Confia em mim

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Eu sei que vocês querem me metralhar e jogar granadas em mim. Mas juro que estou tentando postar o quanto antes.

- Como assim " me demito" ?. - pergunto completamente chocada.

Se eu soubesse que alguns simples relatórios fossem me causar tantos problemas, nunca teria os pegado.

- Amiga eu vou embora, preciso esfriar a cabeça. Mas tarde a gente se fala. - diz ela pegando sua bolsa e saindo porta a fora, sem se quer me deixar falar alguma coisa.

Continuo parada em frente a porta, quando vejo um Marcelo completamente vermelho, com um olhar irritado direcionado a mim.

- O que você fez ? - grito para ele.

- Eu não fiz nada, ela que tomou essa decisão sozinha. - diz ele, passando as mãos pelo cabelo, em um sinal óbvio de nervosismo.

- Por que você pegou a pasta Ariel ? - dessa vez não vejo vestígio de raiva em sua voz, apenas cansaço e desânimo.

- Porque eu queria participar, e para isso precisava saber mais sobre a quadrilha.

- Tudo bem.

Isso só poderia acontecer num mundo paralelo, Marcelo estava aceitando facilmente que eu particasse de uma operação como essa, sem gritos e broncas ?

Olho para ele, tentando de alguma forma captar algum resquício de mentira, mas não tenho sucesso. Então saio da sala, indo até a cozinha pego um copo encho-o de água e volto para a sala, entregando-o para o homem abatido em minha frente.

Enquanto uma mão segura o copo, eu puxo a outra arrastando-o para o sofá. Então ele senta bebê toda a água em poucos goles e coloca em cima da mesinha.

Volta a se encostar no sofá, mas jogando sua cabeça para trás e solta um longo suspiro. Quando volta seu olhar para mim, e com uma mão me incentiva a falar.

Sempre me surpreendi como esse talento do Marcelo, ele consegui desifrar um sentimento apenas por olhar seu rosto ou seu olhar. E isso sempre foi um grande aliado na sua profissão, porque facilmente ele conseguia descobrir se um suspeito estava ou não mentindo.

- Eu sei que você não concorda, com o fato de que quero ser policial. Mas é meu sonho e você não pode me impedir de segui-lo. O que eu ti peço é apenas uma oportunidade.

Os segundos que ele passa me olhando de lado, sinto que são os segundos mais demorados e tensos de toda a minha vida. Porque apesar dele não poder me impedir de seguir meu sonho, ele pode facilmente fazer com que nenhuma delegacia do país me de assistência ou um caso desse porte.

- Ariel, isso não envolve apenas a mim, esses caras são da pesada, não posso ser inconsequente e simplesmente colocar uma garota que não sabe nem segurar uma arma, como infiltrada. Você tem que entender que essa é nossa única oportunidade e não posso desperdiça-lá. Eu seria deposto do meu cargo de delegado se meus superiores soubessem, que quero te ajudar com isso.

Suas palavras, definitivamente acabam com qualquer esperança que eu poderia ter a esse caso. Mas apesar de estar triste e ter meus planos frustrados, não posso culpa-lo. Ele quer arriscar seu cargo com ideia que não se sabe se daria certo.

Engulo o nò que se forma na minha garganta, enchugo as lágrimas que não tinha percebido até então, e tento dar lhe um sorriso. Mas sem sucesso.

Ele se levanta e caminha até a porta em completo silêncio, me fazendo pensar se ele voltaria a falar comigo ou se permaneceria nessa indiferença.

Então quando já está com a mão na maçaneta da porta, ele para e sem olhar para mim diz.

- Eu sei que vou me arrepender disso. Mas esteja amanhã na porta da delegacia, para irmos ao treinamento. Afinal, você não pode ser uma infiltrada sem saber lutar.

E dito isso ele sai porta afora, me deixando com uma completa confusão na cabeça e um corpo paralisado.

Eu não sabia se ria ou se chorava, se pulava ou dançava, se gritava ou continuava calada.

Então quando consegui entender que finalmente, conseguiria realizar meu sonho e ainda ser reconhecida. Fiz a primeira coisa que qualquer pessoa faria no meu lugar.

Corri aos tropeços até a cozinha, abri a geladeira e tirei um de prato chocolate e comi, com o dedo mesmo, porque não estou me importando do jeito que vou comer pois estou muito feliz para isso.

Enquanto comia, liguei o radio e dancei todas as músicas que tocavam, e cantava algumas vezes. E sem nenhum momento me importar com o que os vizinhos viriam a fazer.

Tive vontade de ligar para meus pais, e lhes contar a grande novidade. Mas pelo que eu os conheço, seria mais provável que eu ouvisse choros, do que risadas do outro lado da linha.

Assim que estava começando a assimilar tudo, fui tomar um banho para relaxar, porque apesar do dia ter tido um bom fim, foi conturbado.

E isso me faz lembrar da Mary completamente nervosa e desorientada que saiu da minha casa. Mas duvido que no momento eu seja a pessoa correta para se falar, não saberia como ajudá-la.

Então como mais chocolate e vou para a cama, mas não antes de passar umas boas meia hora escolhendo com que roupa seria mais adequada para vestir.

Como não sei a que tipo de treinamento seria submetida, opto por uma calça preta básica e uma regata azul.

Assim que deito na cama, minhas cobertas e meus travesseiros me lembram do quanto estou fisicamente e psicologicamente cansada.

Então repasso todo meu dia, e constato que ele não poderia ter sido mais agitado. Então antes de cair em um sono cansado e merecedor, me pego pensando em um certo homem desenhado em um retrato, que provavelmente seria um assassino sangüinário, mas que eu estava completamente curiosa para conhecer e se possível prende-lo o mais rápido possível.

 A InfiltradaOnde histórias criam vida. Descubra agora