolarada, depois de ouvir algumas canções entoadas pela linda e doce voz da sua vizinha apaixonada, Thomas decidiu sair por aí sem rumo. Foi até o limite da cidade, onde um penhasco se formava próximo ao mar, para apreciar a vista. Era lindo, mas não satisfeito, ele decidiu dar a volta e caminhar pela areia da praia. Quando ele chegou na praia já era de tarde, mas não importava. Caminhou lentamente apreciando a vista do mar até chegar exatamente onde estava algumas horas antes, mas agora ele estava em baixo. Infelizmente, ele não podia passar, pois naquele local o mar se encontrava com o penhasco, e ali onde deveria ser a areia seca da praia a água se encontrava com rochas pontiagudas. Seria feia uma queda lá de cima... enfim. Como o sol já estava perto de se pôr, Thomas decidiu que já era hora de voltar para casa, mas algo entre as pedras o chamou atenção. Alguma coisa se agitava na água furiosamente tentando se libertar, mas não conseguia. Como um bom homem, Thomas foi tentar ajudar, mas ele só não sabia que quem estava em apuros era a linda Winnie. E ele também não sabia que o seu jeitinho meigo o ensinaria novamente a amar.
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Winnie
Short StoryTalvez, uma sinopse seja algo desnecessário. Talvez seja melhor para quem lê que os fatos da história sejam revelados aos poucos. Mas para não fugir do que é considerado "normal", digamos apenas que a nossa pequena história gira em torno de um amor...