Boa sorte (Parte I)

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Quando estamos entre a vida é a morte, há um conjunto de fatores, de pessoas que nos passam pela mente. Denis passou pela minha mente no exato momento em que me vi entre a espada e a parede.
Gostaria de ter sido alguém que tivesse feito a diferença num mundo indiferente quanto este. Gostaria de ter sido útil pelo menos um dia, já que estamos no fim dos dias. Mas não consegui. Bem em frente aos meus olhos está a morte.
Ele está bem aqui. Ergo os braços para o afastar só que ele está perto. Bem perto do meu pescoço.

Não culpo o Denis por não conseguir fazer nada ou por estar ali parado sem qualquer tipo de reação. Não o culpo por segundos desprediçados. Eu só não o consigo culpar por nada disto que está a acontecer, mas consigo fazê-lo com o passado. Denis é culpado de algo. Ele é culpado de eu me ter apaixonado por ele, mesmo quando eu julgava já não ter a capacidade de amar. E, se neste exato momento me perguntassem quem teria sido o amor da minha vida, eu responderia sem hesitar, uma vez que estou em frente à morte. Responderia sem hesitar que ele foi o amor da minha vida.

- Abaixa a cabeça, rapariga. - Um grito de uma voz rouca sobrepõe-se.

Agarro-me a mim própria, deixando a arma cair. Num reflexo abaixo-me, fecho os olhos. Um tiro rompeu com o barulho insurdecedor do zombie que me agarrava os pés. Sangue saltou para a minha cara e para o meu corpo. Respiro mais calmamente, aliviada. 

- Pronto, rapariga. - Uma mão forte desfaz o abraço que dou a mim própria, arrastando-me. 

Abro lentamente os olhos e tudo o que vejo é o pequeno foco da lanterna. Reparo que já não estou por baixo da mesa. Ergo a cabeça e bem em frente a mim está um homem de, sensivelmente, trinta anos, com barba curta. Ele dá um sorriso e estica a mão para me ajudar a levantar. 

- Ias morrendo. - Afirma, colocando uma expressão autoritária. 

- Sim, eu ia. Mas não morri. Obrigado por me teres salvo. - Engulo em seco, ainda atrapalhada. 

- O que é que vocês fazem aqui? - Questiona olhando para mim e em seguida para Denis. 

Tal como ele olho para trás, pelo ombro, para o rapaz que estava em choque. Mal respirava e eu posso dizê-lo pelo rosto quase roxo com que estava. 

- Estávamos à procura de defesa. A nossa escola está cercada.

- Hum... - O homem acaricia o queixo e encara-me, sério. Estica o braço e puxa um fio. Logo aquele espaço foi preenchido por luz. - Quantos anos é que vocês têm mesmo?

- 17. Quase 18. E ele... 15.

- Muito novos para pegar em armas, não acham?

- Claro. Mas também somos muito novos para morrer e ver quem gostamos, morrer. E com este caos lá fora, é difícil.

Calamo-nos por segundos que mais pareciam minutos. O homem tentava ponderar algo. Avaliava-nos, sem muito a acrescentar.

- Podes levar algumas armas, mas não todas. Tambem preciso de defesas para mim. - Acaba por dizer.

- Estás sozinho? - Pergunta Denis, avançando um passo e ficando perto de mim.

- Até agora, estou sim. Quando estiver pronto vou à procura da minha família. Os meus pais, a minha namorada. - Explica. - Ela está grávida. - Sorri. - Espero que ela esteja bem.

- Ela vai estar. - Retribui o sorriso de orgulho.

É tão bonito poder imaginar um futuro. Uma família e felicidade. Logo eu que passo tempos infinitos a fazer isso e a imaginar como será quando eu tiver alguém, um marido e filhos.

- Bem, vocês podem levar aquelas pistolas e as shoguns. - Aponta para a mesa onde eu estava escondida. Ao todo teria umas dez armas. - Vocês tiveram bastante coragem em vir aqui.

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