A esquadra da polícia e o segundo ataque

90 17 0
                                    

- Já alguma vez te irritaram tanto ao ponto de quereres estourar os dentes da pessoa? - Repete Denis pela terceira ou quarta vez.

- Ele ajudou-nos, não foi? Então vamos continuar e não refiles, Denis Stinson.

A verdade é que, depois de tantos defeitos apontados, tantas coisas ditas por aquele que viemos a descobrir chamar-se Brad Johnson, ele ajudou-nos a sair da escola da maneira mais segura possível no meio de tanta insegurança. A oeste do pavilhão C havia outra porta à qual Brad teria a chave. Segundo ele, ao entregar-nos a chave para quando regressarmos entrarmos por ali também, ele estava a depositar toda a sua confiança em nós e só o tivera feito porque éramos os únicos que - para além de sermos burros, como ele nos chamava - tivemos coragem suficiente para enfrentar um mundo em pantanas.

Denis é o tipico rapaz que não suporta abusos de poder ou insultos, e ele controlou-se bastante no que se tratou ao professor desesperado por soltar a sua raiva de estar a viver no meio da morte.

É impossivel não estar aqui, perto deste rapaz completamente apaixonante, sem olhar para ele. É impossivel não me querer agarrar a ele e deixar todo o meu medo escapar enquanto o abraço. Porque tudo o que quero é sentir-me nos seus braços. Mas isso é algo completamente obsceno na minha cabeça porque ele é ele, e eu sou eu. Somos pessoas com semelhanças embora completamente opostas. Denis tem algo nele que fascina qualquer pessoa que não queira ser fascinada por uma essencia, e eu... eu apenas sou vazia, sem algo encantador. Sou uma pessoa banal.

Poderia classificá-lo neste instante. Poderia classificá-lo como um dez na minha vida. Um dez diferente de todos os outros que já passaram. Foram poucos mas já existiram, porém sei que podem existir vários na vida de todos. De certeza que ele já teve alguém a quem confiou o seu dez, a sua vida, a sua felicidade. Não é dificil achar que ele já o tenha feito. Ele é bonito, é a pessoa que pode ter tudo sem esforço. É inteligente embora imaturo por vezes, é divertido e é preciso ter carisma para isso. Mas, com todos os defeitos ou qualidades, ele é o meu dez.

As nossas relações interpessoais são constituidas por algoritmos. Algumas pessoas valem apenas um um, mesmo que já tenham tido mais valor. Essas são aquelas que apareceram e foram embora mais depressa que um raio a iluminar o céu.

Depois temos aquelas pessoas que começam a aumentar na tua vida. Que se tornaram mais do que o que pensavas que um dia elas seriam, mas não é o suficiente porque elas valem um cinco e um cinco nunca é suficiente para se ser suficiente.

Mas em todas as vidas, até há morte existe um valor superior que, somado com todos os outros te surpreende. Um valor que não é só um valor. É a tua felicidade, o teu sorriso, o teu respirar. É o teu exagero da realidade porque nunca esperaste que algum dia isso fosse acontecer. Essa pessoa é o teu dez, o teu mil, o teu último valor na escala e o rebentar dela.

Essa é a pessoa que te faz acreditar em tudo aquilo que um dia te disseram ser impossivel; essa é aquela pessoa que mesmo nos dias maus ela está lá, contigo. Um dez. Ela é o amor que sempre quiseste ter no segredo da noite; das noites onde choravas por ausência.

Por isso, dá-lhe valor. Faz-lhe acreditar que ela não é só um numero e não está apenas lá para ocupar um espaço na tua lista. Porque para ti podem existir muitos "dez" até ao fim, só que apenas um será valioso até ao fim dos teus dias.

Continuamos num caminho, cautelosos e receosos. Ele estava preocupado e eu sei o porquê. Denis começava a olhar para cima como se estivesse à procura de algo. Quando reparo no sitio onde nos encontramos, volto a ter a noção de o porquê das reações silenciosas e preocupadas dele.

- Denis? - Chamo. Ele olha para mim e mantém-se calado. - Vai lá. Espero por ti aqui em baixo. - Digo, apontando com o queixo para o prédio ao nosso lado. O prédio dele.

Vírus 666Onde histórias criam vida. Descubra agora