Denis
As lágrimas escorrem-lhe pela cara enquanto caminha em frente a nós e limpa as lágrimas discretamente para que não entendêssemos o quão devastada está. Joanne sempre deu a entender que era uma pessoa frágil. Provavelmente a pessoa mais frágil que algum dia eu pude conhecer, mas em contra partida nunca quis que eu entendesse isso. Ou que alguém o entendesse.
- Joanne, esta é a lei da sobrevivência. Fizeste a coisa certa. Ele queria matar-te. - Simon aproxima-se dela, e puxa-a para ele num abraço.
Aquele deveria ser eu e ela deveria de estar nos meus braços. Deveria ser eu a dar-lhe o apoio que ela sempre me deu, dizer-lhe que estou aqui e que tenho orgulho dela, como ela sempre me disse. Mas eu não tenho coragem porque ela consegue ser muito mais que eu. Ela tem carácter e características apaixonantes que tanto podem levar alguém à loucura, como estabilizar alguém num momento de tristeza.
- Ninguém merece morrer, mesmo fazendo o que ele fez. Ninguém. Cada vida é preciosa, e talvez ele tenha razão. Não sou ninguém para estar aqui a mandarem fazer isto ou aquilo. Apenas tenho perspectivas e em sequer sei se são as corretas. Eu tenho dezassete anos e isto é o fim do mundo.
- Então, estás a dizer que lá por teres essa idade não podes lutar para viver? Por amor de Deus se não fosses tu a ganhar tomates para ires buscar as nossas defesas, nós não estaríamos aqui.
- Joanne... - Engulo em seco com vergonha do que estou prestes a dizer. Não tenho palavras. - ... Tu salvaste-me e eu... bem, eu tive hipótese de o fazer contigo e não consegui. Não fiques assim por um filho da puta que não merecia viver de alguma maneira.
Joanne
Eu matei-o. Depois de tantos meses a revirar os olhos e a repetir a ladainha "eu quero matá-lo", eu fiz isso na realidade. Claro que de cada vez que o dizia era sempre da boca para fora. Era sempre algo inconcretizável e que nunca o iria fazer (pensava eu). Tenho remorsos porque eu não sou como ele que na primeira oportunidade que teve desejou poder matar aqueles que estão vivos e imortalizar a praga.
- Obrigado. - É a única palavra que me sai. - Podes verificar a rede no telemóvel? - Volta a virar-me para a frente.
Por nós passa Patricia no carro. Ela faz-me um sinal com o polegar e solta um sorriso.
- Sem sinal.
- Merda. - Murmuro. - Vamos rápido até à farmácia. Conseguem correr até lá?
- Podemos tentar. - Num lance, Simon suspende a sua shotgun pela alça no ombro e começa a correr. Denis e eu fizemos o mesmo. - Não é muito longe daqui.
[...]
- Aqui, Joanne! Estamos aqui! - Ouço a voz de Tris de longe quando já nos encontravamos na rua da farmácia. - O Mason está a sangrar.
- O que aconteceu? - Desço a rua a correr, prestes a ficar sem fôlego.
- Não sei. - Ela estava desesperada. - Nós estávamos a caminhar e a brincar uns com os outros, como o habitual, e de repente um homem veio. Nós não nos apercebemos de nada sequer! Apenas sei que ele puxou o Mason e o mordeu no braço. O Robert empurrou-o e o homem parecia desfazer-se. Nós começamos a correr e metemo-nos aqui. A porta estava aberta, mas isto estava vazio.
- Oh, merda. - Cerro os olhos. Algumas lágrimas cairam e isto só me fez ver que tudo o que Paul disse era verdade. Eu não sou corajosa.
Entro na farmácia. Ao olhar para o lado vejo Mason no chão, lavado em sangue, com um pano atado ao braço.
- Ele está com febre e parece estar a ter alucinações. Ele não para de dizer o nome das pessoas da turma, todos.
- JOANNE! - Ele grita, porém não com a energia e felicidade que lhe era caracteristica. Meu Deus. Ponho as mãos na cabeça e só me apetece debruçar sobre mim própria e acordar deste pesadelo. Mas isto não é um pesadelo, é a vida real. - Estou a morrer, Joanne. - Quando me baixo para ele, Mason puxa-me e diz-me fraco ao ouvido.
- Não! Vamos salvar-te!
- O QUE SE ESTÁ A PASSAR!? - Grita, entre lágrimas, Robert. - O QUE ESTA MERDA LÁ FORA? O QUE É ISTO TUDO?
Meu querido, isto tudo foi o que reservaram para nós. Não é a ficção, é a vida real. Não é uma simples mordida, é a morte. Tudo isto é a morte e nós estamos a ver um do nosso grupo de amigos morrer na nossa frente. Bem em frente aos nossos olhos, enquanto nós continuamos de mãos atadas.
- Eu estou a morrer, Joanne. Isto está a matar-me. Quase não consigo respirar. - Ele pestaneja sem forças.
A sua testa estava vermelha, as maças do rosto também. Ele suspendia o braço magoado sobre a sua perna e com a outra mão agarrava-me com força.
- Diz-lhe que a amo. - Sussurrou no meu ouvido. - E eu vou vê-los lá de cima. Aos dois. E a vocês.
- Aos dois?
Mason encosta a cabeça à parede e sorri. Fecha os olhos e após segundos de reflexão, ele responde: - A Jenna está grávida.
- Shiu... - Fecho os olhos de novo. Estava chocada com aquilo que ele me tinha dito, aliás eles são novos demais para isto, mas nem é isso que está em questão. É a vida dele. Encosto a cabeça dele no meu peito e digo: - Tu vais ficar bem. Nós vamos conseguir.
Mason está com febre. Digo a Tris para procurar algo para a febre e trazer um copo de água. Ela fez isso rápido enquanto Robert tenta estancar o sangue. Mas sabemos que estamos longe de o conseguir salvar. O olhar de Simon diz tudo quando pelo canto do olho ele me observa, agoniado.
- Joanne. Anda cá. - Ao puxar-me para si, ele diz. Abana a cabeça e eu já sei o que viria em seguida. - É isto que acontece. Foi o que aconteceu com o Paul. Dois em menos de uma hora. - Simon parece dizer sem qualquer tipo de sentimento à mistura. - E não vai ser o último. Isto é o começo.
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Vírus 666
Science FictionUm vírus aterrorizou o mundo inteiro. Isto deixou de ser ficção. Um vírus está a matar o mundo e apenas os fortes conseguem sobreviver ao terror instalado por toda a parte.